domingo, 20 de abril de 2008

Tiques e afins

Ontem descarreguei no Porto no armazém de uma conhecida cadeia de supermercados nacional, donde com sinceridade não fiquei com ponta de saudade. Primeiro fazem as pessoas esperar horas afim, muitas delas com os horários a queimar – como um rapaz que morava a 50 km dali mas como tinha somente mais 30 minutos de condução foi obrigado a fazer ali um descanso de 9 horas para matar as saudades da família – segundo somos nós, motoristas ou camionistas (como queiram chamar) que descarregamos a caminete. Não sei se sabiam mas os seguros não cobrem qualquer acidente que ocorra durante esse acto, pois para tal existem os ajudantes de motorista, supostamente, ou então os empilhadoristas. Depois, quando acontece uma desgraça, ou porque caiu do camião, ou também porque não utilizava o equipamento de segurança, mas nunca porque estava ou tarefa que não lhe cabe, se bem me entendem!? O motorista é que fica mal e acabou-se.
Mas o que me levou a escrever este poste foi uma situação caricata que aconteceu no Porto na área de serviço de Águas Santas. Tendo eu conhecimento que estava perto do cliente parei para ali passar a noite e dirigi-me a um senhor que ali fazia o seu descanso de 45 minutos (a 20 minutos de casa) e questionei-o sobre o tempo que eu demoraria até ao cliente. Ele disse-me que para ai uns 45 minutos que na prática foram 15 mas pronto… Nisto, vira-se o homem para mim: olhe que esta área é frequentada por gays. Mais uma vez já viram a minha sorte. Eles bem rondavam o meu camião – sou um tipo bonito, não tenho culpa – mas eu fechei cortinas e toca a dormir. Mais uma vez só não acerto nas mulheres.
O engraçado é que o tal homem cada vez que falava dava a volta com a placa dentária dentro da boca, um tique que nunca tinha eu visto em pessoa alguma. Há aqueles de enrodilhar o cabelo, meter a mão no nariz…mas dar a volta à cavidade bocal com os dentes, hehehhheh
È domingo, vou beber uns copos com a malta.
Xau xau

Manobras

E as manobras…

Para quem não sabe as manobras com um conjunto tractor/semi-reboque são substancialmente diferentes das manobras com um veículo único, ou seja, sem reboque chico ou semi-reboque. Pois é e eu ando aqui há dois meses e há dias em que me vejo à nora, embora agora já me comece a entender um pouco com o bicho. No inicio esquecia-me e quando virava para um lado já o semi-reboque estava todo atravessado no sentido contrário. E não imaginam onde já tive que enfiar o Virgolino. Enfim, aos poucos cá vou até me tornar o verdadeiro profissional em manobras…

