sábado, 31 de maio de 2008

Ao entrar em Portugal

Sabem, nunca pensei vir a ter tantas saudades de Portugal, mas confesso que verdadeiramente sinto apertadas saudadas deste cantinho de terra à beira mar plantado, país de poetas e escritores, de alegria e melancolia,..., é o nosso Portugal. Posso dizer que na verdade esse sentimento de Amor cresceu como uma avalanche desde que ando a rodar pelas estradas europeias, não sei, talvez a distância tenho desplutado em mim esta sensação única e insólita que é a saudade, palavra nobre e tão somente portuguesa que mais nenhum bocado de terra cerrado com fronteiras geo-políticas a que chamamos países tem. Somos os únicos tal como somos os únicos e genuínos nesta estranha forma de ser: tão depressa somos abraçados por uma excitante alegria como rapidamente se apodera de nós um mega-estático estado de melancolia sombria. Vamos ao sabor das modas que os ventos carregam para estas paragens mas somos autonomos e próprios nesta forma de manifestar os sentimentos. Enfim, talvez tenha sido a saudade a catarse para criar e manter vivo este blog.
Já me perguntaram se não tenho saudades das aulas. Eu respondo que não e todos ficam boqueabertos. Não raras vezes relembro alguns momentos mas nada que eu possa designar por saudades. É certo tive boas turmas com que mantive uma excelente relação e não os esqueço, mas o sistema e a forma como está implantado afasta de mim e para longínquas paragens a saudade.
Ainda ontem vinha a ouvir as noticias que vão aumentar o número de vagas dos cursos tecnologicos e profissionais; até ai tudo muito bem, concordo em pleno e aplaudo. Mas espero que isso não seja sinónimo de marimbar do estado para com as suas responsabilidades de formação superior dos cidadãos nacionais. O que quero dizer é que desta forma se pretendem diminuir o número de licenciados e por conseguinte licenciados desempregados, ou seja uma questão de estatística, porque infelizmente é disto que vivem os governos na busca do fundo e recheado tacho. Até se compreende, é que por vezes um técnico usufrui um ordenado igual ou superior a um engenheiro, e tem preferência na selecção e recrutamento. Mas espero é que ao apostar-se nos cursos profissionais não se esteja a apostar em simultâneo no facilitismo e não se estejam a criar técnicos para áreas menos necessárias. Também espero que no futuro os técnicos vejam o seu trabalho recompensado com um vencimento compatível e não com míseros e famintos ordenados que se registam nalgumas regiões do país.
Por outro lado está-se a tentar reduzir o número de licenciados e reduzir a massa crítica do país, porque segundo se sabe Portugal não tem licenciados a mais, tem é técnicos a menos e infraestruturas desadequadas para responder às necessidades dos seus licenciados, porque um professor, por exemplo, pode fazer infindas e multifacetadas funções, como se faz em muitos outros países.
Mas tudo isto para vos dizer que quando entrei em Portugal com destino a Alhos -Vedros senti uma notória dissemelhança. Bem a paisagem por Badajoz é magnífica, o verde, os penhascos, as colinas arredondadas, os grandes latifundios...mas quando se entra em Portugal sente-se a diferença, as estradas ruins, a insuficiência de sinalização, a intolerânia dos condutores...tanto é assim que em Lisboa quando entramos num cruzamento ou arrancamos num sinal começam logo às buzinadelas, será que não compreendem que não ultrapassamos os 90 km\h e são veículos muitos lentos no arranque, não há paciência! Enfim...cromos de cabeça de aço ...
POrque é que quase ninguém faz o pisca quando se retoma a via, alguém me consegue explicar!?
POis eu consigo: falta de civismo, tão puro quanto a água é transparente e o ouro de tons amarelados e brilhantes.
Este é o nosso Portugal, e não é deste Portugal que tenho saudades, é do Portugal que desejo melhor...

Fim-de-semana no Luxemburgo com os amigos de infância...relembrar de velhos e saudosos tempos




























sexta-feira, 30 de maio de 2008

Dá-me para isto, mais um presente para vocês

A fala do mar

Se o mar falasse
Ninguém sabe que palavras diria
Melosas ou amargosas
Ou dos dois géneros falaria
Mas não fala,
Ouve os lamurios de toda a gente
Tormentos, confidências, anseios
E nada diz
Mas engole e para longe leva tudo
É o amor que vai, e a dor que vem
Num constante de vaivém
É dor que vai, o amor que vem
Escuta e fica assim: mudo.
Não tem voz que se entende
Mas ulula gritos graves
É essa a sua insólita voz
Afinal tem fala, o mar
E fala sussurrando para nós!

