domingo, 14 de dezembro de 2008

Faz hoje um ano!

Arranquei trémulo e inseguro do parque em direcção às estradas da Europa faz hoje um ano. Trata-se de um momento carregado de nostalgia que nunca irei esquecer na minha vida – espero que longa, eheheh. È inelutável este passado que faz parte de um período importante da minha existência. A força que pode levar um homem a fazer qualquer coisa foi a mesma que me moveu durante longos meses.
Arranquei primeiro receoso mas rapidamente se tornou numa verdadeira aventura por um mundo diferente, infelizmente deturpado aos olhos de alguns que se assumem como deuses santificados pela inteligência, mas que no fundo se tornam ignóbeis quando manifestam opiniões destorcidas de algo que não conhecem, senão vejamos o que encontrei numa das minhas pesquisas e que não posso deixar de vos mostrar, pelo grave que é:

«De há uns dias para cá que tenho assistido a uma greve prolongada dos camionistas portugueses e espanhóis, o que sinceramente não compreendo. Se há alguém que deveria fazer greve, deveriam ser os próprios camiões e não os camionistas. Aguentar com um brutamontes de manga cava, palito nos dentes, mau-hálito, chapéu do Benfica e posters misteriosamente usados da Pamela Anderson não é para todos os veículos. (…)Será que já se cansaram de fazer horas ilegais ao volante e agora querem cumprir a lei? Será que vão deixar de transportar mais do que aquilo que deveriam não estragando, assim, as estradas? Será que vão deixar de exceder os limites de velocidade diminuindo a sinistralidade rodoviária? Será que estão contra a sua própria conduta arrogante de quem manda no asfalto?»
In http://andrefilipereira.blogspot.com/2008_06_01_archive.html

Isto é típico de quem pensa que sabe e não sabe do que fala, pois se se considera assim tão inteligente deveria saber que só alcançamos o estádio máximo da inteligência e desenvolvimento da personalidade quando temos a capacidade intelectual de nos colocarmos no ponto de vista dos outros. Aliás, são pessoas como esta que provavelmente apitam sem razão em Lisboa quando o sinal está vermelho ou que ultrapassam e quando retomam a via travam quase a fundo porque no local está um limite a 80 e com medo da multa decide travar bruscamente até aos 50. São estas pessoas que não sabem que um pesado nem sequer dá mais de 90. Por outro lado, fui motorista TIR e todos os dias tinha muito cuidado com a minha higiene pessoal como quase todos os companheiros da roda têm, desde tomar banho sempre que possível, a lavar os dentes diariamente; não somos nenhuns brutamontes e as camisolas cavas não são apenas os camionistas que usam, aliás nem sei como se pode julgar alguém por usar camisola de manga cava, se bem que até dá muito jeito no Verão.
Por fim, culto é aquele que sabe criticar e não o que pensa que sabe criticar. Não é preciso estudar para se ser culto basta saber o que é a vida além do sofá, da cadeira de escritório e do ecrã do computador.
Tudo isto para vos dizer que prometi aos meus colegas que os iria defender, porque ser motorista Tir não é Curtes, Viagens e Putas, é um modo de vida como outro qualquer, um ganha-pão sem o qual o mundo não gira e nem um rolo de papel higiénico sobraria para limparem o cu.
Já descarreguei.
E fui Europa dentro transformando-se o medo em coragem e força de viver. As dimensões exigiam cuidado triplicado e com afinco lá fui sorridente e bem-disposto. Ficara admirado com o mundo que se vê lá fora, tudo tão diferente mas nunca perdendo o orgulho pelo meu país (daí as bandeiras e cachecóis). Outra coisa me deixou estupefacto, por todo o lado circulam tugas, milhares e milhares e às vezes até pensava: Portugal é um país tão pequeno e todos os dias são centenas e/ou milhares os camiões a entrar e sair. A viagem para a Itália é magnífica pois no curso acompanhamos sempre o mediterrâneo, umas vez quase a tocar-lhe delicadamente outras no encale do horizonte longínquo. O sul de França é algo de belo e extraordinário, com paisagens deslumbrantes, onde as montanhas verdejantes se abraçam abruptamente ao mar. A descida pela C25 até à Jonquera é um misto de adrenalina e poder com a neve a cobrir desde os cimos dos mais remotos montes até aos largos ou apertados vales dos sopés. Fazer comida ao ar livre com o frio é duro mas logo nos habituamos e o que interessa é não andar a lume de palha, porque para se aguentar tantas horas ao volante é necessário estar muito bem fisicamente. Dormir num camião também era algo com que já tinha arreliado o pensamento, mas é muito confortável, além do mais com o aquecimento está-se quentinho. A primeira refeição foi umas batatas cozidas com ovo e bacalhau e com o frio que estava até aconchegou a alma. Bem azeitadas, uiui. Que delicia.
Os camiões desde a Jonquera até vintemiglia – fronteira da França com a Itália - não despegam num comboio ininterrupto de milhares das carruagens.
A entrada na Itália não é aconselhada a claustrofóbicos ou malta com vertigens, os túneis sucedem-se e as elevadas e medonhas pontes passam por cima de cidades inteiras. Uma vez dentro das vilas e cidades, as quelhas abundam e são preciso manobras milagreiras para chegar a alguns clientes. Aliás andamos quase 20 minutos para tirar o camião de um armazém, entrou bem mas teimava em não sair sem atirar nenhum muro ao chão.
Seja como for este país é um verdadeiro festival de paisagens, então no Inverno, vestida de uma celestial e alba camada de delicada neve. Fiquei abismado pois até junto ao mar o branco estendia o seu reinado, mesmo do lado do adriático. Só não gostei dos condutores, são um perigo, não há sinalização que valha e seja respeitada. Ao arrancar num semáforo temos que ter cuidado com as lambretas que se cruzam agilmente na nossa frente. Por seu turno, furioso o vento abanava ferozmente cabine e galera.
Par cá foi a continuação neve até França e, posto isto, céu com abertas radiantes entre ferozes chuvadas. De novo em Espanha, já faltava pouco para estar novamente em casa para passar o Natal.
A partir de então sucederam-se as idas e os regressos.
Bem – haja por me aturarem por aqui.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Aos domingos pela manhã é aqui que recarrego baterias...

Fiz greve...pela primeira vez

Tal e qual como vos digo: fiz greve pela primeira vez, provavelmente a primeira de muitas que urge fazer contra o Trio do Mal que tenta amedrontar e enxovalha sem qualquer desprimor uma classe tão valiosa na construção das bases e da força de qualquer povo. Porque mais pobres que os pobres de espírito são os que tem espírito e não o governam.
Foi a primeira vez, e reforço que não fiz greve contra a avaliação da minha profissão, fi-lo contra três pessoas que ao verem-se empoleirados em galhos tão altos pensam que daí podem massacrar e eliminar o pobre mexilhão que esgravata num terreno podre e pantanoso. São três senhores, ou melhor dizendo, um senhor e uma senhora que não tem postura política nem moralidade para pedirem sacrifícios vãos a alguém, visto que, pelo que se conhece, nunca foram exemplo de trabalho e desempenho.
Não aceitam confrontações directas e não possuem argumentos para debater o que quer que seja em qualquer campo, sendo o único argumento o ódio cego que os motiva e alimenta.
Pobre do General que desmotiva e desmembra as suas tropas, nunca mais ganhará uma guerra.
Sim, há maus professores e baldas, mas nas outras profissões também há, concordo que é preciso separar o trigo do joio, mas neste caso ainda se aumenta mais as discrepâncias pois favorece-se mais os ratos de escritório do que os cavalos de batalha que entram e desbravam qualquer terreno. Os melhores professores irão abandonar o ensino à mínima oportunidade, não tenho dúvidas! Ninguém está para aturar congeminações doentias e servir eternamente de cobaias.
E meus amigos convençam-se de uma coisa que é a mais pura verdade: sem massa não se faz pão e este modelo quer nivelar todos os alunos, sabendo nós de antemão que é impossível porque as capacidades individuais, as motivações, o meio social e as afectividades são muito díspares. Há alunos que por mais malabarismos que um professor faça – se necessário o pino – não conseguem, e agora a culpa é do professor! Sempre foi assim, não podemos andar a trabalhar para enganar as estatísticas.
Então que arranjem estratégias sérias, como por exemplo fazer uma triagem como se faz em alguns países da Europa, quem tem capacidades para um ensino mais exigente segue essa variante, quem não está vocacionado envereda logo no final do 2º ciclo por um ensino mais profissionalizante. Não se pode cair todavia no ridículo de facilitar e transmitir a ideia que são cursos fáceis e portanto nem é preciso fazer nada para se passar. Isso é o que acontece actualmente, inclusivamente em cursos tecnológicos do secundário onde há ordens expressas para “aturar” meninos mal comportados de dezoito anos que todos os dias fazem asneira atrás de asneira porque até é fixe gozar com os professores e sabem que tem a faca e o pão na mão. Os pais também sabem que enquanto estão na escola até nem fazem coisas mais graves e não tem de os aturar.
Esta é a realidade e tenho a certeza que nenhum ministro da educação aguentava dar uma aula a criancinhas tão queridas e inocentes.
Se querem mudar para melhor tem que ser sérios e não criar modelos economicistas que visam apenas poupar uns tostões do rechonchudo mealheiro de estado para repartir por uns amigos que tem lá a gerir uns pseudoprojectos sem utilidade. Se querem mudar urge conhecerem a realidade das escolas, os verdadeiros problemas e não entreterem-se a enganar a opinião pública, fazendo passar os professores por tapetes onde qualquer um pode limpar os pés.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Placas de identificação...

Quando fui para os camiões achava que as placas a identificar os camionistas era uma azeitice, mas passado algum tempo começei a entrar verdadeiramente neste mundo diferente e comprendi a sensação. Acabei por identificar o Virgolino com uma placa que me ofereceram lá na escola de VNT, assinada pela malta amiga, incluindo o próprio presidente do Executivo. Essa plana dizia JONI, nome que os meus amigos carinhosamente me chamam desde os tempos da FLUC em Coimbra.
Joni é normal, assim como aquelas que dizem Ti manel, Sr Jorge, Pequeno Loureiro, Solitário, depois há aquelas que sao deveras caricatas, mas sem dúvida que a mais original que encontrei foi esta....lembram-se do post sobre o Macaco do Amor. Para comprovar por aqui vos deixo a placa desse grande camionista, no fundo um tipo fixe.

Domingos consumistas...

