domingo, 22 de junho de 2008

Irronpemdo pela greve...

Olá!
Ao contrário de muitos companheiros tive a boa sorte de permanecer no lar doce lar durante o desencadear da greve dos camionistas lusos e espanhóis. Mas fiquei porque cheguei na sexta com descarga para quarta aqui nas redondezas e só não troquei de galera para por o Virgolino a galope na segunda-feira pois já havia imensos colegas na fronteira fruto do impasse e incerteza que se vive do outro lado em terras de “nuestros hermanos”.
Tive sorte pois claro, nas na quinta quando arranquei ainda havia muitos indecisos na fronteira apesar da Guarda Civil declarar sem grande convicção que era seguro circular. Contudo na realidade continuavam a chegar camiões marcados por testemunhos de violentas guerras territoriais e espaciais…vidros partidos em difíceis e imprecisos puzzles, cabines amolgadas, rodas furadas e ópticas destrinçadas, enfim, vestígios de uma dura cruzada por entre as orles inimigas. Quando por ali parei o Virgolino reinava um clima de receio e suspeição, a pele arrepiava-se em pequenos vulcões prontos a espirrar para fora a sua fúria e o estômago encolhia-se aflitivamente. Não é fácil quando assim é mas os patrões a pressionarem que tem de andar e não podem ficar parados, por vezes com ameaças ferozes, uma marcha de pressões de quem não vive o perigo de perto, mas o motorista não interessa, há muitos e baratos e os seguros pagam os danos nos carros. Tudo o que menos interessa é o ser humano! Aliás devido a isso e dando mais valor à vida que a uma carga que neste contexto interessa é ser descarregada com segurança alguns abandonaram a profissão…e de facto acho que eu faria o mesmo porque gosto de viver, trabalhar também mas com segurança e condições. Não me cabe na massa cefálica que alguém com respeito pela vida humana e com indicações precisas dos movimentos e tácticas no terreno possa mandar avançar alguém para os dentes afiados da violência. Sinceramente não compreendo ou melhor até compreendo, os carros parados não dão lucro mas nós não somos os culpados pela situação para pôr-mos a vida em risco e decerto os clientes não podem quebrar pelos atrasos perante um panorama destes. Tive sorte só isso porque estava em casa e se me mandassem para lá era mais um soldado desarmado que ali ficava esperando até haver condições para desbravar montes e vales com o Virgolino. Tive sorte…repito.
Arranquei então para Madrid na quinta já o pior tinha passado, parando mal se começou a avizinhar a noite confidente da escuridão e do medo devido a noticias que havia camiões a serem selvaticamente incendiados em Madrid. Correu bem, não dei por nada e logo fui carregar para Gent. Mais 24 toneladas na albarda do Virgolino, que esfrega! Par lá a viagem correu bem, com fim-de-semana pelo meio em Barbezieux. Que desilusão passear pelas ruas desertas de uma típica vila francesa. Valeu um bailarico à noite no adro da majestática Igreja, porém muito aquém dos típicos bailaricos com sardinha assada e vinho do nosso Portugal.
Na segunda lá fui para Paris para descarregar na terça em Gent. Descarreguei, carreguei e voltei para Paris onde pernoitei, acontecendo pela matina o inesperado. Tinha um pneu vazio. Já mudei muitos pneus de carros mas de camião foi o primeiro e tal como todas as primeiras vezes foi bem mais complicado. Suei, dobrei ferros, e só depois de três horas e com a ajuda de dois colegas consegui completar o trabalho.
Posto isto, arranquei em grande mecha para Burgos. Mais uma vez às 7 da tarde foi difícil arranjar um buraco para estacionar na Nacional 10, só depois de algumas voltas arranjei um buraco na berma da estrada. Se não for feito algo rapidamente para melhorar isto qualquer dia temos que ficar a dormir na berma da estrada porque não há parques. Será que os responsáveis não vêm isso?
Uma coisa me consolou durante a viagem: o verde e o perfume suave do feno nos grandes campos franceses, que sensação deliciosa. E outra coisa, como as cargas se atrasaram até nos trataram melhor nas cargas e descargas, ou seja, com o respeito que merecemos; meras coincidências ou simples necessidade….ehehehheh
Tudo de bom

segunda-feira, 9 de junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Cruzando os belos Alpes franceses