Psicologia barata

Bom dia gente, estão bem?
Eu cá vou indo como a vida assim permite. Nesta ocasião estou em Liége, numa área logística, ou seja de armazenagem e distribuição de mercadorias. Ontem descarreguei numa falada marca automóvel em Genk, aqui nas proximidades. Pois bem, andei meio-dia para descarregar até, finalmente, contactar o tráfego para informar que estava vazio. Como tal, recebi ordens para carregar no mesmo sítio contentores vazios, mas…atenção que como a carga não enche por completo a galera é necessário ir fazer grupagem com mais uma carga. Até então, tudo dentro dos conformes, não fosse a pressa desenfreada do senhor do tráfego em fazer-me chegar ao cliente – a uma distância de 40 km – sabendo de antemão que aquela só estaria pronta na sexta, era então quarta-feira. Eu ainda aventei que precisava de comprar a vinheta pois só a tinha tirado para terça e quarta, os dias que a priori iria passar na Bélgica. Não, nem pensar, vá já para o cliente rapidamente, deixe a vinheta agora (a vinheta é necessária para circular nas auto-estradas da Benelux e a falta da mesma incorre num auto de cerca de 400 euros, quando esta fica por 8 euros por dia), despache-se, adiantou sem que lhe faltasse o ar. Ok, roda no ar e lá venho eu com o Virgolino a galope de esporas. Chego por volta das 16 horas e já estava fechado, fritei umas febras, dormi, sonhei… levantei-me às 6 horas e sem demoras desloquei-me para o cliente, onde junto do mesmo e da voz do meu patrão ouvi as seguintes palavras: “quem lhe deu a carga, eu tinha-os avisado que essa carga era só para sexta.” Portanto, estão a ver o filme, uma longa-metragem de espera. Mas porque não disseram logo? Qual o prazer de mandarem assim as pessoas com tanta pressa quando afinal até já eram conhecedores da hora e dia da carga. Penso que só por desprezo pelos motoristas, a peça mais barata de um camião. Os meus colegas dizem que é uma forma de picarem, mas digo-vos se essa é uma forma de motivação barata comigo não dá resultado porque para trabalhar não preciso de ser picado, preciso somente de boa disposição.
Mas sabem a minha sorte, mesmo ao lado do cliente é a base da Douane (Fiscal) Belga, e nestes aposentos vende-se a vinheta.
Entretanto tive a companhia de um típico português de cara arredondada, barba cerrada e visível protuberância no bucho, entre tantos outros, a residir e trabalhar no Luxemburgo. Conversa do costume e ninho que se faz tarde. Toca a deitar as bochechas rubras do quentinho na caminha.
È verdade já me esquecia de vos informar em primeira mão que também estou a ficar com uma saliência na barriguinha, pois, tenho que começar a ter cuidado com o repasto, eu sei.
Enquanto estive a escrever este texto adormeci com as cortinas abertas e tive um sonho erótico. Daqueles em que se experimentam todas as posições de fazer amor. Vá-se lá saber se enquanto tal não estive para aqui a roçar-me em cima da cama e as pessoas a passarem aqui à frente a contemplarem o espectáculo gratuito. Mas também não me arrelio, pois como já vos disse isto fez-me muito bem, perdi todos os complexos e vergonha. Dizem que a tropa faz um homem, mas penso que aqui se fazem mais homens ainda.
Agora estou para aqui com a cabeça às voltas com a caixa pensante a congeminar no segredo dos deuses no jantar, que tal vitela estufada com massa, são servidos? Vou ver disso.
Adeus

A Bélgica dá-me inspiração

À noite

À noite olho o céu
Numa atitude de contemplação
Plantadas e cintilantes lá estão
As incendiadas estrelas

São uma longínqua companhia
Quando deito os olhos pela janela
E tantas que são
Se nomes tivessem
Podiam ser Maria ou João

Morre a noite
Sorrateiro nasce o dia
Mas onde estão?
Morreram, não!