Olá malta, este domingo tal como a maioria dos portugueses aproveitei para ir ao centro comercial – denominados contemporaneamente por fóruns penso que mais pela configuração arquitectónica que propriamente pela função – na Guia, aqui pelos “allgarves”.
Que bela maneira de passar o domingo, olhando para montras, apalpando e amassando produtos, pisando pés, sofrendo empurrões, ouvindo buzinadelas, apreciando as gajas, e por fim acabando em beleza empanturrando-me de comida de plástico no macdonalds.
Seja como for nem é meu costume fazer dos domingos um dia de desenfreado consumo, aliás, bem pelo contrário, na minha aldeia não há centros comerciais e o mais próximo fica em Viseu (agora há por lá dois…haja dinheiro), por isso a malta usufrui do domingo para conviver, visitar familiares idosos, passear, jogar uma cartada, enfardar uns deleitáveis petiscos à moda da serra, enfim, um verdadeiro espaço aberto onde se configuram ideias, gera convívio e amizade.
O facto é que não estou na minha aldeia e aqui não existem esses deleites, existindo sim um selvagem apelo para os centros comerciais, locais onde tudo gira e acontece. A mim até me aborrece um pouco porque as pessoas quase se esfolam nas caixas e nos corredores num verdadeiro acto animalesco de agressividade, individualismo e stress (nos EUA, NY, um empregado de uma loja foi esmagado por 300 clientes esquizofrénicos pelos saldos). O que me preocupa é que até aos domingos as pessoas estejam cravadas desse mal mundial chamado stress.
As filas de trânsito por volta das três horas eram já longas e quando voltávamos no regresso imensamente longas e sem mais delongas vos digo que era um achado acharmos um lugar para estacionar. Aqui ainda se acentua mais gravemente o stress e a falta de educação.
Pois não é que depois de perguntar a um casal que estava a arrumar umas compras na bagageira do carro e de uma espera de cinco minutos para eles desocuparem o lugar vem um espertinho lá de longe e ocupar o lugar que eu me preparava para abordar de marcha atrás engrenada e sinalizando com os piscas. Eu estava à espera fazia uns bons cinco minutos e o tipo que vinha a chegar nem deu tempo para realizar a manobra, achando porém que estava pleno de razão. Sorte de eu andar afeiçoado de uma calma fora do vulgar, pois caso contrário poderia haver chatices. Mas sabem o que irrita: nesse dia vi outro tipo a fazer o mesmo; em ambos os casos tratava-se de azeiteiros de BMW com pneus largos, madeixas oxigenadas no cabelo e dentes podres, como podres seriam os seus valores sociais.
Infelizmente o país está cheio de pessoas assim, escumalha, ocas de espírito e sem valores e são pessoas assim que cada vez saem mais das escolas e mais sairão daqui para diante. (Parece que esta semana foi mais um imbecil que deu uns valentes murros numa professora como forma de retaliar uma ida ao Conselho Executivo).
Toda esta lenga lenga para vos dizer que a melhor parte do domingo foi um passeio à beira da Ria Formosa pela manhã. O som das gaivotas, o rajar tranquilizante do mar muralhado pela gigantes pedras que travam como gigantes a sua fúria. Passeei, comprei o jornal, li, reli, bebi um martini com cerveja e alcei para casa novamente. A melhor parte do Algarve é mesmo o mar…
Caminhei como um puro pedestriano pelas labirínticas ruas aqui da baixa e o problema maior é desviar-me dos dejectos orgânicos dos cães despojados a embelezar as trabalhadas calçadas da cidade. Se uma pessoa não tem cuidado chega ao lar doce lar com as solas dos sapatos engraxadas de castanho e perfumadas gratuitamente, ehehehehe.

PS: decidi não trabalhar mais ao domingo, é altura de travar e dizer não, afinal já bastou o sábado inteirinho agarrado ao computador de volta das merdices e papeladas inúteis.

domingo, 23 de novembro de 2008

Dos mais bonitos que se vêem nas faixas negras europeias...



Pessoalmente nunca tive qualquer interesse em trabalhar na empresa, contudo é inegável que não passam despercebidos nas estradas que ligam Portugal à Holanda.

Um estado excelso da música...



Infelismente acabou-se o sonho de os ver novamente reunidos, mas a música perdurará para a eternidade....

sábado, 22 de novembro de 2008

Criei um blog para os meus alunos

http://geo-espaco.blogspot.com

Na noite de Faro...

É verdade no passado fim-de-semana perdi-me aqui pela noite algarvia e acabei a noite metido numa discoteca de Faro até às 5 h da matina, aquela hora em que circulam os trabalhadores domingueiros e a polícia, por seu turno, se desfaz em operações Stop no encalço dos desprevenidos usurpadores de cerveja nocturnos.
Enfim, inicialmente nem ia com a ideia mas acabei por cair na tentação. Também não é menos verdade que não ia a uma discoteca desde do último fim-de-semana que passei em Barbezieux. O ambiente não estava mau de todo, figuravam por toda a pista mulheres exuberantes nas roupas descidas na cintura e subidas no ventre, desde os vintes aos quarentas, no que me pareceu ser um verdadeiro encontro de gerações. Reinava o auspicioso glamour dos mais requintados bares in de Nova Iorque, Paris ou da cosmopolita Londres. Luzes psicadélicas e sons estridentes e rasgantes. Os brindes sucediam-se e até se cantou os parabéns em uníssono quase perfeito à menina Vera, que de menina só tinha o aspecto.
Como não podia deixar de ser bebi umas cervejolas frescolas e por ali me quedei ao som de magníficos clássicos dos anos 80, mesmo à minha medida.
No final não poderá deixar de ir para a caminha sem antes passar numa tasca para dar de comer ao bucho que dava horas pelas entranhas. Mas isto cá pelos Algarves é tão british e moderno que o raio da febra só sabia a alho. Penso que devem ser indicações da ASAE. Que saudades me deu das bifanas nas quartas-feiras de feira em Seia.
Enfim, posso dizer que esta saída foi o balizar de uma semana cansativa em que os papéis e os anseios da escola foram esquecidos por momentos.

Remédio santo

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Numa aula...

Quando a professora se preparava para entregar o teste ouviu-se esta barbaridade da boca de uma aluna - "Então professora vai entregar o teste? estou anciosa para ver se é hoje que anulo a disciplina; se anular conta para a sua avaliação, não é?".
Resumindo e concluindo, a chantagem está a começar, o resto de dignidade da profissão docente verteu a ultima gota, o pouco respeito que ainda existia extinguiu-se!
A mim já me tinha acontecido engolir de um aluno de baixo nível e tremendamente mal educado do 8.º ano que não podia berrar com ele porque a mãe era psicóloga e tinha-ó informado que isso era anti-pedagógico. Sabem que mais, só não lhe espetei com uma valente lambada porque uma alma divina me impediu.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Infelicidades...


Só acontece a quem anda na estrada, e sou muito sincero a admitir que a única coisa que me afligia o coração era a forte possibilidade de ter um acidente nesta profissão. Temia por mim, mas principalmente receava pela responsabilidade de poder contribuir para a morte de outro semelhante.
Infelizmente as últimas semanas não foram animadoras para os camionistas, pois relataram-se alguns acidentes ocorridos com motoristas portugueses nas estradas europeias. E mais uma vez, como é hábito intrínseco de alguns basbaques faz-se uma generalização, empolgando-se ainda mais o aparato.
Senti-me triste aquando daquele compatriota que teve a fatalidade de se ver envolvido num acidente que segundo tudo indica não foi sequer provocado por ele, sendo no entanto induzido a um embate por um acidente que tinha ocorrido uma hora antes. Se um local acidentado não está devidamente sinalizado torna-se um perigo mortífero para os outros condutores, facto que parece ter ocorrido uma vez que um veículo pesado não circula a mais de 90 Km/h, no entanto também não trava…vai travando. O problema é que o motorista é português e só por isso já é culpado, uma vez que em Inglaterra o culposo é sempre o visitante. Só tenho pena que o governo português não consiga afrontar o sistema inglês, como eles nos fizeram aquando do vergonhoso caso Maddie.
Hoje foi mais um colega a ver-se envolvido em Espanha num embate com uma carrinha que transportava seis patrícios para mais um regresso junto aos seus. Não chegaram porque o destino foi cruel. Paz às suas almas.
Porém, invariavelmente, a tendência foi injuriar logo o motorista do pesado que seguia descansado o seu rumo quando uma carrinha entrou em despiste, galgou o separador central embatendo violentamente no pesado de mercadorias que seguia calmamente na sua via de circulação. Trata-se mais uma vez de uma questão de iliteracia, há muitos portugueses que não sabem interpretar informação, dado que os camionistas são humanos e por isso também têm pontos fracos, estão sujeitos a erros. Neste caso, todavia, foi uma vítima. Atenção, os acidentes acontecem a todos e os que mais falam provavelmente não conhecem nada, nunca saíram de Portugal, porque asneiras todos fazem e por toda a Europa. Apenas temos conhecimento de casos envolvendo malfadados portugueses, daí que assim se opine.
Lembro-me uma ocasião que vinha em direcção a Portugal, nesta mesma estrada, e espantadamente via passar uma carrinha que me ultrapassava e aos outros numa velocidade quase furiosa. Achava eu estranho, todavia, que mais à frente essa carrinha estivesse parada num parque. A cena repetiu-se vezes sem conta até perto de Fuentes de Onoro onde deparei com a carrinha despistada numa recta aparentemente sem qualquer perigo. Provavelmente se tivesse vindo um camião de frente já se arranjava um culpado automático. Infelizmente quem culpa outrem sem conhecimento de causa – normalmente são tipos Chico espertos que vão deitar as mãos à cabeça quando perceberem que também lhes acontece e afinal não são tão exímios na condução como se julgavam – são muitas vezes os stressados que me apitavam em Lisboa ainda o sinal estava vermelho, que não facilitam a inserção nas vias rápidas, que vêem a dois Km e batem luzes para passar/ultrapassar a alta velocidade, que buzinam atrás quando está difícil de progredir num cruzamento.
Enfim, o que falta mesmo é civismo.

Os novos campos de trabalhos forçados…


Do 8 ao 80. Assim se pode classificar a mudança radical no malfadado sistema de ensino português. De uma coisa estou convencido: em nada se tem melhorado a qualidade e os resultados. Cada vez dou mais razão à velha frase do meu pai “aprendia mais antigamente até à quarta classe que agora aprendem até ao nono ano.” Seria bom que fosse mentira disparatada mas infelizmente é uma verdade cristalina.
Os resultados apresentados são uma conspirada farsa de verborreia estatística e interesse político. Estamos numa época de nomes pomposos, já não se deve dizer negativa mas nível inferior. Estamos embrenhados num sistema de palavras modernas que não conseguem esconder a tragédia dos resultados manhosamente preparados. O facilitismo é medonho! Antes passava, ou melhor transitava (é mais melhor lindo) quem sabia, hoje congeminaram-se formas para não reter ninguém (reter é um sinónimo de chumbar, mas soa melhor e tal e coisa…).
Já fui director de turma do 8.º ano aqui à uns pretéritos três anos e fiquei escandalizado e tremendamente abismado com o que vi. Sabem quantos relatórios são necessários para se “reter” um aluno, ou eram, porque entretanto já devem ser mais: três relatórios bem extensos de um igualmente extenso vocabulário. Atenção, mesmo assim, e apesar de tudo bem fundamentado o aluno ainda se habilita a passar, não vá passar pela cabeça do papá “meter um recurso” para passar o filhinho, afinal até já comprou a Play Station IV pela sua passagem de ano. “E agora querem aqueles professores que não fazem nada e ganham rios de dinheiros estragar a prenda do meu filhinho querido que estuda tanto e se porta como um anjinho nas aulas” - opinará o papá. É TRISTE.
Triste, mas copiosamente tristes são os exames do 3.ª ciclo. Fáceis e propositadamente talhados para as estatísticas a apresentar ao país e à União.
Mas enfim, afinal os professores é que chumbam os meninos, por isso são os culpados de tudo! E olha se os pais não conseguem educar os meninos em casa os professores que os aturem. Eles ganham tanto dinheiro para isso. Também é triste que assim se pense no nosso país.
De uma coisa podem ter a certeza, pelo dinheiro poucos seriam professores porque, caso se fique longe de casa pouco sobra no final do mês.
Hoje em dia a escola tornou-se um campo de trabalhos burocráticos para os professores. Passam-se horas e horas em volta de papéis que nem para uma coisa que eu sei prestam. São muito duros.
Faz umas semanas que não consigo dormir seis horas descansado. São demasiados papéis: é assustador e inumano. Infelizmente pior que o pior dos estágios.
Eles dizem que assim é que deve ser. Sinceramente hei-de assistir glorioso ao dia em que toda esta demagogia de rancor ruir e cair sem amparo num abismo bem fundo, abissal.
Pacientemente espero por dias mais alegres e motivantes no ensino…

Quem não se lembra...


