sábado, 3 de maio de 2008

Também carrego lata, ou melhor latas....eheheheh

Depois de um fim-de-semana preenchido com reunião de junta, finalizado com uma visita à avozinha parti pelas faixas negras europeias para Cabanilhas del Campo, perto de Madrid. Supostamente tinha que descarregar os pneus às 8 horas locais embora fossem 11h e eu à espera que me mandassem encostar ao caís. Vim depois eu a descobrir que estavam à espera dos marroquinos para efectuarem a descarga dos pneus, neste caso manual. Eu bem achei estranho o facto de por volta das 10 horas o parque exterior do armazém ter ficado saturado de carros com matrícula marroquinos; ainda julguei que tinham por lá feito uma invasão na tentativa de venderem os seus irrepreensíveis relógios e protectores óculos de sol, ehehehh
Eram 13 h quando finalmente, entre cantos árabes e risos, me descarregaram a mercadoria, já tinha eu comido um arroz de salsicha e lido umas páginas do Misterioso caso de Styles. Vou na parte da investigação do crime, tudo aponta para que o homicida seja o marido…mas vamos ver o desfecho, talvez haja uma surpresa. Confio no excêntrico Hercule Poirot e no seu ami Hastings.
Posto isto, telefonaram-me para ir levantar uma carga a Burgos. Tudo bem, até já conheço bem a fábrica e o mau estado de humor na segurança, lol. Esperei a minha vez e o inesperado aconteceu quando tentei subir o tecto da galera e nada, népias, lonas, estava bué difícil. Ora sem demoras telefonei a dizer o que se passava e recebi a seguinte resposta do tráfego “ você é um irresponsável, devia saber que o tecto não subia”. Num ápice subiram-me os azeites ao cérebro e o picante à língua e disparei em todos os sentidos. Ora eu tinha engatado o reboque selado, logo nunca e em tempo algum poderia sequer imaginar se o teimoso tecto subia ou não… A minha resposta foi assim: “nunca ninguém me chamou irresponsável ou para tal dei qualquer niquinho de motivo, é a primeira pessoa e, portanto, se quiser levo já para aí o camião e entrego tudo”, eheheheheheh. Logo surgiu a resposta “mas eu não disse que era irresponsável” ao que eu contradisse: então o que me chamou? Já viram isto, é sempre muito mais fácil culpar os mais frágeis, mas enfim…. E vocês que me conhecem bem sabem perfeitamente que sempre fui cumpridor das tarefas a mim incumbidas. Passou…
Esperei por um reboque para trocar e de manhã arranquei estrada fora virado a Gent (Gand) para descarregar passados dois dias, pois claro, mesmo à justa. Apanhasse eu um empecilho qualquer e nunca chegaria a tempo. Mas como eu sou responsável e cumpridor abram alas que aqui vou eu tal como o Noddy num carrinho…que não digo a cor, eheheh.
Ao outro dia naveguei rumo a uma vila alemã para acarretar latas vazias de um famosíssimo e estimulante refrigerante, eheheh. E para dar com o cliente. Estava numa rua a ver o cliente a 1 Km, mas em virtude dessa ser proibida a pesados tive que dar uma volta de uns jeitosos Km para triunfar na missão.
E venho eu por aí fora até à fronteira do Luxemburgo onde dormi umas horitas. Telefonei à malta e mais uns copos para animar. Tinha em mente levantar-me às 6 h mas eram 10 ainda via anjinhos. Tinha mais 4 h para andar e foi passar o fim-de-semana perto de Dijon, França, onde, depois de uma volta pelo parque em busca de tugas – essa raça única e genuína – encontrei um brasileiro a trabalhar para uma empresa nacional tal como muitos seus compatriotas. O rapaz era evangélico e queria pôr-me a ler a bíblia, mas depois de ambos expôr-mos as nossas convicções e contrabalançar opiniões, cada um ficou com a sua bicicleta e amigos na mesma. Fizemos o tacho e bebemos uns litradas, quer dizer eu, porque isso é intemperança…
Segunda levantei-me fresquinho e bota para baixo destino a Barcelona. Dormi na Junqueira e fiquei espantado. Os camiões abanavam toda a noite fruto das investidas de famigeradas prostitutas. Algumas eram lindas e vocês sabem como eu sou…pensei logo porquê? Raparigas tão bonitas nesta vida, não compreendo e até era capaz de lhe dizer, sabendo que se ia rir na minha cara…eheheheheheh. O certo é que pela manhã era incontável a quantidade de preservativos no chão. Pareciam passarinhos a saltar de camião em camião…
È vida, e sendo vida há de tudo e tudo tem a sua génese e motivação. Não acredito que seja uma vida fácil, mas realmente temos que lhe dar valor – fazem cá uma ginástica diária! ehehheheh.
Continuando… cheguei a Barcelona e fui dormir à porta da empresa, onde já desesperavam alguns colegas meus à espera de carga para Portugal. Lá dialogámos, contámos experiências e na quinta-feira cada qual seguiu o seu destino. Fui carregar à Féria de Zaragoza e posteriormente troquei de reboque para ir carregar perto de Bilbao para Portugal. Foi sobremaneira difícil conseguir correr o tecto e depois colocar a trave traseira no lugar. Demorei quase uma hora, suei que nem um labrego e um espanhol observando pausadamente a rir-se numa atitude de gozo. Lá virão os dias dele! Na volta dei boleia ao meu amigo Verdinho e entre conversas de amigos contámos alternadamente as experiências de cada um. Nesta vida passa-se cada coisa…!!!!!

Pois é, faz dois meses e meio que ando nos camiões, como o tempo voa. È certo que não quero fazer isto para toda a vida mas tem sido uma experiência única viver como um nómada, sem ver televisão, sem a comodidade do lar doce lar…é admirável como tantos e tantos se ocupam deste modo de vida durante anos a fio. Como professor de Geografia já vi aquilo que muitos professores, até universitários falavam da boca para fora sem nunca terem ido ao campo. E como dizia o Orlando Ribeiro a Geografia faz-se com as palmas dos pés. Enfim, já passei de tudo, bons e maus momentos. Se voltar a dar aulas muito terei para contar, nem imaginam. Até já andei perdido no emaranhado de ruas que cruzam a cidade de Barcelona, ehehheh. Pois agora rio-me…
Como sempre acontece muito aqui fica por dizer, mas não se preocupem que eu cá estou para vos ir relatando estas minhas aventuras pelas estradas europeias.

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