quinta-feira, 28 de maio de 2009

Congestionado

Eis-me aqui depois de uma relativa ausência. Não tenho tempo nem para me coçar, daí que a minha frequência por estas bandas esteja fraca de sinal.
Estou por aqui para vos dizer que a meu lado tenho cerca de 60 testes, alguns com seis páginas à espera que estes olhos os percorram com soberba seriedade, e sobre o papel branco escorra tinta vermelha da minha inseparável bic (as mais comuns e baratas, visto que sou um professor contratado auferindo um salário miserável e muito trabalho às costas) para medir os resultados do meu trabalho e, em igual medida, o resultado do esforço e dedicação dos alunos (cada vez menos). Mais ao lado, no interior de um largo e mastigado saco branco estão empilhados como um baralho de cartas mais uma manada de 60 trabalhos escritos, alguns originais, outros modestios pelágios ao alcanse de um clic. Cá estou para os separar e distinguir com mérito ou nem por isso.
Tenho dormido umas apressadas 5 horas diárias e a minha cabeça já rebenta, não tarda vomita com uma congestão de testes ingeridos durante a noite, caindo nos lençois azuis marinhos sem esperar por um arroto que me sinalize a ausência de perigo. Deito-me com a barrigua empertigada de testes. Isso faz mal.
Hoje acordei e ainda peguei num teste do cimo do monte mas até ao momento em que vos escrevo não consegui dar-lhe seguimento. A bic vermelha espera que os meus dedos parem de saltitar de letra em letra e a agarre com primor de força matando-lhe o vício de deslisar nua e justa castrando todas as letras erradas, palavras desnexadas e frases sem conteúdo de sintaxe e semântica. É uma punidora.
Entretando ganhei força para recomeçar, dei umas aulas e vou imiscuir-me neste monte atafulhado de papel e tinta azul. Afinal eu até gosto de corrigir e medir sobremaneira o que ensinei e o correspondente suor de estudo de alguns dos meus alunos, porque outros nem por isso; têm outras prioridades: o telemóvel de ultima geração ou o último grito nos realistas jogos de computador, um passeio no Fórum pelas lojas de trapos,...
Tenho que continuar e como é regra nos meus últimos meses, mais um fim-de-semana que foi num balão que não consigo, apesar da teimosa insistência, apanhar.
O sol está lá fora....

domingo, 17 de maio de 2009

Neros dos impérios modernos...

Ando assim um pouco indignado cá com o nosso cantinho de terra.
Estas pretéritas semanas foram férteis em notícias pouco abonatórias aos bons valores sociais e ao bem-estar físico. Ambos são condições indissociáveis de uma boa qualidade de vida.
Primeiro, foi a gripe H5N1 que se alastra a um ritmo alucinante pelos pontas e recantos da nossa bola redonda. Os casos aumentam exponencialmente um pouco por todo o lado, embora as previsões adivinhem uma contenção rápida da doença.
Seja como for esta questão conduz a uma análise mais minuciosa desta nova peste, cuja origem é muito polémica e fortemente condimentada de grande insipidez. Amarga é a forma como continuam a morrer homens e mulheres, que, por grande azar, se atravessaram no seu irredutível caminho.
Porém, algo me deixou intrigado, pois, segundo veiculam algumas notícias - umas fontes mais fidedignas que outras - , esta gripe, bem como uma catadupa de outras maleitas mortais, tem origem em investigações descuidadas e nalguns casos autênticos negócios maquiavélicos, que fazem lembrar o (des)governo dantesco do insano Nero na Roma imperial.
Outrora, em tempos idos, Nero incendiou Roma e culpou os cristãos pelos seus actos infames. Matou-os depois, utilizando-os como brinquedos esfarrapados para os seus esfomeados leões. A multidão sedenta de morte e sangue aclamava-o loucamente, tornando ainda mais incurável a loucura do imperador.
Hoje, encobertos, temos um incontável número de Neros, que do alto das suas cadeiras-sofá almofadadas comandam os botões da máquina da vida. Quando não a malária e outras doenças que tais estariam faz muito erradicadas do mundo terráqueo, a dor da morte dolorosa e demorada seriam desconhecidos dos povos terceiro mundistas.
Mas é assim que funciona o nosso mundo e os seus comandantes ávidos de lucros fáceis e astronómicos. Morram os mais necessitados e os lucros serão imensos. Que seria das grandes cadeias farmacêuticas se a cura de algumas doenças estivesse ao dispor de todos. Não se venderiam medicamentos, logo não haveria lucro. O mais importante para estes imperadores de almofada fofa é que não se cure mas se remedeie porque, desta forma, o dinheiro cairá nos seus fundos e egocêntricos cofres.
Afinal donde surgiram os gases mais mortíferos e as doenças mais catastróficas senão da evolução e da fome de poder e domínio.
Somos governados por novos Neros que lançam o caos e vivem na mais podre felicidade. Em Portugal e por essa Europa fora muito se falar de crise mas, sobretudo, muito se têm aproveitado da dita cuja para lançarem a sua frieza furiosa, dando azo ao que há muito desejavam fazer. Com um menor número de pessoas conseguem um lucro maior, mansões numas ilhas paradisíacas, poder económico para manipular o ainda mais infecto monstro político.
Pouco interessa se as gentes passem fome, fiquem na miséria, não tenham dinheiro para ter os filhos a prosseguir estudos ou a casa para pagar. Isso é de importância somenos, afinal o lucro individual é o que tanto interessa!
Usa-se o poder em proveito próprio, enxovalha-se quem trabalha. Isto dá nojo e vómito.
Soube ontem que numa câmara deste país se suspendeu um professor porque numa aula um aluno se magoou. Infeliz do professor, pago a recibo verde, tal como tanta gente neste país, que teve o azar do menino envolvido no percalço ser filho do presidente do município. Masis um da geração moderna a quem tudo traumatiza.
É um exemplo de como funciona esta máquina demoníaca, que suspende, tenta calar a bouca, apagar as formas da escrita e censura tudo o que não lhe convir.
Mente-se cada vez mais fácil, por isso não gosto da política nem dos seus meios e tentáculos imundos.
São os Neros dos tempos modernos.