Vês passar o barco rumando p'ró o sul
Brincando na proa gostavas de estar
Voa lá no alto, por cima de ti
um grande falcão, és o rei és feliz
E quando tu vês o Mississipi
tu saltas pela ponte e voas com a mente
Nuvens de tormenta já estão por aqui,
Cobrem todo o céu, por cima de ti
Corre agora, corre e te esconderás
entre aquelas plantas ou te molharás
E sonharás que és um pirata
tu sobre uma fragata
e sempre à frente de um bom grupo
de raparigas e rapazes
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
mil amigos deixarás, aqui, além.
Descobrir o mundo, viver aventuras
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
A aventura te dará o que quiseres:
muitas emoções, eternos amores
Arvores e flores, junto de ti
Esse é o teu mundo somente pra ti.
Podes percorre-lo sempre assim
Corre e sê livre e sonha feliz.
E quando tu vês o Mississipi
tu saltas pela ponte e voas com a mente
Nuvens de tormenta que estão por aqui,
Cobrem todo o céu, por cima de ti
Corre agora, corre e te esconderás
entre aquelas plantas ou te molharás.
E sonharás que és um pirata
tu sobre uma fragata
Tu sempre à frente de um bom grupo
de raparigas e rapazes
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
mil amigos deixarás, aqui, além.
Descobrir o mundo, viver aventuras
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
A aventura te dará o que quiseres:
muitas emoções, eternos amores

domingo, 19 de outubro de 2008

Seja profissional...não faça da estrada um cemitério

Portugal é o quarto país onde menos se trabalha

Média influenciada por horário de 35 horas da Função Pública, o segundo mais baixo da Europa
Adaptado de JOÃO PAULO MADEIRA in Jornal de Notícias.
"Portugal é dos países com menos horas efectivas de trabalho por semana, de acordo com um estudo da Eurofound. A população empregada do país trabalha menos 1,2 horas do que a média e menos 2,9 do que nos países mais laboriosos.
Apenas Dinamarca, Itália e França têm cargas horárias efectivas menores: a média dos 27 estados-membros da UE é de 40 horas semanais. No topo da lista estão a Bulgária e a Roménia, com 41,7 horas, seguidos do Reino Unido, com 41,4 horas. Espanha trabalha 39 horas e a Grécia 39,9.
Contudo, o facto de Portugal estar abaixo da média europeia deve ser interpretado com cautela, já que se verificam diferenças significativas entre sectores de actividade. A Eurofound seleccionou três actividades - Função Pública, indústria química e comércio a retalho - representativas do sectores público, da manufactura e de serviços, tendo constatado diferenças significativas na jornadas laborais convencionadas.
Na indústria química, o país tem o período semanal de trabalho mais elevado da Europa (40 horas, quando a média europeia é de 38,6), juntamente com outros nove países. Neste sector, o Eurofound nota que as horas de trabalho em Portugal contratualizadas estão "marcadamente acima" da média de toda a economia. No comércio a retalho, o mesmo cenário. Portugal pertence ao grupo de países com horário semanal mais prolongado (40 horas, face a uma média europeia de 38,8), acima da economia global do país.
Já no que diz respeito à Função Pública, as coisas mudam. Portugal, com 35 horas de trabalho por semana, é nesta área de actividade o segundo país com menos carga laboral, a seguir à Itália, cujos funcionários públicos trabalham 32,9 horas. Neste caso, a Eurofound deixa o reparo: as horas de trabalho na Função Pública estão "significativamente abaixo" da média nacional."



Pois é mais uma vez na cauda da Europa. Eu até custumo dizer que somos os melhores no pior. Mas não é só na função publica que se trabalha menos tempo. Uma certa vez num parque industrial português tantas vezes badalado na comunicação social estiveram 6 h para descarregar um camião turco que já esperava desde o dia anterior para o fazer. A mim restava-me esperar com paciência de santo, porque só entrava quando ele saí-se. Descarreguei muita vez na Holanda, Espanha e Alemanha sempre com uma pontualidade incrivel, nunca demoraram mais de 2:30h. Agora pensem o que quiserem...há aqueles que permanecem muitas horas no local de trabalho mas trabalham pouco, param para ir fumar de 10 em 10 minutos, aproveitam para por a conversa em dia, vão à casa de banho para passar o tempo, etc, etc.

Ao invés também há aqueles que trabalham rápido (ou pelo menos gostariam) mas não têm as devidas ferramentas. Uma ocasião numa pequena fábrica vi um tipo que fazia habilidades incriveis e mirabolantes com o empilhador, só lhe faltava mesmo dar o pino; no entanto, se havia um lote mais pesado o empilhador empinava atrás, se o lote estava mais além não chegava lá porque os garfos sao demasidos pequenitos, não pode trabalhar muito tempo seguido porque as baterias estão viciadas...Passado um pouco apareceu um senhor altivo e de aspecto espartano num Mercedes topo de gama, era o Patrão!!!!

sábado, 18 de outubro de 2008

Não é fácil...ainda me arrepio

É verdade, por vezes torna-se doloroso mudar de vida. Não é deveras fácil. Ainda sofro arrepios cortantes na espinha quando passo a roçar as grandes rodas de um camião.
Fico nostálgico pelos momentos passados. Mas enfim, agora resta-me olhar em frente e seguir o coração guiando-me também pela frieza do raciocínio.
Nunca vos disse que tenho um problema de saúde que me afecta desde petiz e que se aguçou ainda mais com o tempo. Ouve uma altura que mal conseguia respirar e sentia-me afogado da garganta. Afectou-me de tal forma que era frequente afastar-me dos lugares mais sociais porque pensava que o incomodo também se transmitiria a outros uma vez que não parava de tossir e fazer força na garganta para tentar libertar uma espécie de massa altamente pegajosa que me afogava e tentava desesperadamente expelir sem êxito.
E sabem uma coisa, a doença é crónica e apesar de já ter sido operado fiquei na mesma, mas, sem explicação, pouco me afectou nas minhas longas viagens, pelo menos da forma como me afligia antes. Não sei se dos ares se por alguma força mental e pela fé que me guiava por aí fora (nunca tinha tido tanta fé),…, de facto algo mudou em mim; talvez tenha sido a adrenalina de muitos momentos, a forma como tanta vez vi que a vida é tão cruel e efémera e que apesar de tudo à gente com piores enfermidades e destinos.
Uma vez deu-me vontade de chorar quando vi um colega francês esmagado pelo diametralmente grande volante do seu camião num embate com outro camião. A expressão daquela cara não me esquecerá enquanto viver. Foi a sua ultima expressão, um estímulo de agonia e de desespero. Aprendi a dar mais valor e apreciar a vida.
Como foi ele poderia ter sido eu, mas não fui e continuo aqui feliz por continuar a viver. Posso andar engasgado mas continuo a viver profundamente.
É tão bom sentir o ar a entrar pelas narinas e inundar os pulmões de vida!

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Virgolino:


Adeus

No momento em que escrevo estas palavras brotam lágrimas de saudade dos meus olhos. Ponho aqui um ponto final na história de Joni e do inseparável companheiro de longas jornadas pelas estradas da Europa, Virgolino.
Correm como que se de um rio se trata-se. São lágrimas carregadas de histórias de momentos únicos que só quem anda nesta vida sente na pele e compreende. Durante muito tempo pus em causa a palavra de muitos colegas que afirmavam afincadamente que custava a começar nesta vida dura, mas que com o correr do tempo se tornaria um vício suculento. E é verdade, confirmo-o, custou a começar mas ainda custa mais a largar. Sobretudo porque passamos aqui momentos e situações que não são passíveis de acontecer em qualquer outra profissão. Se a tropa faz um homem as caminetes fazem um Homem. É aquele bichinho que não se esquece. È uma espécie de veneno com antídoto raro de encontrar.
Muita gente anda por necessidade, e acredito que sofram imenso, não só pela vida dura que é, mas principalmente da ausência temporária das pessoas que amam, porque não é fácil fazer vida de nómada, longe de quem mais se ama.
Eu aprendi mais da vida num ano de motorista que propriamente em quatro anos de faculdade, em que passei horas e horas a ouvir uns senhores supostamente muito sábios a ler sebentas senis e amarelas e proferir citações pomposas de grandes autores.
Aprendi a dar valor à vida e ao trabalho, a apreciar os valores e as mais pequenas coisas da vida, aprendi a dar valor ao que normalmente se despreza e acima de tudo aprendi a dar valor a estes homens corajosos que cruzam todos os dias as difíceis estradas da Europa.
Dormi num camião, fiz dele a minha casa, cozinhei e tornei-me mestre na arte de cozinhar ao ar livre, conheci sítios, conheci imensa gente, apreciei diferentes modos de ser e de estar. Não vi televisão e não me fez a mínima falta, mas li muito e muito aprendi.
Custa sempre uma despedida e não me contenho neste momento. Choro como uma criança. Há praticamente uma semana que não durmo sossegado, sonho com as viagens, sonho que estou a acordar em Paris, Ashford, Colónia, Antuérpia, Breda.
É difícil voltar à vida comum. Já tinha perdido os hábitos. Já nem conduzir o meu carro sei, ando com o manípulo das mudanças de um lado para o outro à procura das altas e das baixas, fixo o dedo polegar para cambiar a overdrive…
Voltei a fazer uma coisa que pensara nunca mais tornar a fazer: dar aulas de Geografia. Agora tenho mais conhecimento de terreno é certo, mas da mesma forma me desiludo mais com este sistema ultra burocrático de papeladas e mais papeladas e ainda mais papeladas. Ando estoirado de tantos papéis, relatórios, papeis para tudo e mais alguma coisa. Acho que quem se vai aguentar no ensino não serão os bons professores, que gostam de dar aulas a sério, serão os resistentes à burocracia. Perco noites de volta de leis e papeis que me consomem e tiram tempo para o que realmente interessa – transmitir conhecimentos, formar pessoas para a vida… (neste momento precisam é mesmo de muita formação pessoal, de assimilação de valores básicos…)
É triste que assim seja…
Se algum dia estas palavras chegarem lá ao cimo, certamente não terei futuro a dar aulas, pois digo a verdade, o que sinto, que certamente importunará muita gente. Serei mais um a arrumar porque não sirvo o sistema. Não estou preocupado, porque estou habilitado para muito e não sirvo para obediente ao insensato e facilitismo.
Agora que estou no fim, resta-me desejar que a partir de então respeitem a vida dura destes homens e mulheres que dia e noite fazem da estrada a sua casa, que movimentam o mundo correndo de terra em terra, de país em país, sempre com o coração na mãos de Deus e o pensamento nos que deixaram para trás…e tanto amam…
Adeus….
FIM