Sei que para outro mundo não foram
Logo à noite voltam
São a minha companhia
Não as vejo
Mas decerto lá estão

sábado, 17 de maio de 2008

Fim-de-semana com o macaco do amor



Boa tarde!
Desta vez calhou-me um fim-de-semana com o verdadeiro às do amor, mais conhecido entre as orles camionistas como o Macaco do Amor, tal é a sua comprovada experiência nos quentes e arguciosos actos de engate, enfim um inatingível mestre.
Mas começamos pelo inicio. Na terça-feira pela manhã agarrei no Virgolino e botei-o virado para Braga, onde me esperava uma descarga de barras de ferro. Mal lá cheguei foi o fim do mundo pois chamara-me um louco tal a forma como a carga ia acondicionada, ferro assente sobre ferro. Normalmente devia apoiar pelo menos sobre barrotes de madeira para o impedir de escorregar como sola sobre sabão, mas isso não faz parte do material acompanhante do Virgolino.
Pronto, lá me descarregaram depois de ter perdido uns cinco minutos para realizar a manobra de abordagem ao armazém com ferro por todo lado e com a minha grande experiência, eheheheheh.
Posto isto, virei para ali perto para carregar material inicialmente previsto para as dez horas mas eram duas da manha quando encostei ao cais e cinco quando retirei o reboque. Pois, isto não devia ser assim, mas que remédio para quem quer trabalhar…não há volta a dar.
Quinta-feira descarreguei em Zaragoça à noite e toca a deitar a fronha para restabelecer forças para levantar uma carga no dia seguinte.
Entretanto a viajem até Zaragoça foi o reencontrar do meu amigo Verdinho que vinha acompanhado pela sua esposa para mais uma volta pelas faixas negras europeias. Falamos novamente de tudo e mais alguma coisa, desde literatura, agricultura, sexo, mulheres, carros…menos futebol, ehehehehh. Enfim, tudo para espantar o sono que se avizinhava dolorosamente por estes lados.
Em Zaragoça não foi fácil. Cheguei às dez e meia para carregar e eram quase oito da tarde quando saí dali, já com os nervos à flor da pele. E vou contar-vos outra: por volta das duas abeirou-se uma senhora do escritório do meu camião – pestanejava eu em cima do volante – e, com muita simpatia, disse-me para meter o Virgolino dentro do lugar da carga para assim mo albardarem. Tudo bem não fosse eu estar lá dentro e chegar um mal-encarado que se me dirigiu desta forma: sai daqui, põe o camião lá fora. Podia pelo menos dizer assim: a carga não está pronta, depois chamam-te, ok. Mas não, parecia que estava a falar para o cão que tem em casa e certamente tratará melhor que os seus subjugados na empresa. Passei-me mesmo e disse-lhe - mas estão a gozar comigo, primeiro manda-me entrar, agora parece que está a falar para algum bicho é!? Enquanto isso telefonaram-me e perguntaram se já me tinham carregado. Contei-lhe o que se estava a passar e devia por lá ter havido uma descasca que o tipo saiu para casa nem para mim olhou, sabem com o seu olhar absorto espetado no chão. E depois os camionistas é que são mal-educados, tomaram muitos terem a educação da maioria. Enfim, são coisas da vida. O que não esqueço é o sorriso da mulher simpática do escritório que me fez logo pensar em coisas mais alegres, ehehehehh
Posto isto quase fiquei sem horário para andar e portanto estragou-me o horário para chegar ao cliente…
Andei quase 800 Km e cheguei ao Centre Routier de Orleans, que para quem não sabe sita a mais ou menos 100 Km de Paris. Aqui começou a verdadeira aventura: conheci o Macaco do Amor. Uma figura incontornável no mundo camionista! Juntamente com ele chegaram também o Tatoo e o Pichas. E eu já a pensar que ia ficar aqui sozinho entre polacos, checos e búlgaros. Até me nasceu uma alma nova uma vez que iria estar domingo e segunda parado (nos feriados é proibido circular em França). Logo na primeira abordagem vejo um tipo que depois soube ser o Tatoo a sair da caminete com um punhado de cervejolas frescas na mão, oferecendo-me de imediato uma. Ora que festa se preparava. Apresentações da praxe e zás logo mais uma bejeca para cada um. Estavam tão fresquinhas que nem vos digo, parecia mel.
Conversa puxa conversa e mais uma para a goela. Sem mais aproximou-se a hora do jantar. Comemos que nem uns lordes, aliás como comemos durante todo o fim-de-semana e malhamos uns shots preparados pelo Tatoo, um verdadeiro especialista nestas lides. Dormi que nem um anjo e com sonhos tão lindos, ai… Ao outro dia foi um churrasco à boa maneira portuguesa com arroz e batata frita regado com mais umas especialidades divinais do Tatoo, nem imaginam.
Tudo bem até nos dar da real gana de ir procurar um centro comercial. O Tatoo estendeu-se ao sol e busca de um bronze de fazer grande inveja aos fanáticos do solário e nós pegamos no GPS e toca a seguir as suas indicações. Vira por ai fora até à portagem da Auto-estrada quando nos aparecem de frente os temidos Germanderie (congéneres da GNR portuguesa), por acaso afeiçoados de boa disposição. Qu´est ce que vous fais ici? – advogaram eles surpreendidos com três marmanjos na berma da auto-estrada. Valeu-nos a lábia do Macaco do Amor que falava fluentemente francês, fruto das suas vivências durante 30 anos a quebrar corações de belas e assanhadas donzelas francesas. Até teve o gozo de lhes dizer: “é um prazer andar num carro da Germanderie”. Pois, é verdade, eles deram-nos boleia mas logo nos avisaram que para cá teríamos de voltar de táxi, pois se nos apanhassem por aqui de novo teríamos maiores consequências, eheheheh. Deixaram-nos na área de serviço mais próxima, apreciámos as miúdas mas também sabíamos igualmente que estavam à nossa cola. Ora pois se o Macaco do Amor fala francês perfeito já o Pichas habla mui bien espanhol. Com uma lábia de vendedor pedimos boleia a um espanhol que por ali fazia uma pausa. Trouxe-nos de volta a base e toca a fazer o jantar que se avizinhava a hora.
Antes disto, ainda vimos uns trechos de uns filmes de cambalhotas para animar, na falta de melhor olhem é assim, eheheheheh
Mais uma vez estava-me a faltar um pormenor…tomei banho ao ar livre. Estava todo suado - tanto que parecia um labrego -, não havia duche nestas bandas e colava-se a camisola às costas e as cuecas às virilhas. Nem mais, despi-me e tomei banho nu com os carros a passarem na estrada ao lado. Desde que aqui ando até já perdi o meu pudor e timidez, até já escoo os meus efluentes líquidos em qualquer lado…eheheheh
Já viram como é a vida, estranha e recheada de mudanças….
Até breve