Fim-de-semana Gastronómico em Metz

Olá caros amigos, como andam essas vidas!? Bem espero.
Eu cá ando como Deus assim quer e permite.
Ora bem, muito vos tenho para contar destes quinze dias que estão a passar. Primeiro tenho de vos dizer que na segunda arranquei de casa e apanhei boleia com um Búlgaro até Araia; tudo correu bem tirando a parte em que o senhor só dizia si e no. Enfim, lá “dialogamos” utilizando as mãos e os braços. Isto durante 8:30 h…
Depois disto verifiquei que o Virgolino estava de novo sem água pelo que me tive de dirigir a uma assistência próxima, claro, com ordem dos maiorais. Parece que a coisa se resolveu porque o guloso deixou de se empanturrar em água ou ainda lhe cresciam rãs na barriga. Sendo assim só arranquei dali na quarta direccionado a Vitória para descarregar numa vila alemã designada Saarlouis, onde está situada uma fábrica de uma conhecida marca do ramo automóvel.
Por lá descarreguei e dormi, até ao outro dia de manhã, altura em que arranquei para outra localidade, neste caso no nordeste de França, Metz. Aí passei o fim-de-semana mais outros quatro portugueses. Foi uma verdadeira folia, pelo menos gastronomia portuguesa não faltou. Sabem, nesta vida fodida são estes momentos que lhe dão um misto de agradável. Fizemos uma caminhada ao longo de um lindo canal e quando demos por ela já fazia 2 h que andávamos a dar trabalho às pernas e o melhor remédio foi mesmo voltar para trás, hehehehehehh
Precisávamos de vinho para o jantar e almoço de domingo pois já tínhamos bebido umas litradas ao almoço. Não foi difícil arranjá-lo porque ali perto havia e supermercado recheado dele. E acabamos por beber mais umas valentes litradas. Atenção que só assim o fizemos porque durante o fim-de-semana não iríamos pegar nos camiões.
E as refeições? Se tivésseis oportunidade de as contemplar com os vossos olhos e narinas estou certo que de imediato vos correria uma gostosa levada de água na boca.
Primeiro fizemos um esparguete com carne bem apaladada, no domingo ele foi um suculento bacalhau de cebolada e ao jantar uma sopinha bem forte, já sem vinho, eheheheh
Sabem uma coisa curiosa: à noite estávamos no estabelecimento comercial da área de serviço a contemplar as meninas que por hora aí trabalhavam; éramos então os únicos clientes e passado um pouco chegou a polícia a medir-nos, ou seja, foram elas que os chamaram com medo de nós. Acho que não estão habituadas porque os polacos, búlgaros, …, passam os fins-de-semana enfiados dentro da cabine e pouco convivem. São outras culturas, mas já os portugueses sabem como é, uns espalha borrachas e assim é que se quer.
Na segunda carreguei em Metz, o que não foi nada fácil pois estive perto de duas horas só para entrar no armazém até conseguir trocar de semi-reboque. Então vim por ai abaixo até Madrid. Aqui continuo, descarreguei ontem à noite e espero ansiosamente carga para Portugal.Até breve…

domingo, 6 de abril de 2008

Como tudo se altera num ápice...

Olá malta...pois é a verdade é que de um pouco pr`ó esquesito tudo se tornou normalmente normal. No ultimo post falei-vos que estava só com o meu Virgulino e pc, mas na realidade aconteceu uma mudança algo radical no fim-de -semana. Acabava eu de publicar a ultima mensagem quando vejo um colega a entrar na área onde eu estava aparcado para igualmente aí passar o fim-de-semana. Como tudo se inverte, já pensaram bem nisso.
E de facto tudo se modificou. Esse meu colega tinha Tv cabo, vimos os canais do nosso distante Portugal e fizemos um almoço digno de um banquete ricaço - tanto que serviu de jantar -, claro está bem regado com um Dão divinal. E o meu Sporting que espetou com quatro para dentro das redes.
Posto isto, fui carregar a uma localidade denominada por estas bandas Kirchheimbolanden. Arranquei às 5h da matina para me carregarem apenas às 13 h da tarde... ossos do ofício pois claro.
Depois lá vim eu abaixo com o Virgulino sempre a embebedar-se de água, o que não é mau de todo dado que nestas circunstâncias nunca caminhará pelo pecaminoso álcool. E pronto, virado a Espanha, particularmente a Valladolid para descarregar na quarta de tarde. Daí não havia carga para Portugal e toca a carregar o reboque para outro subir novamente para a Alemanha porque eu neguei-me, uma vez que estava no meu direito de vir a Portugal, també, não sou nenhum bicho, e no frigorífico já só me restava um iogurte. Mas para me castigarem mandaram-me à boleia...uma boleia de 7 h....MAS TINHA A MINHA MANA E O MEU CUNHADO À ESPERA e só os vejo 3 ou 4 vezes por ano.
E já me esquecia: quando vinha a chegar à Espanha verifiquei que o combustivel estava nas lonas ao que tive que procurar um Ids para encher os gulosos depósitos. Não corria bem esta tarefa até parar para perguntar aos de lá onde ficava este malfadado Ids. Não é que por mera coincidência calhou-me um casal português que me guiou gentilmente até lá..., mais uma vez ele há coincidências.
Bem e amanha vou-me de novo por aí fora.
Aquele abraço do Joni

Mais um presente para quem gosta de literatura...sim sou eu que escrevo, modéstia à parte...eheheheheh