Maneiras de ser

Tanta gente e gente tão diferente que partilha o mundo. Durante estas longas caminhadas muito apreciei nas pessoas: simpatia ou antipatia, respeito ou desrespeito, compreensão ou incompreensão, alegria ou tristeza…
Confesso que cada vez gosto mais do meu país porque venha quem vier haja o que houver conseguimos possuir sempre alguma alegria natural, daquelas que não desaparece nem que o mundo esteja para acabar. È inapto da raça lusa.
Da mesma forma tenho pena da mentalidade retrógrada, do compadrio, da acomodação e do medo de arriscar… Temos orgulho no futebol mas não apoiamos a nossa música não damos valor ao que é nosso. Faz falta uma dose de orgulho.
Seja como for verifiquei que os franceses tem um sindroma qualquer em relação aos portugueses, olham mais como os saloios lá do canto da Europa que cozinha nas áreas de serviço e tem que andar quinze dias afastado da família para ganhar a vida.
Os alemães, esses continuam com a ideia de superioridade e orgulho na raça, olham-nos de cima e tratam-nos com distância. Poucos são que os que deixam libertar um sorriso, mas também ouvi uma história de um camionista tuga que ficou retido devido à neve numa aldeia perto de Estugarda comendo e dormindo em casa das pessoas sem que elas alguma vez o tivessem visto mais magro ou mais gordo… Há de tudo.
Os italianos são vivaços, porém acho que nunca ninguém lhes explicou que a estrada tem regras e as regras são para se cumprirem.
Os Belgas têm duas facetas: os flamengos, envergonhados e muito metidos consigo e os do sul mais abertos. São muito rigorosos.
Os Holandeses vêem-nos como terceiro mundistas, embora demonstrem simpatia e extroversão.
No leste, principalmente nos países que aderiram mais recentemente à União Europeia, ainda não se perderam velhos hábitos. Há sempre qualquer problema. Por exemplo, são tão rigorosos que com uma balança única conseguem aldrabar que há um eixo do camião leva peso a mais nem que ele vá quase vazio. Tem um sistema tão desenvolvido que nas áreas onde fazem o controle, tem a lata de montar um sistema de cambio de dinheiro para cobrar multas inventadas. O dinheiro amontoa-se gerando pequenas montanhas. Têm a mania que os do ocidente são ricos por isso à que pagar dê lá por onde der.
Os ingleses dão-nos prioridade na estrada visto que de quando em vez apanham uns sustos com uns tipos de fora que se esquecem onde estão e dirigem-se sorrateiramente pela direita. Mas porque carga de água eles andam à esquerda, há outras formas de ser diferente, eheheh. É tudo muito regrado, porém são cada vez mais as histórias de insegurança e assaltos aos camiões.
Quanto aos nuestros hermanos, tem uma grande diferença em relação aos portugueses, tem orgulho no que é nacional e quem não os compreender que aprenda espanhol…
Para terem uma ideia, numa fábrica onde estava a carregar em Portugal e depois de questionar a razão de tanta demora (seis horas de seca) ouvi esta frase de um azeiteiro qualquer: “o motorista foi feito para ser fodido”, assim tal e qual.

sábado, 27 de setembro de 2008

Em terras de sua Majestade

Nem mais nem menos, acabo de terminar mais uma viajem, desta com ida e volta para os reinos de sua majestade.
Abalei segunda-feira de malas aviadas para Birmingham mais precisamente Tamworth. Como ia para Inglaterra decidi recordar profundamente os meus velhotes Cd,s dos Pink Floyd, e das músicas que durante a minha juventude (e ainda hoje eriçam os finos pelos dos meus braços. E fui…num estado sublime de musica sentimental que decerta forma eleva a alma a um estado quase metafísico tal a força dos seus acordes e tons. Fui..
Primeira paragem para dornir: Araia. Atestei os depósitos do Virgolino dormitei e sonhei como eu imaginava a Inglaterra até às 7:00, altura em que as pestanas se afastaram e me dei conta que existia um mundo real. Arranquei, na hora do almoço cozinhei umas deliciosas moelas com arroz acompanhadas de uma saladinha de tomate e pimento com muita cebola e um pouco de pepino e só parei às 19: 00 para dormir numa área de serviço ainda afastada de Calais, onde já tinha lugar marcado no Ferry para realizar a curta travessia do canal da mancha (houve agora um Suiço que o passou com os foguetes nos braços imitando as primeiras tentativas de navegação aéreas. Foi até onde deu o horário, e também porque era um lugar ainda afastado de Calais, onde reside o perigo iminente dos clandestinos tentarem entrar nos camiões para chegarem à almejada Inglaterra. Há histórias de alguns que tentam à 6 anos passar para a ilha. São histórias de miséria profunda, de jogos perigosos com passadores, de fome, frio…
Também haverá muita conivência há de pessoas envolvidas na travessia dos barcos, caso contrário não passariam tantos como ainda passam.
Estava eu na zona de entrada para o Ferry e a polícia a mandar-me desviar dos controles. Isto é, há uma espécie de túnel onde passam o camião e a carga a pente fino, incluindo com instrumentos de detecção de dióxido de carbono, mas mandam desviar-nos para passarmos directamente para o barco, agora não sei se para ser mais rápido ou se por outros motivos. Se nós não formos ao controle e chegarmos a Inglaterra com um clandestino iremos para o Xadrez e ficamos condenados a pagar avultadas multas. Até nos eixos dos camiões se tentam meter, assim como nas galeras frigoríficas onde só não falecem porque começam aos abanões e murros na fibra das paredes. Houve casos de mortes com hipotermia. Falta saber de quem é a culpa?!!!!! Dos camionistas penso que não, decerto nenhum quer arriscar prisão e pagar multas que os deixariam na penúria….
E prontos, fiz a travessia sempre na proa a apanhar o ar fresco e húmido da brisa marítima, uma verdadeira delícia.
Quando cheguei ao outro lado começamos logo a circular pela esquerda, na primeira rotunda ainda passei por cima do passeio, eehehehehe, não dei o devido desconto para a direita, lol. Depois disso, foi sempre a dar ferro com o Virgolino. Só Londres demora 1 hora e tal a passar… Mas os Ingleses são civilizados, pois mal ligamos piscas para fazer uma ultrapassagem ou entrar numa via e logo batem luzes para entrarmos esperando que a manobra se realize sem buzinas ou tentativas desesperantes de passar. Se assim fosse em Portugal certamente haveria menos acidentes, mas não é, bem pelo contrário, não nos deixam meter e ainda apitam, mas também quando se esquecem do comprimento dos camiões nas rotundas e ficam apertados no ângulo morto já apitam pedido clemência ao camionista…
Gostei do cheiro da Inglaterra, cheira a verde a natureza e a mar. E não é como dizem, não vi nevoeiro, ao invés, apanhei um sol radiante e reluzente. Ainda combinei um encontro com o meu amigo Amaral mas não foi possível devido a desencontros de horários e distâncias. Mas gostei, embora ache que os ingleses deviam começar a melhorar os acessos às industrias, uma vez que algumas ainda ficam no centro de bairros com acessos horríveis e sem condições para carregar, por exemplo cargas que bem poderiam ser descarregadas em cais são descarregadas de lado dando o triplo de trabalho e demorando tempo desnecessário.
Mas lá vim de novo para França onde carreguei mais uma vez batatas para a Lourinhã, sem que antes passa-se um fim-de-semana em pleno na área de serviço de Le Muret, na recta de Bordeus, onde os que não eram portugueses eram de leste. O arroz de lulas é que estava um pitéu ó ti Ramiro!
Acabei por descarregar as batatas e carregar para Hamburgo onde deveria descarregar na próxima terça, era então quarta-feira. Mas já não vou…
Abraço forte

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Leituras...

Neste momento encontro-me embrenhado na leitura de um livro do Paul Auster: “Pensei que o meu pai era um Deus”. A única palavra que me ocorre assim repentinamente para classificar esta obra é MAGNÍFICA. Ou seja aquilo que é magno, maior, superior.
Esta obra compõem-se de um vasto número de histórias reais com algo de estranho, coincidências mirabolantes, sobrenatural e simbólico no estado mais real da vida humana.
Comecei a ler e não consegui parar, parece que fui engolido por uma fome devastadora e devoradora de histórias.
São histórias contadas na primeira pessoa, contadas por pessoas comuns que assistiram a situações veramente invulgares e carregadas de simbolismo, onde retratam o “coração mais profundo da América”.
Aconselho vivamente…

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Não estou longe

Bem longe vos escrevo
Contando as aventuras desta vida
Às vezes digo-vos alegrias
Outras, falo-vos de misérias
De verdades que doem

Assim ando longe
Mas sei que não estou só
Estão aí desse lado
Rindo das minhas confidências
Do que aconteceu hoje
Do Virgolino e deste fado

Escrevo sobre mim
Mas não quero ser egoísta
Transmito sobre linhas desta vida dura
Guiando a vida por uma pista
Assim…
Sei que nunca estou só

Aconteceu em Madrid

Às uns dias atrás sonhei, sonhei muito e por longas horas. Quando tirei o corpinho da cama e me espreguicei furiosamente doía-me a caixa pensante de tanto sonhar e tornar a sonhar.
Fiquei só com o Virgolino na AP 6 entre Sanchadrian e Madrid. Todos os carros, motas, caminetas, autocarros e camiões ficaram assim, parados num ar que se lhe deu. Olhei para o interior nem uma mosca quebrava o misterioso silêncio. Estranho, digo eu meio atemorizado. Que monotonia. Até o carro patrulha da Guarda Civil estava ali imóvel, rádio e CB abafados pelo silêncio. Apenas os bonés pousados no tablier do carro e umas papeladas no banco de trás…
Mas que fila longa nas duas vias de circulação da auto-estrada, nunca vi tanto carro amontoado na minha vida, porém também nunca assistira a tanto silêncio, uma espécie de surdez. Só eu no mundo. De repente nem os telemóveis funcionavam, liguei e tornei a ligar e nenhum sinal de ninguém. Mas para onde foram todos. Parece que partiram para outro planeta ou foram aprisionados por uma nova ordem mundial de força e levados para outros confins…se calhar foram capturados e tornados escravos dessa ordem obrigando-os a trabalhar arduamente num planeta árido a partir pedra, sempre guardados por gigantes e mal encarados monstros de dentes amarelados do podre e olhos salientes e esbugalhados.
Afinal porque só me deixaram a mim no mundo. Às tantas não me viram…
Tocou o telemóvel. Era o despertador. Gosto de acordar ao som de música.
De repente comecei a ouvir os carros a assobiar ferozmente e a rolar pela estrada para cima e para baixo. Percebi então que estava a dormir e acordei de um estranho pesadelo. A primeira notícia que escutei no rádio dava conta de um terrível acidente no aeroporto de Madrid onde tinham perdido a vida cerca de seis dezenas de pessoas.
De facto algo estranho tinha acontecido em Madrid…

In der Lacke

Assim se chama a localidade onde vou carregar amanha para Palmela. Pela primeira vez, desde que trabalho nesta empresa vou directo para Portugal sem fazer triângulos em Espanha (rogo para que assim seja).
Mas bem, para aqui estar descarreguei em Aranda do Duero e carreguei em Vitória para Colónia. Assim na terça abalei de Portugal apontado para Sancti Spiritus onde já tinha um café agendado com o Simões e atestei os depósitos do Virgolino para não ter sede durante a viagem. È quase como os camelos, tem uma reserva para uns dias longos, eheheheh.
Daí só parei no cliente, onde depois de 4 horas de desesperante espera me descarregaram. Fui jantar a um restaurante onde comi o quis por 10 aérios, comi quase como um alarve, parecia que de repente fui atingido por uma ira de gula, logo dois temerosos pecados juntos.
Na subida para a Alemanha combinei mais um encontro com o Verdinho que já não via fazia quase dois meses (vou-vos fazer uma confidência: o Verdinho vai para deixar esta vida e trabalhar para França onde já o espera a mulher). Bebemos um café e entretanto chegaram dois colegas que me fizeram companhia até Paris, onde fizemos o tacho e pernoitamos. Uma boa caldeirada de peixe regada com vinho do Dão veio mesmo na senda do apetite desconsolado. Qualquer dia pareço um bisonte.
Amanheceu e parti para Colónia, onde de repente parecia que tinha chegado à Turquia. Onde descarreguei, pleno Porto de Colónia era só Turcos a trabalhar, inclusivamente nos escritórios da empresa. Descarreguei sobre uma cólera de chuva gelada e fui dormir debaixo de umas árvores logo ali à frente. Só quando acordei me apercebi que do outro lado do rio ficava o centro de Colónia. Era cedo e já andavam os alemães a correr, dar umas voltas de bicicleta e passear peludos cães. Uma coisa me “importunou” o famigerado sono no cair da noite. Em Colónia vive-se seguro e sem medo. Eram umas onze horas e as pessoas passeavam descontraidamente e solitárias ao longo das margens do rio. Em Lisboa não se aconselha ninguém a andar sozinho na rua por estas horas.
Tive pena de já ter ordem de carga para In der Lacke, donde vos escrevo. Aí teria oportunidade para conhecer Colónia e ver as loiras.
Porém estou em In der Lacke sozinho à porta da fábrica visto que por aqui não há nada para ver a não ser o rio que serpenteia por estes vales. A estrada para cá chegar fez-me lembrar a subida para as Corgas, sinuosa e estreita. Houve uma localidade pelo meio bastante bela: Altena. O centro fica mesmo enfiado no fundo do vale do rio, onde o casario acompanha o seu curso.
Confesso que foi a forma de por a escrita em dia e preencher os relatórios de viagem que arrasto de viagem para viagem. Ainda tenho na ideia dar uma arrumação ao Virgolino.
Mas antes vou ali comer um bife de vaca que tenho a descongelar.
Até para a semana que se Deus quiser hei-de estar em Portugal a beber um copo…ou dois….