Vivam!
Voltei, desta vez com um curto espaço temporal: seis dias de viagem. Isto sucedeu-se uma vez que o destino de pequenos frascos de vidro e esguias e requintadas garrafas foi uma pequena aldeia dos Alpes franceses bem perto da fronteira italiana e não muito distante da Suíça.
Talvez, ou melhor, com definida certeza posso afirmar que das viagens que já fiz foi aquela que me regalou mais os olhos fruto de verdadeiras pérolas esculpidas pela mãe prodígio e jóias erguidas pelo Homem em plenos Alpes franceses. Foi uma sucessão de películas de vertiginosas e aguçadas montanhas, vales apertados, largos vales, cobridos com uma espessa e despegada vegetação verde aqui e ali riscada com manchas amareladas, laranja, castanha…enfim, uma beleza. Esparsas eram as áreas de solo desprovido e rocha mãe.
As aldeias, também elas, marcam o preservar do original e genuíno através dos tempos. Casas escoradas em vertentes declivosas, de pedra amarelada com telhados cinzentões não destoando porém com a natureza prodigiosa, finamente esculpida como o corpo de uma bela mulher. Janelas largueironas e jardins de todos os tons ladeando as construções.
As gentes, pois, falta falar das gentes que por aí fazem vida. Completamente diferentes, são acolhedoras e deixam libertar um sorriso acolhedor de boas vindas. Até encontrei lá uma francesa casada com um português a trabalhar no armazém de mel onde deixei a carga que me fez andar às voltas e voltas por estradas inclinadas ao sabor das montanhas e dos vales. Nunca o Virgolino ficara tão quentinho…puxa já suava e tudo. Mas cheguei a passo lento lentinho e isso é que interessa para a questão. Quando irrompi pela aldeia dentro foi bonito ver as pessoas a olhar descaradamente para o Virgolino e quando assim é algo se passa… e passou que me vi e desejei para lá dar a volta, tanto assim que ainda trouxe uns ramos de arvores a enfeitar o Virgolino até Marselha, uma pequena e cheia de graça recordação.
Vou fazermos uma revelação e primeira mão, talvez tenha sido a prenda pelos meus TRINTA anos em cima de solo terráqueo, é uma verdade irredutível fiz 30 anos dia três de Junho. Ainda nem acredito mas já tenho trinta anos, já é um pedaço de vida com muitas histórias, peripécias, tristezas, alegrias enfim vários momentos…sabem que na infância me chamavam Tom Saywer, não só pelas semelhanças na melena farta e cara arredondada, mas também pelas aventuras…sempre fui um tipo aventureiro. E não é que desde à uns tempos até esta parte toda a gente me pergunta quando trato da vida, ou seja, quando formo um lar, eheheheh. È que para as gentes aqui da província com esta idade já devia era ter crias em meu redor e uma companhia para me aquecer os pés (essa parte até dava jeito). Mas a vida é assim, ainda não aconteceu, talvez porque não tenha encontrado o testo para a minha panela… mas não me ralo, eheheheheh, qualquer dia ponho um anúncio no jornal, eheheheheheheh.
Continuando…depois de por ali desalbardar o Virgolino caminhei rumo a Viviez, região igualmente montanhosa e de belas aldeias, aliás como as aldeias que cruzei seguindo a nacional 124 de Toulose a Bordeus. Posso afirmar com absoluta claridade que são verdadeiras aldeias jardim. Cada casa, cada rua ou ruela tem frondosos e multicolores jardins, uma mistura de tons rubros, castanhos, amarelos e verdes. Belissimo é a palavra para caracterizar esses miúdos e frondosos povoados. Tudo tão limpinho que nem as folhas se ajuntam em pequenos amontoados.
A caminho de Viviez, numa área de serviço, ainda encontrei três portugueses a visitar esta zona, três marmanjos com ar de 30 anos.
Na volta entrei por Vigo pela primeira vez, e não me desiludi. A Espanha assim como Portugal é um país marcado pelo contraste físico, um festival de paisagens tão diferentes quão belas.
E fico-me por aqui manifestando também o meu descontentamento para com os indignos e vergonhosos preços dos combustíveis.
Disso falarei mais adiante…
Abraço