quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Uma galinha na estrada

Na segunda-feira passada - dia de pica boi depois de um fim-de-semana bem vivido – deslocavamo-nos para o trabalho, quando surge um inesperadíssimo: uma galinha passeava sorrateira, exibindo as suas penas multicolores, em plena faixa de rodagem da A22.
Fiquei espantado, como estupefactos ficaram os automobilistas que seguiam em linha atrás de mim, perante este utente pouco comum nestas andanças. No lugar de encher o papo no comedouro do galinheiro e esgravatar o quintal do dono, decidiu exibir-se por ali. Empertigada fazia o trajecto entre a berma e o separador central, provavelmente à espera de encontrar uma saída daquele paradeiro, enquanto os carros iam abrandando para não a deixarem esticada e abandonada, como os inúmeros cães que vemos nas bermas das estradas de lés a lés do nosso Portugal.
Quando avistei a carrinha da brisa a indicar perigo exibindo no projector a mensagem “desvio” ocorreu-me que alguém teria sido vítima de mais uma infelicidade na estrada, mas afinal não. O funcionário ria-se deslumbrado ao invés de se preocupar em apanhar a ave, quem sabe até poderia jantar uma gordurosa canja de galinha.
Já agora tenham atenção, a concessionária tem que indeminizar o utente perante um acidente provocado por um animal; todavia os funcionários apressam-se a chegar ao local para fazerem a ocorrência e embusteiam os acidentados, deixando-os descansados a pensar que tudo vai ser resolvido. Mas não, se o caso não for participado às autoridades – Brigada de Trânsito – esqueçam que não recebem nada dali. Tenham esse cuidado.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010



Um abraço para todos os que fazem vida na estrada, porque só esses, e quem já lá andou um dia, conseguem compreender os sentimentos relatados nesta grande canção...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Chove sem parar...

O meu largo entendimento em matéria de clima permite-me concluir que algo de estranho se passa na máquina climática.
Mas, mais que esse conhecimento académico, torna-se evidente quando falo aqui com os patronos algarvios. Gentes do povo, com vivências longas, que já passaram por muito e conhecem o tempo como ninguém. A sua idade permite-lhe analisar evoluções e até fazer estimativas.
Dizem-me eles, em conversa de barbearia, de rua ou café, que a máquina climática anda maluca, já desde uns anos até esta parte.
- Você é moço lá do norte, não está habituado aqui à nossa terra, mas nós somos filhos do Algarve, sempre vivemos aqui, e não me lembra de tanta chuva cá por baixo – argúi o meu vizinho do canto.
Pois lá nas Beiras – não sou exactamente do Norte, sou Beirão – as chuvas são constantes e continuadas, contudo os mais velhos queixam-se da falta de chuva. Antigamente rebentava a água por tida a lomba, era cada levada a correr – relembram saudosamente.
Enfim, por Olhão rebentam é as tampas das sarjetas do saneamento e dos escoadores das ruas pouco habituadas a tanta força de água de chuva. Mas quem tem o terreno com miunças gosta de ver a terra regada além de que os lençõis de água queixam-se à muito de escassez, e para eles será um presente divino, capaz de estanquar a pressão da água salgada sobre os aquiferos mais próximos da costa.
Para os homens do mar já farta esta chuva e esperam a bonança para se lençarem em pequena barcaças e estender as redes de malha no seio do mar.
Enfim nunca ninguém está contente, para uns é demais para outros podia vir mais.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Balanço do meu ano...

Se me pedissem descrever o ano que se findou em duas ou três palavras, diria, sem qualquer espinha a picar a garganta ou papas quentes na língua, tratar-se de um ano “cheio de vida”.
Tinha eu acabado, de forma pouco esperada, de largar uma vida vivida pelos quilómetros das estradas do velho continente – amuralhado entre os cimos dos montes Urais e a vastidão do oceano Atlântico – para me dedicar novamente ao ensino, nos reinos abafados pelo clima quente das baixas terras algarvias. Durante toda a minha vida restringira-me às terras cimeiras da Beira Alta e à romântica cidade de Coimbra, que vestida pelas negras capas dos estudantes me deu guarida no seu ventre por uns eternos cinco anos. Falo de anos de amizades e camaradagem inesquecíveis, que aliados aos camiões, me ofereceram amigos, um pouco por cada canto e recanto de Portugal. Das aulas da faculdade, tenho saudade de uma meia dúzia, que não se afunilavam em leituras dormentes de sebentas amarelas, quiçá pelo papel envelhecido, dando conta do tempo em que foram escritas. Provavelmente já lá iam longos anos.
Após tantos anos, quis o destino dar-me este novo paradeiro. Senti-me pela primeira vez realizado enquanto professor nas aulas de Geografia do 10º ano, onde a relação que se estabelece com os alunos é mais a meu jeito. Ouviam e retribuíam em sinal lícito dos bons ensinamentos.
Quis o meu fado que este ano voltasse ao terceiro ciclo. As burocracias são mais e os alunos sobremaneira complicados. Penso que o grande mal é a falta de educação e o facilitismo que vingou na nossa sociedade. Mais tarde vamos pagar a factura desta nova ordem mundial, em que os papeis se inverteram. Os alunos estão ao nível dos professores, dedica-se mais tempo aos alunos que não querem aprender – porque para os que tem dificuldades há ajudas específicas – e os bons alunos acabam por ver reduzido o seu potencial. Agora a moda é ser mau e ter notas reles. Caso contrário a malta não é fixe.
Talvez os mais iluminados pensem que tudo se aprende nos computadores e na internet e a escola serve para entreter os alunos; é cada vez mais o papel de um professor, ser animador.
Pagam-me para isso, e, contudo, sinto-me um felizardo no meio de tantos portugueses que não tem como comprar o pão para alimentar as bocas da família.
Nos entretantos decidi iniciar uma formação de instrutor de condução automóvel – que me roubou muitas horas pós laborais de Abril até Outubro – da qual ainda espero o resultado do primeiro exame, que, por sua vez, me dá acesso a um segundo exame de cariz prático.
Socialmente vivemos um ano conturbado, no qual a crise atingiu o seu máximo crítico, segundo os mais entendidos na matéria. Seja como for, a crise só existe para alguns, como é do conhecimento de todos.
Continuamos a ter uma justiça injusta e protectora dos gatunos, assassinos e corruptos. Este é o nosso Portugal: um polvo de corruptos com tentáculos longos e aniquiladores.
Para último deixo o melhor que me aconteceu pelas planícies quentes do Algarve. Aqui conheci a minha cara-metade, a quem agradeço muito pelo aguentar do meu mau feitio.
Daí, foi um ano cheio de Vida.