PS: Enquanto vos escrevi deliciei-me a ouvir êxitos dos anos 80, lembram-se de The Best – Tina Turner, Fade to Gray – Visage, Girls on Film – Duran Duran ou Cambodia Kim Wilde.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

The Story

Uma das músicas maravilhosas da actualidade, daquelas que traduzem na realidade um verdadeiro estado de alma...


All of these lines across my face
Tell you the story of who I am
So many stories of where I've been
And how I got to where I am
But these stories don't mean anything
When you've got no one to tell them to
It's true...I was made for you

I climbed across the mountain tops
Swam all across the ocean blue
I crossed all the lines and I broke all the rules
But baby I broke them all for you
Because even when I was flat broke
You made me feel like a million bucks
Yeah you do and I was made for you

You see the smile that's on my mouth
Is hiding the words that don't come out
And all of my friends who think that I'm blessed
They don't know my head is a mess
No, they don't know who I really am
And they don't know what I've been through like you do
And I was made for you...

Brandi Carlile
Composição: Phil Hanseroth

Tudo acabou na piscina

Enquanto a maior parte da malta descansa em férias eu cá vou viajando pelas faixas negras da Europa com o meu Virgolino. Não é que faz hoje quinze dias arranquei eu para Madrid para ficar logo encalhado na AP6, por ocasião fechada a camiões…Nunca vi tanto carro a passar numa estrada na minha vida. Pareciam uma interminável bicha de formigas obreiras. Bem o melhor é deitar o belo corpinho na cama e dormir. Descarreguei ao outro dia e fui para Barcelona para fazer as outras entregas. Recebi ordem de carga para Zaragoça onde aconteceram mil e uma coisas. Primeiro, quando retirava o carro da cais enfiou-se um tubo que descaiu do reboque entre o meio do trator e o chão. Foi um mar de trabalho para o conseguir retirar. Se não fosse um tipo que só me parecia o Bob Marley ainda agora lá estava. Eu farto daquela trabalheira e o tipo só se ria não deixando de ser uma figurinha com o seu nariz achatado e largo e as longas rastas a caírem sobre a sua cabeça oval.
Entretanto como na queda do tubo se estragaram as entradas de ar do reboque e uma vez já num parque ali ao lado um espanhol ofereceu-se para me ajudar e a verdade é que o nuestro hermano percebia mesmo de mecânica.
Pronto, fui depois em direcção a GenK e dai para Bruhl para carregar à noite já sem horário. Não fosse o Simões aparecer por lá e não sei como teria sido, ainda lá estava.
Daí viemos sempre os dois juntos até Valladolid onde descarregamos os dois. Ele dormiu no parque da fábrica porque ia descarregar de manhã e a mim obrigaram-me a dormir cá fora pois só descarregaria à tarde. A carga é para eles, se a roubarem a responsabilidade seria-lhe atirada à cara. Quando me viram a entrar lá com umas cervejas ainda tiveram a lata de perguntar se eram para eles (seguranças) ao que eu os mandei levar onde levam as galinhas.
Passou-se, descarreguei e carreguei para subir mas troquei de reboque pois estava no meu direito de vir a Portugal.
Levei 25 toneladas de batata para a Lourinhã. Nunca vi tanta batata junta na minha vida como as que estavam no armazém onde descarreguei. E para chegar ao cliente. Nem vos conto nem vos falo as voltas que dei. Subi uma ladeira com alguns 7 % de inclinação andei em becos tão apertados que os velhos e crianças abeiraram-se todos para ver o Virgolino triunfante na sua passagem por mais este insólito. No final passei a mão na testa para limpar o suor que escorria pela testa abaixo criando o intenso ardor nos olhos. Mas estava feliz porque este fim-de-semana estreei a piscina da minha aldeia, uma obra magnifica fruto do persistente trabalho da Comissão. O lugar é óptimo, soalheiro e airoso e a vista é deslumbrante e longa.
Depois tiro umas fotos para verem…
Bye

domingo, 31 de agosto de 2008

Era uma vez em Portugal...

Anda tudo para ai aos tiros a boa maneira dos westerns americanos. Só falta mesmo o Bud Spencer e o Terence Hill para porem cobro visto que a policia está completamente desautorizada – como os professores – em nome de um país onde vinga o facilitismo e o nada fazer. Este é mesmo o cerne. Trabalhar faz calos e dá cabo das costas por isso é bem melhor arranjar um emprego mais leve e melhor remunerado, quem sabe talvez roubar ou traficar umas armas potentes dê menos trabalho e seja sobremaneira rentável.
Pois é, neste ultimo caso ainda não se sabem pormenores, apenas se aventa isto ou aquilo de uma forma suposta de muitas suposições. Porém, nos últimos dias a vaga de crime tem assulado fortemente o nosso país, são roubos, homicídios, corrupção, acertos de contas, enfim uma mão – daquelas bem grandes – cheia de coisas más.
Realmente isto não está fácil para quem quer trabalhar, mas se não é numa coisa é noutra arranja-se sempre que fazer. Se eu estivesse a sonhar com a colocação numa escola ainda não tinha acordado. Todavia teria sido mais fácil chular o estado durante um ano e depois meter-me por ai na má vida. O mal é que pagam a muita gente marginal para não trabalhar e ficar lá no bairro a consumir, traficar, roubar carros. È o resultado de não ter nada para fazer, vindo depois queixar-se que são marginalizados, a sociedade não lhes dá oportunidade e por ai fora. A verdade é que trabalhar está fora de questão, afinal até recebem por serem uns coitadinhos.
Há lugar no mundo para todos mas também é necessário fazer ver, se preciso com força, que este país tem leis e são para se cumprirem. Como diz uma amigo meu “a bófia só se mete com os trabalhadores.” Até é mais fácil, sabem que somos honestos, que não temos uma pistola para andar aos tiros, que temos respeito, que temos que trabalhar para ter uma casa.
Deixem lá essa malta pois eles são assim por culpa da sociedade que tem leis e não devia ter.
Para acabar com tudo só falta mesmo o sensacionalismo mediático dos média: se a polícia bate coitado do ladrão, se os ladrões fogem a culpa é da polícia. Opino eu, que segundo eles o policia devia ter a seguinte conduta: “Ó senhor ladrão não faça isso, então você anda para ai a roubar e matar, olhe que isso é feio e a sua mãe não gosta”. Vá lá pose lá a arma.” E claro, o criminoso amavelmente entrega imediatamente a arma à policia e ficam todos felizes.
Aí…nem vale a pena dizer mais nada, chamem mas é o Tarzan que isto está uma selva.

sábado, 16 de agosto de 2008

De Bruxelas a Madrid são 22 horas de distância, vou lá ir mais o Virgolino mas não sou um avião, eu vou a Madrid eu vou com o Virgolino mas não sou um

Há pessoas que trabalham em determinados ramos sem terem o mínimo senso do planeamento e estratégia inerentes ao bom funcionamento do mesmo. Falo dos transportes terrestres de mercadorias em particular mas poderia falar de outros ramos de actividade. Vejamos, depois de passar à frente da Basílica de Bruxelas e enfiar o Virgolino debaixo de uma ponte de 3,90 m (o Virgolino tem 4 m de altura) cheguei ao cliente em Bruxelas. Carreguei rápido porque o senhor até estava bem-disposto ficando ainda melhor com a Sagres que lhe dei. È para beber muito fresca - acrescentei ainda em tom imperativo.
Estava tudo a correr bem até que quando recebi o CMR deparei que a carga tinha 17 horas para chegar a Madrid, visto que a descarga estava programada para quarta às 4 h da manha, o que na prática é impossível – podendo, no entanto, haver quem o faça, não vos digo é como… mas quem não faz sou eu com certeza – ou seja, deram-me dois horários (nem isso) para chegar ao cliente em Madrid. Ora dois horários a 9 h dão 18 h de condução e mesmo que faça a 10 h perfaz vinte, o que nunca e em tempo algum soma 22 h de condução. Ainda para mais eram 11 h quando abandonei Bruxelas mais o Virgolino. Para me facilitar ainda mais a tarefa apanhei um bouchon (bicha) de 1h 30 m perto de Moons. Posto isto, no lugar de ir pela auto-estrada somos obrigados a fazer uma nacional (N2- entre Maubege e Paris) cheia de semáforos e velocidades limitadas, tirando-me mais uma hora de trabalho em relação à Auto-estrada. Quando cheguei a Madrid a chica ainda teve a lata de me dizer que vim atrasado e por isso só me podiam descarregar à tarde, facto que para mim não dava pois vinha a andar desde a meia-noite e tinha obrigatoriamente que parar o Virgolino às 15 h. Mas também me disse que esta carga chega sempre atrasada e eu até fui dos mais rápidos. Então mas que raio de planeamento é este? Até parece que andam a querer gozar com a malta…Enfim.
Posto isto, já só carreguei ao outro dia para Alcácer do Sal. Dormi lá, divaguei à beira do Sado e sentei-me na esplanada a contemplar os passantes, os tiques, forma de andar, as gajas boas…
Amanha vou de novo para Madrid e depois acabar com mais duas descargas em Barcelona..
Inté meus caros

A Febre dos Camiões

Não encontro outras palavras para descrever a afluência tão grande aos camiões que acontece nesta fase da história contemporânea. Vêm de todos os ramos, dos mais variados países e por diferentes motivações. Nesta era onde estou seguramente 90 % dos camiões são oriundos da Polónia. Nesta quinta-feira vi um senhor de aspecto bastante ossudo, na casa dos 50 anos, calvo e com aspecto algo mórbido que depois de uma vida de pequeno empresário e com a vida feita se viu obrigado a mudar apostando nos camiões como a saída para a crise. Como este são muitos e muitos.
Mas a verdade é que não é fácil e nem os 1500 euros muitas vezes conseguem segurar as pessoas. Vejamos: o estilo e ritmo de vida alteram-se completamente, esqueçam-se o conforto do lar doce lar, as belas e recheadas refeições em família, as saídas para tomar café e os passeios, bla bla bla…bla bla bla. Habituem-se à solidão, a uma vida nas estradas da Europa, onde se cozinha, dorme, se fazem as necessidades. Habituem-se a uma vida onde se correm riscos diários e é proibido errar. Um tempito a mais no horário e lá vão 300 ou 400 euros, um engano no preenchimento dos discos e lá vão mais 1000 euros. Nós estamos proibidos de errar. Um polícia pode rasurar uma multa se por eventualidade se enganar mas nós se nos enganar-mos somos criminosos, só quem cá anda sabe e pode falar. Isto não é para todos, e convoco aqueles que dizem que isto é fácil para aguentarem 15 dias, não peço mais…
O certo é que principalmente em Portugal e nos países de leste os camiões são a última saída para fazer face a uma vida de elevadas despesas e salários irrisórios, mas nem todos aguentam porque não é só abanar a árvore, é uma vida de imensos e intensos sacrifícios.

