sábado, 2 de agosto de 2008

Está ruim mas está bom

Já faz uns tempos que não vos escrevia, no entanto não pensem que eu me esqueci, por isso cá estou de novo a contar as novidades de à três semanas atrás.
Como vos havia dito anteriormente parti na terça feira para para Valladolid, onde deixei abandonado por entre seus velhos andantes companheiros o meu inseparável Virgolino. Afinal é a minha casa durante longas viagens, muitas vezes até um grande confidente e amigo. Não sei se já vos contei porque se chama ele Virgolino. Correndo o risco de ser repetitivo vou-vos então adiantar em primeira mão a razão deste nome algo insólito: quando era pequenito ficara inúmeras vezes em casa dos vizinhos, um dos quais tinha um burro teimoso que nem uma porta chamado Virgolino, nome tão estranho quanto cheio de graça, não acham?
Mas voltando à viajem, tenho a dizer que comecei por ficar sem o telemóvel, que pese embora seja um objecto necessário, também tornou a vida humana muito mais stressante. Mas tudo aconteceu quando estava no parque da empresa para apanhar boleia de encontro ao Virgolino. Nisto apareceu um colega que se ofereceu para me levar e no acto de carregar malas e bagagens para o camião fui-me esquecendo do telemóvel no muro branco e esguio das escadas que dão para a pequena portaria onde está o segurança. Pois bem, acabou por ficar lá estatelado ao sol só me lembrando do mesmo quando vi o meu colega a telefonar antes de Vilar Formoso. Logo telefonei para a portaria mas já ninguém deu conta do dito cujo. O segurança ainda mandou umas piadinhas desgostosas: “que esperava, que ainda cá estivesse”, respondendo eu que fosse eu a encontrar um telemóvel e logo procuraria descobrir o seu dono. Aliás nem foi pelo telemóvel mas mais pelo cartão que continha os números de muita gente. Também foi um abre olhos porque em alternativa deveria ter os números numa lista. Enfim, já arranjei um novo número e esqueci o assunto.
Cheguei então de encontro ao Virgolino, arrumei a comida e a roupa estival (à quase dois meses que visto calções, chinelos e camisolas de mangas de alças em nome do meu conforto). Engatei um reboque que me esperava, descarreguei e carreguei para Bhrul na Alemanha. Lá fui.
Dormi na recta de Bordeaux, onde também jantei com um colega ucraniano que me ofereceu o jantar. Digo-vos uma coisa, nunca tinha comido manjar ucraniano; que é delicioso é inegável, bastante condimentado. Estive depois na converseta até anoitecer pois tinha que me levantar às 4h da matina. Retemperei forças e parti estrada do centro adiante até Mulhouse, onde fiz 11 h de descanso. Daqui para a frente já estava perto do cliente, cerca de duas horas. Quando cheguei lá atendeu-me uma alemã típica e muito mal-humorada, acho até que continha em si uma mania de superioridade. Também lhe dei o mesmo troco e comecei a falar-lhe em inglês para lhe demonstrar que era mais culto que ela e não estou limitado a falar unicamente a minha língua materna.
Lá dentro da fábrica foi diferente porque eram operários Italianos. Uns espalhas borralhos, falam alto como os portugueses e metem logo conversa. Disseram-me onde era o WC e o duche para me refrescar. Daqui tornei a carregar para Valladolid, todavia era sexta e a partir de Julho que na França a circulação de pesados é interdita aos sábados, uma vez que ao domingo é durante todo o ano. Acresce ainda que segunda seria feriado nacional em França, somando a pouco módica quantia de 3 dias parados numa área de serviço.
Os franceses passam os fins-de-semana nas áreas de serviço. Trazem a família, comem e passam ali o dia divertindo-se à sua maneira. Neste que passei em Montluçon tinha inclusivamente insufláveis para crianças e lojas num centro comercial.
Nós porém, camionistas portuguesas fizemos comida e até jogámos à bola no meio do parque de pesados. Foi um festim. Os camionistas de leste riam-se a olhar para nós.
A propósito, hoje em dia a Europa está inundada de camiões oriundos do leste. Os motoristas nesses países ganham muito menos comparando com os do ocidente e além disso andam meses fora do lar doce lar. Lavam a roupa à mão e improvisam estendais entre as colunas do reboque. Esses sim são verdadeiros nómadas. Nesta área houve uma situação que me comoveu. Vi um Polaco com as lágrimas nos olhos a falar da filha que não via à quatro meses, mas o certo é que é por ela e pala família que o seu ordenado sustenta que ele fazia tamanho sacrifício. Um romeno disse-me que 75% da população romena vive das divisas dos familiares que labutam arduamente Europa fora.
Ao invés, na área do Suco, Espanha, conheci um caminero nuestro hermano mais ou menos da idade do meu pai com quem mantive uma viva conversa acerca do passado bélico que opunha Portugal a Espanha. Uma coisa que ele me disse não esqueço: “chico Espanha levantou-se e Portugal está na mesma”, mas admitiu que a nova geração está hipotecada até às orelhas vivendo muito acima das suas reais possibilidades. Concordou que os jovens estão mal habituados e não estão para fazer grandes sacrifícios, porque não o foram obrigados a fazer até então. Uma coisa é certa, os países mais desenvolvidos da Europa olham para nós como corruptos, aqueles que não sabem aproveitar os dinheiros para criar riqueza no país e desenvolver. Em contraponto também já me disseram:” Portugal está ruim mas está bom”, pois apesar da crise a mentalidade e a forma de estar não muda. Há crise mas bebem-se na mesma umas cervejas, ehehehehh
Enfim, entretanto no meio disto tudo cheguei a Portugal e parto de novo para a Alemanha, agora para Neu Ulm.
Bons banhos de sol e não se esqueçam do protector….
Até mais ver.

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