No banco da escola

Sentado naquela cadeira, esquecia
Que o mundo não é só meu
E a vida não é tanto uma utopia
Vagarosamente o tempo cismava
Cada dia parecia ter mais mil horas
E a noite...
A noite um caminho sem fim
Sentado naquela cadeira, sonhava
Cada instante freneticamente vivido
Que eu era o sol
E a terra girava em torno de mim
Eixo de todas as estações
Voz de comando de todas as sensações
Sentado naquela cadeira, viajava
Por mundos imaculados e paraísos
Não queria imaginar um único segundo
Que a vida não é um mal me quer
Não existe o mal
E depois de cada pétala caída
Toda a gente bem me quer
A vida é um navio vagabundo
Que corta a água sem destino
Sentado naquela cadeira, eternamente vivia

Coreia da Fome

Fecha as suas portas a todo o mundo
Não tem muros de betão
Não é uma ilha ignota
É uma desapiedada prisão

Nas ruas longas e desertas
Plantado, o soturno sinaleiro
Só comanda as sombras das suas mãos
Insolitamente absurdo
Porque só o vento desabafa o temor
Não se cruzam carros, não passa ninguém.

No alto dos subidos edifícios
Os cínicos altifalantes anunciam
O grande país, as obras do herói estadista
Que quando morrer será levado por pombas
Até ao paraíso, junto do Deus Budista.

Nos campos, agachados
Labutam os cordeiros subjugados
Esfomeados, procuram nos pantanais
O arroz e o pouco mais

Em todo lado nunca se ouviu
Essa palavra tão simples de dizer:
Liberdade
Mas hás-de um dia se soltar
Dessas amarras grossas
Tiranas.

Ante isso o ar saturará de liberdade
Do céu choverão gotas de alegria
Por agora resta-nos esperançosamente…
lutar por esse dia

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Desta vez calhou-me assim um pouco p`ró esquisito