Da Holanda para Vós

Estou na Holanda desde quarta à noite, descarreguei quinta às 5 horas da matina e esperei por carga até sexta à noite. Quando por ali apareci já estava um colega esperando notícias de carga fazia dois dias pois agora com as tão esperadas férias o grosso das empresas estão fechadas. Sexta-feira eram cerca de 19:17 minutos recebi uma chamada para carregar em Bruxelas, bem perto do centro da cidade. Já vi no mapa onde fica e o estranho é que nas proximidades não há nenhuma zona industrial, mas não faço previsões e além de tudo vou pela primeira vez a Bruxelas, quem sabe ainda veja por lá o Dr. Durão Barroso, esse grande compatriota que abandonou o nosso barco quase a afundar-se para assumir um almejado cargo na Comissão Europeia.
Enfim, o certo é que na vinda para a Holanda houve alguns acontecimentos, normais no ramo, mas que ainda não me tinham atingido. Primeiro num parque maluco onde aparquei o Virgolino na segunda por volta das 19 horas fizeram-me um corte na lona, coisa estranha uma vez que qualquer alma menos iluminada conseguia enxergar que transportava pneus. As cargas de pneus são muito valiosas e como no nosso caso são carregados em lonas notam-se pequenas bossas aqui e ali com o próprio padrão do pneu bem impregnado. Por vezes é mesmo só o gozo e safada malvadeza. Não bastava isto, desta vez, mais dois colegas, apanhei um grande bouchon (engarrafamento), no Periférique Interieur de Paris, que nos obrigou a andar quase 1 hora aos soluços e chegar ao parque da empresa em Le Plessis-Belleville com mais 7 minutos além das 10 h que são permitidas fazer dois dias por semana. Porra, lá vou andar com os tomates em risco de caírem por mais quase um mês. O certo é que não podia parar nas vias rápidas de Paris, ou dormir com pneus nos arredores de Paris. Seria um honroso convite a mãos alheias. Coisas…
Este fim-de-semana é a festa Popular e Religiosa da minha aldeia e pela primeira vez na vida passo-a longe, distante dos jantares e almoços empertigados de comida para a família que se reúne nesta ocasião de festividade. Pois é, embora a festa já não tenha aquela magia da infância é a altura em que regressam os emigrantes espalhados por esse mundo fora para verem os seus e a sua aldeia. Lembro-me quando brincava no meio da pista de dança atrás das luzes espalhadas simetricamente pela bola de espelhos bem estatelada em lugar alto e central do dancing, improvisado em placas de aglomerado e guardado por ramos de tenra mimosa. Eu nunca foi muito de danças e das poucas vezes que tentei armar-me em prodigioso dançarino pisei repetitivamente os pés a uma bela loirinha que gentilmente aceitou o meu convite. Escusado seria dizer que tivemos que abandonar a dança a meio, eheheheheheh…. Outra vez ainda espalhei-me com o meu par contra ou casal que acabou a dançar no chão. Foi a confirmação que não tinha perfil para dançarino. Lembro-me ainda das incontáveis vezes em que os famosos conjuntos musicais da região terminavam a sua actuação e começava a verdadeira festa para nós, numa verdadeira arte de imitação musical e lendária peça teatral. Normalmente só me deitava com a chegada madrugadora da filarmónica que com fôlego invejável percorria as íngremes e irregulares ruas e ruelas das Corgas. Saudades, mais desses tempos que particularmente da festa.
O certo é que estou numa área de serviço da Holanda. Ontem em Breda ainda fui ao centro da cidade e entrei numa das famosas Coffie Shops. Digo-vos que só o cheiro atmosférico me deixou tão tonto que mal se abeirou a noite dormi como uma pedra bem afundada na crusta terrestre.
Estou aqui com um colega da empresa a passar o fim-de-semana. Já fizemos arroz de marisco para o almoço de ontem, à noite fui ao Macdonalds e hoje acho que vai um franguito com massa, ainda estou indeciso. O tempo nas vastas planícies dos países baixos está fusco, ora o sol raia por entre imensas abertas, ora se cobre e caiem efémeras mas fortes chuvadas. As temperaturas rondam os 20 º, podendo atingir valores inferiores principalmente durante a noite.
Vocês lá na aldeia bebam aqueles copos por mim…eu sei que sim, eheheh
Até um dia destes, que a gente vê-se por ai na esquina, eheheh

sábado, 2 de agosto de 2008

Eu e o Virgolino no Centro Comercial

Depois de um belo fim-de-semana com piscina e banhos de sol abalei para Neu Ulm. Sempre a dar ferro pois tinha que descarregar os pneus quinta às 4:45 da manhã. Lá fui cortando caminho novamente estrada do centro adentro. Porém, desta decidi fazer uma nacional entre Chalon e Mulhouse. Perdi quase uma hora é certo mas a paisagem vale bem mais que isso. Aldeias típicas e rústicas e percurso acompanhado de um belo rio. Aliás se o horário me desse para dormir lá teria sido magnífico. O rio vai serpenteando paralelo à estrada por vezes preso em diques seguidos formando escadarias de pequenas cataratas. Verdadeiramente lindo de se contemplar. As casas típicas e as ruas tradicionais convidam a um passeio. Não resisti, apesar do pouco tempo; parei o Virgolino e ainda coloquei as mãos para medir a temperatura da água. Mas para a próxima espero ter tempo para tirar umas fotos e verem como a descrição corresponde à imagem numa perfeição sublime.
Quando descarreguei fui primeiro carregar a uma aldeia numa serra coberta de um denso bosque vestido de verde-escuro e castanho Outono para completar a carga em Estugarda. Aqui sim fui recebido por uma loura gira e muito simpática, cruzando-se os nossos olhares durante longos segundos. Houve uma sintonia de olhares que não me evitaram de estar um dia inteiro para me carregarem, e eu a ver o horário a acabar.
Posto isto vim por aí fora até Barbezieux, onde passei o fim-de-semana acompanhado pelo Pequeno Loureiro e um companheiro da Viana e Gonçalves que já havia passado o ultimo fim-de-semana comigo em Montluçon. Fomos á discoteca ver as meninas e o certo é que fizemos sucesso. Pois é, estávamos diferentes de todos os arranjadinhos com ar de garganeiros. Camisola de alças, calções e chinelos de enfiar no dedo. No domingo fomos para um lago que ladeia a vila onde demos banho à minhoca e bebemos uma belas cervejas, pagas ao preço do ouro.
Enfim, e assim passei o fim-de-semana na boémia. Terça cheguei a Madrid para descarregar em três clientes e ainda dormi em Torija, perto de Guadalajara, onde carreguei pela manha para Gondomar. Aqui sim, foi o fim do mundo. O Virgolino passeou por toda a zona comercial de Gondomar, entre ruas estritas e péssimos condutores. Parei numa rotunda para perguntar onde se situava o cliente provoquei logo um número infinito de buzinadelas, e eu na minha. Depois no centro comercial, feito para carros ligeiros temos que descarregar e passar pelo meio do centro comercial quase a raspar em colunas de betão e paredes. As pessoas até ficam imóveis a ver a perícia dos motoristas na verdadeira aventura de passar ali com um camião Tir. No meio de espera para tirarem os carros que me impediam de passar fiz 30 minutos a mais no disco, o que dá a módica quantia de mais de 300 euros em Espanha e eu sem culpa nenhuma. Apenas porque o fui obrigado a fazer. Se fosse o polícia que estivesse no meu lugar o que faria pergunto? Deixava o camião no meio da via era…Acho que também tem de haver compreensão porque ao olhar para o disco dá para ver perfeitamente que andei aos soluços e algo estranho se passou, mas isso para eles não interessam esfregam logo as mãos de contentes. Agora ando aqui à rasca durante um mês uma vez que temos que nos fazer acompanhar dos discos dos últimos 28 dias. Vocês podem não acreditar mas um polícia, pelo menos na Espanha e França, fica rancoroso quando não tem por onde pegar. Eu próprio não acreditava mas já testemunhei com estes lindos olhos. Ou seja no lugar de ficarem excelsos de alegria ao verem que os motoristas cumprem, ficam é possessos de não apresentarem quantias exuberantes aos seus superiores. Isto tudo é um recado para aqueles que pensam que isto é fácil e que se ganha 1500 euros a conduzir. Esses que falam assim não lhes dava uma semana aqui, porque com certeza que não aguentariam. Cinco minutos a mais no horário pode dar uma multa elevada…
Que tirem a carta e venham cá que eu quero-os ver, nem os 1500 euros os segurariam..
O que interessa é que estou em casa e se tudo há-de correr bem que na segunda vou para a Holanda. Querem vir?
Xau