sábado, 3 de maio de 2008

Também carrego lata, ou melhor latas....eheheheh

Depois de um fim-de-semana preenchido com reunião de junta, finalizado com uma visita à avozinha parti pelas faixas negras europeias para Cabanilhas del Campo, perto de Madrid. Supostamente tinha que descarregar os pneus às 8 horas locais embora fossem 11h e eu à espera que me mandassem encostar ao caís. Vim depois eu a descobrir que estavam à espera dos marroquinos para efectuarem a descarga dos pneus, neste caso manual. Eu bem achei estranho o facto de por volta das 10 horas o parque exterior do armazém ter ficado saturado de carros com matrícula marroquinos; ainda julguei que tinham por lá feito uma invasão na tentativa de venderem os seus irrepreensíveis relógios e protectores óculos de sol, ehehehh
Eram 13 h quando finalmente, entre cantos árabes e risos, me descarregaram a mercadoria, já tinha eu comido um arroz de salsicha e lido umas páginas do Misterioso caso de Styles. Vou na parte da investigação do crime, tudo aponta para que o homicida seja o marido…mas vamos ver o desfecho, talvez haja uma surpresa. Confio no excêntrico Hercule Poirot e no seu ami Hastings.
Posto isto, telefonaram-me para ir levantar uma carga a Burgos. Tudo bem, até já conheço bem a fábrica e o mau estado de humor na segurança, lol. Esperei a minha vez e o inesperado aconteceu quando tentei subir o tecto da galera e nada, népias, lonas, estava bué difícil. Ora sem demoras telefonei a dizer o que se passava e recebi a seguinte resposta do tráfego “ você é um irresponsável, devia saber que o tecto não subia”. Num ápice subiram-me os azeites ao cérebro e o picante à língua e disparei em todos os sentidos. Ora eu tinha engatado o reboque selado, logo nunca e em tempo algum poderia sequer imaginar se o teimoso tecto subia ou não… A minha resposta foi assim: “nunca ninguém me chamou irresponsável ou para tal dei qualquer niquinho de motivo, é a primeira pessoa e, portanto, se quiser levo já para aí o camião e entrego tudo”, eheheheheheh. Logo surgiu a resposta “mas eu não disse que era irresponsável” ao que eu contradisse: então o que me chamou? Já viram isto, é sempre muito mais fácil culpar os mais frágeis, mas enfim…. E vocês que me conhecem bem sabem perfeitamente que sempre fui cumpridor das tarefas a mim incumbidas. Passou…
Esperei por um reboque para trocar e de manhã arranquei estrada fora virado a Gent (Gand) para descarregar passados dois dias, pois claro, mesmo à justa. Apanhasse eu um empecilho qualquer e nunca chegaria a tempo. Mas como eu sou responsável e cumpridor abram alas que aqui vou eu tal como o Noddy num carrinho…que não digo a cor, eheheh.
Ao outro dia naveguei rumo a uma vila alemã para acarretar latas vazias de um famosíssimo e estimulante refrigerante, eheheh. E para dar com o cliente. Estava numa rua a ver o cliente a 1 Km, mas em virtude dessa ser proibida a pesados tive que dar uma volta de uns jeitosos Km para triunfar na missão.
E venho eu por aí fora até à fronteira do Luxemburgo onde dormi umas horitas. Telefonei à malta e mais uns copos para animar. Tinha em mente levantar-me às 6 h mas eram 10 ainda via anjinhos. Tinha mais 4 h para andar e foi passar o fim-de-semana perto de Dijon, França, onde, depois de uma volta pelo parque em busca de tugas – essa raça única e genuína – encontrei um brasileiro a trabalhar para uma empresa nacional tal como muitos seus compatriotas. O rapaz era evangélico e queria pôr-me a ler a bíblia, mas depois de ambos expôr-mos as nossas convicções e contrabalançar opiniões, cada um ficou com a sua bicicleta e amigos na mesma. Fizemos o tacho e bebemos uns litradas, quer dizer eu, porque isso é intemperança…
