sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ALF

A nossa geração

Hoje estou nostálgico, não sei bem a razão desta desmedida sensação de recordar, tentar lembrar-me e compreender esta diáspora por onde vagueia este mundo em mudança. Não sei que me deu esta semana, mas parece que tem a ver com o poder magnético dos astros que por hora decidiram atingir-me com dureza. Dizem lá eles – e tão longe que estão – que esta semana iria ser plena de complicações e azares. Mas até nem foi, servindo pois para contrariar os seus ditosos preceitos e superstições.
Bem, decidi escrever-vos, porque hoje, e não sei porque razão, lembrei-me dos desenhos animados da nossa infância. Vejam lá se essas pálpebras não incham e pulam de excitação quando ouvimos a música do Tom Saywer, da Heide e da Ana dos cabelos Ruivos, para não insistir no destemido Dartacão e sua amada Julieta e das lições de amizade que nos era dada pelos animais das Fábulas da floresta verde.
Hoje, quando faço um zapping pelo incontável número de canais que inundam o ecrã da caixinha mágica, vejo uns estranhos seres – animais de grande futurismo - a lançar poderosos laisers para tudo o que se mexa e seja passível de se destruir. Nalguns casos até se destroem sem dó planetas inteirinhos, em verdadeiras explosões mirabolantes e grotescas, eheheh.
Ocorre-me agora uma série televisiva que nos fazia rir até doer a barriga, o amistoso allien ALF, que, por incrível que pareça, acompanhava no banco de pendura um motorista TIR que uma vez conheci em Zaragoça. E de facto só de o ver deu-me uma esfomeada vontade de rir, tanto que me ficaram a doer (por longos minutos) os músculos da barriga.
Hoje nos serões alargados da nossa televisão entretêm-se as pessoas com cenas do fútil que acontece no quotidiano, mostrando-se pessoas exuberantes e bonitas a jantarem empertigados banquetes, dignos de um nobre senhor feudal. Os pratos de fina porcelana e os reluzentes copos de cristal enaltecem uma vida recheada de luxos. Todavia, as histórias cerram-se por aí: luxos, pessoas elegantes e bem arranjadas, envolvendo-se na vida consoante o sabor das modas. Já nem as telenovelas são animadas e satíricas como o eram o Roque Santeiro ou a Tieta do Agreste. Autênticos retratos de uma época menos stressante e sobretudo mais caricata. Quem aí, desse lado, ainda foi para os bailaricos de Verão de motorizada, quando ainda só um ou dois amigos tinha carro!?
Para quem gostava de acção tínhamos o engenhoso MacGyver ou o carro “humano” Kit. Tempos que lá vão e que não se conseguem apagar da memória….
Hoje é substancialmente diferente, porque o mundo é também sobejamente diferente. Mudaram-se os tempos, mudaram-se as vontades, até a espontaneidade de rir mudou…
O rei e símbolo supremo da sociedade actual é o telemóvel. Um objecto pequeno de fácil transporte e manuseamento que tanto tem de útil como de poderoso reprodutor de stress. Nas filas de trânsito, no trabalho, em casa, na escola reina essa doença stressante de dizer que se denominou stress, para a qual só existe um remédio chamado boa disposição.

Terra de ninguém

Terra sem nome

Nesta terra de tantos
Que por não se saber de quem
Reina o vício das balas
Terra de ninguém…
Terra de tantos, (Palestina)
Os olhares tão cegos
Os gritos sem eco, moucos
Já ouvimos muito
Querem-te matar-te
Doce menina.
O pó que flui no ar
Já não te deixa sonhar
A guerra parida de muitas mães
É tua filha,
De pequenina
Agora uma mulher golpeada
Já não chora inocente
A menina.

Estalam balas perdidas
Atravessando ar e paredes
Sem medo só as crianças
Brincam inocentes
Expostas ao bafio da guerra
Crescem assim,
das bombas aconchegadas
Nestas duras andanças
São novos mártires
Estas crianças…

Joni

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Hoje fui inundado por palavras….