Está ruim mas está bom

Já faz uns tempos que não vos escrevia, no entanto não pensem que eu me esqueci, por isso cá estou de novo a contar as novidades de à três semanas atrás.
Como vos havia dito anteriormente parti na terça feira para para Valladolid, onde deixei abandonado por entre seus velhos andantes companheiros o meu inseparável Virgolino. Afinal é a minha casa durante longas viagens, muitas vezes até um grande confidente e amigo. Não sei se já vos contei porque se chama ele Virgolino. Correndo o risco de ser repetitivo vou-vos então adiantar em primeira mão a razão deste nome algo insólito: quando era pequenito ficara inúmeras vezes em casa dos vizinhos, um dos quais tinha um burro teimoso que nem uma porta chamado Virgolino, nome tão estranho quanto cheio de graça, não acham?
Mas voltando à viajem, tenho a dizer que comecei por ficar sem o telemóvel, que pese embora seja um objecto necessário, também tornou a vida humana muito mais stressante. Mas tudo aconteceu quando estava no parque da empresa para apanhar boleia de encontro ao Virgolino. Nisto apareceu um colega que se ofereceu para me levar e no acto de carregar malas e bagagens para o camião fui-me esquecendo do telemóvel no muro branco e esguio das escadas que dão para a pequena portaria onde está o segurança. Pois bem, acabou por ficar lá estatelado ao sol só me lembrando do mesmo quando vi o meu colega a telefonar antes de Vilar Formoso. Logo telefonei para a portaria mas já ninguém deu conta do dito cujo. O segurança ainda mandou umas piadinhas desgostosas: “que esperava, que ainda cá estivesse”, respondendo eu que fosse eu a encontrar um telemóvel e logo procuraria descobrir o seu dono. Aliás nem foi pelo telemóvel mas mais pelo cartão que continha os números de muita gente. Também foi um abre olhos porque em alternativa deveria ter os números numa lista. Enfim, já arranjei um novo número e esqueci o assunto.
Cheguei então de encontro ao Virgolino, arrumei a comida e a roupa estival (à quase dois meses que visto calções, chinelos e camisolas de mangas de alças em nome do meu conforto). Engatei um reboque que me esperava, descarreguei e carreguei para Bhrul na Alemanha. Lá fui.
Dormi na recta de Bordeaux, onde também jantei com um colega ucraniano que me ofereceu o jantar. Digo-vos uma coisa, nunca tinha comido manjar ucraniano; que é delicioso é inegável, bastante condimentado. Estive depois na converseta até anoitecer pois tinha que me levantar às 4h da matina. Retemperei forças e parti estrada do centro adiante até Mulhouse, onde fiz 11 h de descanso. Daqui para a frente já estava perto do cliente, cerca de duas horas. Quando cheguei lá atendeu-me uma alemã típica e muito mal-humorada, acho até que continha em si uma mania de superioridade. Também lhe dei o mesmo troco e comecei a falar-lhe em inglês para lhe demonstrar que era mais culto que ela e não estou limitado a falar unicamente a minha língua materna.
Lá dentro da fábrica foi diferente porque eram operários Italianos. Uns espalhas borralhos, falam alto como os portugueses e metem logo conversa. Disseram-me onde era o WC e o duche para me refrescar. Daqui tornei a carregar para Valladolid, todavia era sexta e a partir de Julho que na França a circulação de pesados é interdita aos sábados, uma vez que ao domingo é durante todo o ano. Acresce ainda que segunda seria feriado nacional em França, somando a pouco módica quantia de 3 dias parados numa área de serviço.
Os franceses passam os fins-de-semana nas áreas de serviço. Trazem a família, comem e passam ali o dia divertindo-se à sua maneira. Neste que passei em Montluçon tinha inclusivamente insufláveis para crianças e lojas num centro comercial.
Nós porém, camionistas portuguesas fizemos comida e até jogámos à bola no meio do parque de pesados. Foi um festim. Os camionistas de leste riam-se a olhar para nós.
A propósito, hoje em dia a Europa está inundada de camiões oriundos do leste. Os motoristas nesses países ganham muito menos comparando com os do ocidente e além disso andam meses fora do lar doce lar. Lavam a roupa à mão e improvisam estendais entre as colunas do reboque. Esses sim são verdadeiros nómadas. Nesta área houve uma situação que me comoveu. Vi um Polaco com as lágrimas nos olhos a falar da filha que não via à quatro meses, mas o certo é que é por ela e pala família que o seu ordenado sustenta que ele fazia tamanho sacrifício. Um romeno disse-me que 75% da população romena vive das divisas dos familiares que labutam arduamente Europa fora.
Ao invés, na área do Suco, Espanha, conheci um caminero nuestro hermano mais ou menos da idade do meu pai com quem mantive uma viva conversa acerca do passado bélico que opunha Portugal a Espanha. Uma coisa que ele me disse não esqueço: “chico Espanha levantou-se e Portugal está na mesma”, mas admitiu que a nova geração está hipotecada até às orelhas vivendo muito acima das suas reais possibilidades. Concordou que os jovens estão mal habituados e não estão para fazer grandes sacrifícios, porque não o foram obrigados a fazer até então. Uma coisa é certa, os países mais desenvolvidos da Europa olham para nós como corruptos, aqueles que não sabem aproveitar os dinheiros para criar riqueza no país e desenvolver. Em contraponto também já me disseram:” Portugal está ruim mas está bom”, pois apesar da crise a mentalidade e a forma de estar não muda. Há crise mas bebem-se na mesma umas cervejas, ehehehehh
Enfim, entretanto no meio disto tudo cheguei a Portugal e parto de novo para a Alemanha, agora para Neu Ulm.
Bons banhos de sol e não se esqueçam do protector….
Até mais ver.

domingo, 6 de julho de 2008

Apanhado em flagrante...

Esta semana começei a dar punho (entenda-se a acelerar) no Virgolino com as coordenadas marcadas para Barcelona, descarregando primeiramente em Vila Franca del Pénedes e posteriormente no aeroporto de Barcelona. Até aqui tudo conforme mandam os cânones de carroceiro, até ao momento em que se chegou a hora de procurar o cliente dentro do espaço de cargas do aeroporto. Primeiro enfiei-me numa rua sem saída e foi quase o fim do mundo em manobras para lá fazer uma inversão de marcha. Rios de suor, salgado e morno, sulcavam o rosto drenando violentamente a pele tostada. Com a ajuda de um Jornaleiro consegui e fui perguntando onde se situava o procurado cliente, facto extremamente difícil e infrutuoso pois não havia alma que conhecesse tal empresa, até que por fim um companheiro espanhol que me via andar por ali às voltas fez-me parar e levou-me lá a alta velocidade por entre rotundas apertadas e ruas estreitas. Não fosse esta alma caridosa aparecer e ainda me enfiava pista de aterragem adentro. Ainda estive junto ao portão com o Virgolino apontado para lá e não poucas vezes passaram-me uns repentes na cabeça, ehehehheh, ia dar que falar, ehehheheheh.
A malta que me acolheu na empresa fora simpática e aprazível e despacharam-me rapidamente, como sempre deveria ser. Só não vos disse que o transito em Barcelona é complicado, ainda por cima não pude evitar a hora de ponta.
Quando vinha a subir rumo a Zaragoça para carregar para Genk, cidade Belga onde existe uma associação lusa, parei num alto depois de uma subida que fez disparar a temperatura do Virgolino para fazer uma pequenita pausa, e, nisto, abeira-se de mim uma linda menina que também fez disparar a minha. Olá! – disse ela ao que eu respondi na mesma moeda. Apenas estragou tudo quando a seguir libertou dos seus belos lábios as seguintes palavras num dialecto um pouco esquisito: “chupar 20, folhar 30”; só nesta altura me apercebi que era prostituta, e pelos vistos não era espanhola, suponho que romena, pelo ar que apresentava…dahhhhhhhhh, lol. E eu a pensar que a rapariga precisava de ajuda ou de boleia, ehehehehh
E pronto, carreguei em Zaragoça e bota a todo o gás para Paris, onde passei o fim-de-semana a comer que nem um alarve, beber que nem uma esponja e conversar com a malta. Ainda foi a uma feira, ou melhor feirita tal o número diminuto de feirantes e ainda menor de apreciadores ou compradores. Toda a gente olhava para nós vendo logo que não éramos destas terras.
Chegou-se o inicio de semana e dá de novo canha ao Virgolino para não se desabituar e se tornar prisioneiro de alguma preguiçite aguda.
Quando recebi ordem de carga calhou-me Bruhl, pequena localidade sobranceira de Colónia. Cheguei e disseram-me que só ia carregar por volta da meia-noite. Dai, deito o belo corpinho na cama e toca a bater sono ao quilómetro. Acordei, e deu-me na ideia de tomar um banho. Ora bem, mas não há duche pelo que vou ter que arranjar alguma artimanha. Nem mais, estavam perto de 30º C, e como estava estacionado lá num canto despi-me exibindo o belo cabedal e toca a mergulhar cabeça na água e depois num acto que me fez lembrar a infância quando todos tomava-mos banhos em alguidares e bacias levante bem alto o alguidar e dou licença à água para inundar o meu corpo suado. Ensaboei-me e enxaguei-me novamente com água limpinha. Mas tudo seria perfeitamente normal se na parte final deste saboroso deleite de água não aparecesse o alemão a dizer se eu queria encostar o camião pois já havia lugar, desviando o olhar quando viu um maluco de um português todo nu atrás da caminete a tomar uma banhoca e a cantarolar…lololo
E vim por ai a baixo direito a Portugal todo feliz da vida até acontecer outro insólito: houve uns emigrantes tugas com carro de matrícula belga que fizeram um festim quando passaram pelo Virgolino, num acto de afecto e demonstração de alegria de quem vai ao seu país depois de um ano de trabalho árduo em terras alheias. Desatei a chorar como uma criança, eriçaram-se-me os pelos de emoção, tal qual como quando cantamos o hino. Pensei quão felizes iriam estas pessoas de voltar a ver a sua aldeia de frondosos pinheirais e rústicas casas de pedra, milheira ou negra. Eu que depois de 9 dias já sinto alguma nostalgia, que será destes compatriotas que ficam um ano fora do seu lar doce lar, dos seus e das suas. Se as saudades tivessem um medidor chamar-se-ia saudadómetro e cifraria as medições numa escala de milhão em milhão, pois nunca é pequena a saudade. As destas pessoas deviam ir a tocar no cimo da escala, quse a rebentá-la. Buzinavam e eu buzinei num concerto de buzinas desenfreadas de alegria. Pedi a Deus que lhe desse boa viagem até aos seus.
Voltei a mim e vira para Portugal que nunca mais chega a hora. Estou em casa desde ontem e parto terça-feira na companhia do inseparável Virgolino.
Até uma próxima.

P.S. A palavra saudade também existe em ucraniano e pronuncia-se tal e qual como em português possuindo igualmente o mesmo significado. E como descobri? A ver um filme ucraniano, onde por várias vezes ouvi a palavra saudade a um militar durante a guerra. Curioso perguntei a um ucraniano que me confirmou que era a mesma palavra que nós temos em português e serva para caracterizar o mesmo estado de espírito.

Desabafos de um Camionista

Desta vez vou deixar-vos aqui um relato de um companheiro e amigo de profissão acerca da vida dura de camionista internacional. Estou convicto que as palavras por ele apresentadas representam lucidamente e com concisão quão dificil é esta profissão.

"Sou conhecido por Verdinho e como referido acima sou camionista internacional. Antes trabalhei como carpinteiro, serralheiro, tractorista, já fui também jardineiro e até servente de obras. Já trabalhei na Franca Bélgica e Luxemburgo.
Durante uns tempos fiz também transportes para Bélgica e Franca enquanto serralheiro de alumínios.
Comecei faz uns 4 meses a trabalhar como condutor internacional e nunca pensei conhecer pessoas e locais que tenho vindo a conhecer. Nunca pensei também vir a ter as saudades que tenho da minha mulher e da minha querida filha, a ponto, de até à pouco tempo (não sei se também pela pressão que estamos sujeitos) dar comigo a chorar (palavra que me é estranha!) . Pensei na minha filha e chorei pois lembro-me que o pai já não tem tempo para ela como tinha quando era mais pequena; a relação e os laços tornam-se mais fracos e distantes. Nestes últimos 4 anos pouco tempo tenho passado com ela. Até à pouco tempo estive 3 anos a trabalhar com a minha esposa em França. Penso daquilo em que um camionista fica privado: da família, do conforto sua casa e dos cozinhados e refeições em presença dos amados! Agora resta-me a retrete ao ar livre e uma casa de 4 metros quadrados! (Ate certas celas são maiores!)
Por entre dias e noites a pensar, chega-se a conclusão que somos reclusos de profissão! A média passada em casa são 4 dias mês mais as ferias a que temos direito. Durante os cerca de 15 dias em que viajamos tenta-se programar o tempo que se vai passar em casa e quando se dá conta esta na hora de partir e não se fez metade, vai dai e rouba-se tempo ao descanso que tanto nos faz falta.
Por entre domingos e feriados que não se podem trabalhar em França passa-se ora fechado na lata ou em convívio com colegas da mesma firma ou de outras. Encontra-se pessoal porreiro e outro ainda com quem não se pode ter um diálogo digno de gente sã. Indivíduos que acham que são os maiores, outros que tentam desabafar e acabam por ser chatos pois estão a encher a cabeça a pessoas que estão no mesmo barco. As conversas, quando não se fala de horários, camiões, clientes, trajectos ou de patrões, são ora de mulherese carros ou de futebol. A gente anda por necessidade não pelo gosto da solidão que passamos! Eu pessoalmente cheguei a conclusão que tenho de mudar de vida o mais rápido possível."

domingo, 22 de junho de 2008

Irronpemdo pela greve...