Segunda levantei-me fresquinho e bota para baixo destino a Barcelona. Dormi na Junqueira e fiquei espantado. Os camiões abanavam toda a noite fruto das investidas de famigeradas prostitutas. Algumas eram lindas e vocês sabem como eu sou…pensei logo porquê? Raparigas tão bonitas nesta vida, não compreendo e até era capaz de lhe dizer, sabendo que se ia rir na minha cara…eheheheheheh. O certo é que pela manhã era incontável a quantidade de preservativos no chão. Pareciam passarinhos a saltar de camião em camião…
È vida, e sendo vida há de tudo e tudo tem a sua génese e motivação. Não acredito que seja uma vida fácil, mas realmente temos que lhe dar valor – fazem cá uma ginástica diária! ehehheheh.
Continuando… cheguei a Barcelona e fui dormir à porta da empresa, onde já desesperavam alguns colegas meus à espera de carga para Portugal. Lá dialogámos, contámos experiências e na quinta-feira cada qual seguiu o seu destino. Fui carregar à Féria de Zaragoza e posteriormente troquei de reboque para ir carregar perto de Bilbao para Portugal. Foi sobremaneira difícil conseguir correr o tecto e depois colocar a trave traseira no lugar. Demorei quase uma hora, suei que nem um labrego e um espanhol observando pausadamente a rir-se numa atitude de gozo. Lá virão os dias dele! Na volta dei boleia ao meu amigo Verdinho e entre conversas de amigos contámos alternadamente as experiências de cada um. Nesta vida passa-se cada coisa…!!!!!

Pois é, faz dois meses e meio que ando nos camiões, como o tempo voa. È certo que não quero fazer isto para toda a vida mas tem sido uma experiência única viver como um nómada, sem ver televisão, sem a comodidade do lar doce lar…é admirável como tantos e tantos se ocupam deste modo de vida durante anos a fio. Como professor de Geografia já vi aquilo que muitos professores, até universitários falavam da boca para fora sem nunca terem ido ao campo. E como dizia o Orlando Ribeiro a Geografia faz-se com as palmas dos pés. Enfim, já passei de tudo, bons e maus momentos. Se voltar a dar aulas muito terei para contar, nem imaginam. Até já andei perdido no emaranhado de ruas que cruzam a cidade de Barcelona, ehehheh. Pois agora rio-me…
Como sempre acontece muito aqui fica por dizer, mas não se preocupem que eu cá estou para vos ir relatando estas minhas aventuras pelas estradas europeias.

Leni, já que gosta da minha poesia aqui vai uma criada em Gent (Gand), no seu país

Longe

Esta não é a minha terra
Porque a minha terra tem montes
Tem um senil pinheiral
Aqui, …
Não há verde no horizonte
Não ladram os cães guardadores
É terra de outra gente
Que tanto a ama por ser sua
Como eu a minha
Não tendo jeito de linda para mim
É a terra dessa gente
Aqui,
Não corre esguia em rápidos a ribeira
Não canta na matina o galo
Mas ouvem-se ruidosos carros
È a cidade e eu vivo na aldeia
Aqui não se diz bom dia
Correm apressados nos passeios sem olhar
Afinal, são estranhos
Não são gente da mesma aldeia
E eu estou de passagem
O meu mundo é largo
Ando longe da minha aldeia…