domingo, 30 de janeiro de 2011

Por Aqui

Já não o conheço
Porque já foi tão diferente
Não era assim o meu país, quando nasci
Não era assim da última vez que sonhei

A bandeira continua igual à muito, a esvoaçar
Continuo a gostar deste país
Mas mudou tanto, só ficou o travo da saudade
Já nem me lembro que ainda é meu

Que se passa?
Não vejo pessoas contentes por aí
Só se cruzam olhares caídos, infiéis
O barco volta para levar outros tantos
Muitos abandonaram, restam os que vagueiam, por aí

Ficam os xailes pretos e a negridão da partida,
Já nem as estrelas luzem para uma noite alegre
O sol não ilumina os trilhos ancestrais,
Por aqui e por ali infestam as ervas daninhas
O vento já não ruge para desmascarar os inimigos

Onde vivem as almas limpas?
Ficam especados os espantalhos, sem réstia de vida
Lá dentro os corações ainda batem, arfando forças
Por aqui ainda existem ceifeiras lindas
Por aqui ainda nasce trigo rijo
Ainda há esperança em ti

domingo, 23 de janeiro de 2011

Maria

Maria

A Maria tem a bata rota
É pobrezinha e não tem remendo nem agulha
Na bolsa quase vazia trás uma côdea de pão rijo
A Maria desde que nasceu é pobrezinha
No ventre já se lhe sabia do destino
Sem ir a um bruxo ou adivinho
Iria ser sempre assim até ao fim da vida
Nunca viu outro país,
Mas há anos que sonha em vestir um fato fino

Não é assim tão pobrezinha a Maria
Não tem dinheiro, não vive de gula
Mas têm farinha e uma gamela para amassar a broa

Todos os dias mais uma ruga sulca o rosto
Está velha e já lhe custa arrastar as pernas
E continua pobrezinha
Triste porque não era este o fim
Quando uma cigana lhe leu sina

Nasceu para ser escrava assim
A Maria nunca viu outro país
Foi sempre a sua agonia

JONI

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

De volta...

O tempo não tem sido muito, mas é uma desculpa insuficiente, porque na verdade pensei muito se deveria continuar este blog ou não.
As razões prendem-se com o seu objectivo, inicialmente nasceu para contar as minhas aventuras pelas estradas da Europa. Já não tenho aventuras para contar, mas tenho outras histórias do quotidiano e da minha profissão, que, alguns mais outros menos, acharão com certeza interessantes.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O meu país

Sem rumo vais meu país
Estás doente, de cancro no espírito
Partem tristes os teus filhos
Em busca da esperança que já perderam
De um despertar que tarda
Fogem a passos da machadada final

Dizem que a ditadura foi outrora
Mas as palavras encravam na garganta
Há medo de sujar o resto da vida
Que saudades de liberdade se sentem agora

Está mal este rumo,
Torce-se o leme em favor dos fartos
As ondas e brisas já não nos levam à Índia
Trazem uma borrasca travestida da China

Longínquas glórias já tiveste
Agora, só restam sobras de saudade
Quando se contam essas lindas histórias
É passado, não governa a plebe
Nem sobra desses tempos um tostão

Estamos por agora sozinhos,
Os amigos da velha senhora são estranhos
Empurram-nos para o caminho que vão construindo
Talhando as curvas que interessam
Os fartos vão sorrindo
E nós cá vamos indo
Calados, esperando no nevoeiro
Sonhando, apertados à espera que o outro fale
Desembainhe a espada
E distribua o pão

O tempo não é de heróis
Não tilintem as espadas de todos
Prontas a derramar luta, aguçadas
E os fartos mais engordam comendo carne suculenta
Aos tísicos não sobejará nem uma teta seca.