Olá!
Ao contrário de muitos companheiros tive a boa sorte de permanecer no lar doce lar durante o desencadear da greve dos camionistas lusos e espanhóis. Mas fiquei porque cheguei na sexta com descarga para quarta aqui nas redondezas e só não troquei de galera para por o Virgolino a galope na segunda-feira pois já havia imensos colegas na fronteira fruto do impasse e incerteza que se vive do outro lado em terras de “nuestros hermanos”.
Tive sorte pois claro, nas na quinta quando arranquei ainda havia muitos indecisos na fronteira apesar da Guarda Civil declarar sem grande convicção que era seguro circular. Contudo na realidade continuavam a chegar camiões marcados por testemunhos de violentas guerras territoriais e espaciais…vidros partidos em difíceis e imprecisos puzzles, cabines amolgadas, rodas furadas e ópticas destrinçadas, enfim, vestígios de uma dura cruzada por entre as orles inimigas. Quando por ali parei o Virgolino reinava um clima de receio e suspeição, a pele arrepiava-se em pequenos vulcões prontos a espirrar para fora a sua fúria e o estômago encolhia-se aflitivamente. Não é fácil quando assim é mas os patrões a pressionarem que tem de andar e não podem ficar parados, por vezes com ameaças ferozes, uma marcha de pressões de quem não vive o perigo de perto, mas o motorista não interessa, há muitos e baratos e os seguros pagam os danos nos carros. Tudo o que menos interessa é o ser humano! Aliás devido a isso e dando mais valor à vida que a uma carga que neste contexto interessa é ser descarregada com segurança alguns abandonaram a profissão…e de facto acho que eu faria o mesmo porque gosto de viver, trabalhar também mas com segurança e condições. Não me cabe na massa cefálica que alguém com respeito pela vida humana e com indicações precisas dos movimentos e tácticas no terreno possa mandar avançar alguém para os dentes afiados da violência. Sinceramente não compreendo ou melhor até compreendo, os carros parados não dão lucro mas nós não somos os culpados pela situação para pôr-mos a vida em risco e decerto os clientes não podem quebrar pelos atrasos perante um panorama destes. Tive sorte só isso porque estava em casa e se me mandassem para lá era mais um soldado desarmado que ali ficava esperando até haver condições para desbravar montes e vales com o Virgolino. Tive sorte…repito.
Arranquei então para Madrid na quinta já o pior tinha passado, parando mal se começou a avizinhar a noite confidente da escuridão e do medo devido a noticias que havia camiões a serem selvaticamente incendiados em Madrid. Correu bem, não dei por nada e logo fui carregar para Gent. Mais 24 toneladas na albarda do Virgolino, que esfrega! Par lá a viagem correu bem, com fim-de-semana pelo meio em Barbezieux. Que desilusão passear pelas ruas desertas de uma típica vila francesa. Valeu um bailarico à noite no adro da majestática Igreja, porém muito aquém dos típicos bailaricos com sardinha assada e vinho do nosso Portugal.
Na segunda lá fui para Paris para descarregar na terça em Gent. Descarreguei, carreguei e voltei para Paris onde pernoitei, acontecendo pela matina o inesperado. Tinha um pneu vazio. Já mudei muitos pneus de carros mas de camião foi o primeiro e tal como todas as primeiras vezes foi bem mais complicado. Suei, dobrei ferros, e só depois de três horas e com a ajuda de dois colegas consegui completar o trabalho.
Posto isto, arranquei em grande mecha para Burgos. Mais uma vez às 7 da tarde foi difícil arranjar um buraco para estacionar na Nacional 10, só depois de algumas voltas arranjei um buraco na berma da estrada. Se não for feito algo rapidamente para melhorar isto qualquer dia temos que ficar a dormir na berma da estrada porque não há parques. Será que os responsáveis não vêm isso?
Uma coisa me consolou durante a viagem: o verde e o perfume suave do feno nos grandes campos franceses, que sensação deliciosa. E outra coisa, como as cargas se atrasaram até nos trataram melhor nas cargas e descargas, ou seja, com o respeito que merecemos; meras coincidências ou simples necessidade….ehehehheh
Tudo de bom

segunda-feira, 9 de junho de 2008

sábado, 7 de junho de 2008

Cruzando os belos Alpes franceses

Vivam!
Voltei, desta vez com um curto espaço temporal: seis dias de viagem. Isto sucedeu-se uma vez que o destino de pequenos frascos de vidro e esguias e requintadas garrafas foi uma pequena aldeia dos Alpes franceses bem perto da fronteira italiana e não muito distante da Suíça.
Talvez, ou melhor, com definida certeza posso afirmar que das viagens que já fiz foi aquela que me regalou mais os olhos fruto de verdadeiras pérolas esculpidas pela mãe prodígio e jóias erguidas pelo Homem em plenos Alpes franceses. Foi uma sucessão de películas de vertiginosas e aguçadas montanhas, vales apertados, largos vales, cobridos com uma espessa e despegada vegetação verde aqui e ali riscada com manchas amareladas, laranja, castanha…enfim, uma beleza. Esparsas eram as áreas de solo desprovido e rocha mãe.
As aldeias, também elas, marcam o preservar do original e genuíno através dos tempos. Casas escoradas em vertentes declivosas, de pedra amarelada com telhados cinzentões não destoando porém com a natureza prodigiosa, finamente esculpida como o corpo de uma bela mulher. Janelas largueironas e jardins de todos os tons ladeando as construções.
As gentes, pois, falta falar das gentes que por aí fazem vida. Completamente diferentes, são acolhedoras e deixam libertar um sorriso acolhedor de boas vindas. Até encontrei lá uma francesa casada com um português a trabalhar no armazém de mel onde deixei a carga que me fez andar às voltas e voltas por estradas inclinadas ao sabor das montanhas e dos vales. Nunca o Virgolino ficara tão quentinho…puxa já suava e tudo. Mas cheguei a passo lento lentinho e isso é que interessa para a questão. Quando irrompi pela aldeia dentro foi bonito ver as pessoas a olhar descaradamente para o Virgolino e quando assim é algo se passa… e passou que me vi e desejei para lá dar a volta, tanto assim que ainda trouxe uns ramos de arvores a enfeitar o Virgolino até Marselha, uma pequena e cheia de graça recordação.
Vou fazermos uma revelação e primeira mão, talvez tenha sido a prenda pelos meus TRINTA anos em cima de solo terráqueo, é uma verdade irredutível fiz 30 anos dia três de Junho. Ainda nem acredito mas já tenho trinta anos, já é um pedaço de vida com muitas histórias, peripécias, tristezas, alegrias enfim vários momentos…sabem que na infância me chamavam Tom Saywer, não só pelas semelhanças na melena farta e cara arredondada, mas também pelas aventuras…sempre fui um tipo aventureiro. E não é que desde à uns tempos até esta parte toda a gente me pergunta quando trato da vida, ou seja, quando formo um lar, eheheheh. È que para as gentes aqui da província com esta idade já devia era ter crias em meu redor e uma companhia para me aquecer os pés (essa parte até dava jeito). Mas a vida é assim, ainda não aconteceu, talvez porque não tenha encontrado o testo para a minha panela… mas não me ralo, eheheheheh, qualquer dia ponho um anúncio no jornal, eheheheheheheh.
Continuando…depois de por ali desalbardar o Virgolino caminhei rumo a Viviez, região igualmente montanhosa e de belas aldeias, aliás como as aldeias que cruzei seguindo a nacional 124 de Toulose a Bordeus. Posso afirmar com absoluta claridade que são verdadeiras aldeias jardim. Cada casa, cada rua ou ruela tem frondosos e multicolores jardins, uma mistura de tons rubros, castanhos, amarelos e verdes. Belissimo é a palavra para caracterizar esses miúdos e frondosos povoados. Tudo tão limpinho que nem as folhas se ajuntam em pequenos amontoados.
A caminho de Viviez, numa área de serviço, ainda encontrei três portugueses a visitar esta zona, três marmanjos com ar de 30 anos.
Na volta entrei por Vigo pela primeira vez, e não me desiludi. A Espanha assim como Portugal é um país marcado pelo contraste físico, um festival de paisagens tão diferentes quão belas.
E fico-me por aqui manifestando também o meu descontentamento para com os indignos e vergonhosos preços dos combustíveis.
Disso falarei mais adiante…
Abraço

sábado, 31 de maio de 2008

Ao entrar em Portugal

Sabem, nunca pensei vir a ter tantas saudades de Portugal, mas confesso que verdadeiramente sinto apertadas saudadas deste cantinho de terra à beira mar plantado, país de poetas e escritores, de alegria e melancolia,..., é o nosso Portugal. Posso dizer que na verdade esse sentimento de Amor cresceu como uma avalanche desde que ando a rodar pelas estradas europeias, não sei, talvez a distância tenho desplutado em mim esta sensação única e insólita que é a saudade, palavra nobre e tão somente portuguesa que mais nenhum bocado de terra cerrado com fronteiras geo-políticas a que chamamos países tem. Somos os únicos tal como somos os únicos e genuínos nesta estranha forma de ser: tão depressa somos abraçados por uma excitante alegria como rapidamente se apodera de nós um mega-estático estado de melancolia sombria. Vamos ao sabor das modas que os ventos carregam para estas paragens mas somos autonomos e próprios nesta forma de manifestar os sentimentos. Enfim, talvez tenha sido a saudade a catarse para criar e manter vivo este blog.
Já me perguntaram se não tenho saudades das aulas. Eu respondo que não e todos ficam boqueabertos. Não raras vezes relembro alguns momentos mas nada que eu possa designar por saudades. É certo tive boas turmas com que mantive uma excelente relação e não os esqueço, mas o sistema e a forma como está implantado afasta de mim e para longínquas paragens a saudade.
Ainda ontem vinha a ouvir as noticias que vão aumentar o número de vagas dos cursos tecnologicos e profissionais; até ai tudo muito bem, concordo em pleno e aplaudo. Mas espero que isso não seja sinónimo de marimbar do estado para com as suas responsabilidades de formação superior dos cidadãos nacionais. O que quero dizer é que desta forma se pretendem diminuir o número de licenciados e por conseguinte licenciados desempregados, ou seja uma questão de estatística, porque infelizmente é disto que vivem os governos na busca do fundo e recheado tacho. Até se compreende, é que por vezes um técnico usufrui um ordenado igual ou superior a um engenheiro, e tem preferência na selecção e recrutamento. Mas espero é que ao apostar-se nos cursos profissionais não se esteja a apostar em simultâneo no facilitismo e não se estejam a criar técnicos para áreas menos necessárias. Também espero que no futuro os técnicos vejam o seu trabalho recompensado com um vencimento compatível e não com míseros e famintos ordenados que se registam nalgumas regiões do país.
Por outro lado está-se a tentar reduzir o número de licenciados e reduzir a massa crítica do país, porque segundo se sabe Portugal não tem licenciados a mais, tem é técnicos a menos e infraestruturas desadequadas para responder às necessidades dos seus licenciados, porque um professor, por exemplo, pode fazer infindas e multifacetadas funções, como se faz em muitos outros países.
Mas tudo isto para vos dizer que quando entrei em Portugal com destino a Alhos -Vedros senti uma notória dissemelhança. Bem a paisagem por Badajoz é magnífica, o verde, os penhascos, as colinas arredondadas, os grandes latifundios...mas quando se entra em Portugal sente-se a diferença, as estradas ruins, a insuficiência de sinalização, a intolerânia dos condutores...tanto é assim que em Lisboa quando entramos num cruzamento ou arrancamos num sinal começam logo às buzinadelas, será que não compreendem que não ultrapassamos os 90 km\h e são veículos muitos lentos no arranque, não há paciência! Enfim...cromos de cabeça de aço ...
POrque é que quase ninguém faz o pisca quando se retoma a via, alguém me consegue explicar!?
POis eu consigo: falta de civismo, tão puro quanto a água é transparente e o ouro de tons amarelados e brilhantes.
Este é o nosso Portugal, e não é deste Portugal que tenho saudades, é do Portugal que desejo melhor...