Estou agora submerso, depois de uma hora e meia mergulhado num mar de palavras delirantemente tocantes. Pois bem, acabo de me libertar das amarras ternurentas de uma palestra sobre literatura portuguesa na modernidade.
Estou efusivo e siderado com a profusão de palavras que voaram como borboletas espelhadas por todos os cantos e recantos da sala até ao meu ouvido.
A escritora, todos conhecem, Lídia Jorge. Confesso que possuo desde há longo tempo um livro da autora, contudo não havia ainda conseguido ultrapassar o muro da primeira página. Acho, porém, que com o empurrão que levei conseguirei saltá-lo bem mais alto, quase a tocar no limiar das palavras mais soltas.
A verdade é que hoje, e apesar dos dolorosos insultos dos últimos tempos, vi, mais uma vez, quão bonito e desafiante é ser professor. Mas, de igual forma, comprovei que, foi a lucidez dos meus conhecimentos que me impediu de ficar de quedo e me levou pelos caminhos da Europa para ver o que há muito me tirava tempo de sono. Sim, no lugar de ficar à sombra do desemprego larguei a própria sombra e escondi-me para não me apanhar. Fui sorrateiro.
De facto, ou nos deixamos formatar pelas vicissitudes ou somos audazes na busca do que não queremos deixar por fazer.
E podem perguntar o porquê dos camiões. Pois, na verdade, desde pequeno que escorria em mim essa paixão, pelo que passava horas incontáveis a ver e ouvir as majestosas scanias a assobiar ferozmente em direcção a um mundo além, maior que o da minha aldeia. Consumia-me a direcção incerta daquele roncar: Espanha, França, Itália.
Mas o que mais saboreei foi entrar dentro daquele mundo e desmistificá-lo, porque aos comandos de um camião não vão grunhos nem brutamontes, vão pessoas corajosas, vivendo perigos e desejando matar o tempo para rapidamente voltar aos seus, aos que amam.
Nunca mais me esquece de uma temperada conversa que ouvi ao longo de um regresso de Itália. Ouvia, a viva e toante voz dois companheiros a falar de actores de cinema e ficara espantado como pareciam ser donos de um conhecimento que a mim me ultrapassava. No final parei, já perto de Salamanca, para jantar e vi descer das cabines dois senhores com ar de sessenta anos! Com o correr do tempo conheci companheiros com a quarta classe ou pouco mais classe verdadeiros poliglotas, donos e senhores de uma cultura geral de fazer inveja a pessoas com mais tempo de estudos.
Foi isto que aprendi, a colocar-me no lugar do outro e viver as suas dificuldades, os maus momentos, as alegrias, porque só assim compreende e respeita o mundo.
Termino com uma expressão da escritora: “fiquei com mais teclas no meu piano”.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Os Jovens estão de abalada da minha aldeia

Por mais que nutra em nós o sentimento da raça lusa, já pouco este país oferece à sua juventude. Da minha geração era o único com laços mais chegados à terra, pois todos, raparigas e rapazes, partiram para outras paragens em busca do que o nosso país foi, infelizmente, incapaz de lhes proporcionar - uma réstia de esperança em conseguir uma vida melhor. São mais uns a criar tentáculos de Portugal por essa Europa fora.
Neste Natal recebi mais uma fatídica notícia: um dos poucos jovens residentes na aldeia vai-se aventurar por outras bandas, onde a vida talvez o presenteie com novas oportunidades. Pois é, parece que o meu amigo Jolie está movido pela força de partir para fora.
Enfim, é vê-los partir sem nada puder fazer para nos sacudir deste mau fado.
Nem os discursos enfaticamente optimistas do nosso primeiro conseguem quebrar esta corrente. São apenas mais umas palavras expressivas e encadeadas, porque quem governa fá-lo para si e para os seus e não para todos.

O meu Natal

Mais um Natal encantado nos recantos profundos do Portugal rural e mais uma lágrima que quase se desprende mas timidamente não se deixa escorrer.
Fui pulando de alegria como um petiz ao encontro da minha terra, dos meus domínios nas serranias que alicerçam a Serra maior. De braços esticados esperava-me a gente da minha aldeia. Não via o momento de a avistar.
Para mim o Natal é meu e de quem me tem nas artérias do seu coração. Uma das coisas que mais me entristece é ver o normal correr da vida e olhar para os mais velhos cujas rugas traçadas no rosto marcam uma vida intensa e imensa de sacrifícios. Vê-los envelhecer!
O Natal é isto, momentos que para o ano serão uma nova mas terna recordação.
Talvez fruto da larga distância foi o Natal mais puro da minha vida, deixando afluir em cada pedra uma nobre sensação de bem-estar. Foi a minha prenda e tenho pena que hoje se confunda o seu espírito com prendas.
Lembro-me das prendas que me marcaram na infância, um comboio a pilhas e um livro – “O João sem medo”. Lembro-me porque foram as únicas e por isso o seu valor é inestimável.
Hoje o Natal é sobremaneira diferente, as compras, as prendas, o individualismo enterraram e calcaram o verdadeiro Natal, tornando-o numa lição épica de agressividade publicitária e consumismo desenfreado.
Parece que tudo se compra com prendas, porém a minha prenda foi o reencontro com os meus e isso não tem preço nem se compra, sente-se.