No momento em que escrevo estas palavras – 29-03-08- estou sozinho para passar o fim-de-semana (único português) numa pequena área de serviço alemã, porque aqui, apesar do país apresentar umas dimensões consideráveis, as áreas de serviço foram feitas para meia dúzia de camiões, ou seja, os alemães apesar de toda a sua reconhecida eficiência e metodologia, quando as projectaram não pensaram no crescimento exponencial que se verifica de dia para dia no ramo dos transportes pesados de mercadorias. Mas, se reflectirmos bem, não há área de serviço que dê vazão a tanta procura, senão lembramos o caso de França, onde a partir das 18 h é quase irrealizável encontrar um lugar para aparcar em qualquer área de serviço. Somos, com efeito, obrigados a dormir nas vias de entrada e aceleração das áreas de serviço e quando a policia se lembra incha camionista que não podes estacionar aqui. Pois não, isso sabemos nós mas não há outro remédio. Ninguém gosta de dormir a ser abanado pelo deslocar dos veículos que passam. Pelo menos eu só gostava de ser abanado para dormir quando era bebé e não podia haver o mínimo ruído, hehehhehehe.
Como dizem os franceses les polices sont comme chiens e sabem perfeitamente que a culpa não é nossa e se não há lugares não vamos ficar no meio da estrada.
Pronto já despejei um desabafo, vou passar a relatar-vos como tenho andado. Na semana antes da Páscoa fui carregar pneus ao Porto para Saragoça. Tudo correu bem até ao momento em que na fábrica onde descarreguei me baterem à porta para me darem a alegre notícia que era proibido dormir no parque da fábrica. Bem, levantei-me em cuecas e só não dei com o ferro de abrir a lona na cabeça do homem porque não o tinha á mão. Mandou-me ir falar com o encarregado e eu fui naturalmente com os olhos todos encovados de 3h de sono. Esse começou a mandar papaias da boca para fora mas eu logo lhe disse que não ia mexer o camião, porque não avisaram antes de eu ir dormir? Os camionistas são humanos disse-lhe eu meio passado e não saio façam o que fizerem….Ainda lá foram bater à porta de outros mas a mim não disseram mais nada. E acima de tudo só pode ser um acto de má vontade visto que lugares não faltavam lá, contradizendo a teoria deles que o tráfego era muito elevado durante o dia no recinto; dada por terminada esta tragédia pedi carga às duas da tarde se possível para Portugal, ao que me mandaram esperar. Esperei até ao outro dia e só no final do dia, porque eu tornei a ligar me mandaram ir para Portugal à boleia, o que era totalmente previsível porque em Espanha a Páscoa começa cedo e ninguém trabalha por esses dias, ao que conclui que não havia cargas nem para subir nem para descer.
Lá vim eu todo contente passar a Páscoa em casa. Sabem que em regra os camionistas que passam os fins-de-semana fora do lar doce lar são portugueses e espanhóis. Os portugueses pagam o preço da periferia.
A minha mãe quase chorou quando me viu, porque eu fiz-lhe a surpresa só lhe dando a boa nova quando estava em Portugal. Tanto rezei para estares connosco neste dia - disse ela jubilada com a notícia. Sei que ela e a minha avó, além de alguns de vocês rezam muito por mim.
Eu não acreditava, mas as mães têm um sexto sentido. È verdade, no outro dia a minha mãe telefonou-me à noite e falou-me assim: - estás bem, não aconteceu nada?, num tom um pouco aflitivo. E não é verdade que tinha avariado o Virgulino, deixando-me envergonhado na Auto-estrada A 31 em França, este desgraçado. Como é que a minha mãe adivinhou que tinha acontecido algo? Nem eu sei…são as tais coisas que não tem explicação.
Lá ando eu perdido novamente…ia na parte de passar a Páscoa em casa, sim senhor, é uma época tão importante como o Natal para mim, embora para a maioria não seja, uma vez que não há prendas. Acho, ou melhor tenho a certeza, que o Natal hoje se confunde com prendas e pouco se lembra o verdadeiro espírito desta época de alegria cristã.
No domingo de Páscoa tive que arrancar à meia-noite à boleia com outro colega para recomeçar a trabalhar na terça em Araia, uma vez que na segunda não se pode andar em Espanha devido aos festejos desta efeméride. Passei a segunda a contemplar a neve que tinha vestido de alba toda a região de Araia. Sem medir posso apontar para cerca de 30 cm de neve que não erro por muito. Mesmo assim, ainda fui beber uma canhas para aquecer o corpo e revitalizar a alma.
Na terça-feira fui carregar pneus a Basauri, localidade fronteiriça de Bilbao para a Alemanha. Devia ter descarregado na quinta, mas quando tudo ia bem encaminhado o raio do Virgulino decidiu deixar-me mal e perdi umas boas horas entre a espera pela assistência e posto isto, esperando e desesperando que me arranjassem o camião. Tanta coisa e o gajo continua a embebedar-se desmesuradamente em água, ai o meu Virgulino! Lá está, era para carregar na sexta e desta forma olhem estou aqui desde ontem quando descarreguei para carregar na segunda a 50 Km daqui…ainda não sei se para Espanha se para Portugal, sendo esta última hipótese a mais improvável.
Mas como vim eu aqui parar? Pois estava eu na pequena localidade onde descarreguei, Herxhheim, típica vila Alemã com paisagem verdejante e moçoilas giras, quando decidi ir perguntar a um alemão que tinha acabado de estacionar o seu camião na empresa ao lado onde podia passar o fim-de-semana, uma vez que não havia por aqui local para tal. Olhem, não é que ele perguntou-me se eu era inglês, heheheh, pois, é que o Inglês dele era bem mais mastigado que o meu, hehehehhe. Mas atenção, quando me dirigia para o local de descarga enganei-me e um senhor já de idade parou o carro e cortou o trânsito para eu dar marcha atrás…à frente estava um sinal de proibição a mais de 3,5T, hehehehh…
E lá vim eu para aqui, entretanto é sábado, cozi umas batatas com bacalhau e ovo, bebi uma cervejola, bati uma soneca valente e decidi escrever-vos.
Agora vou continuar a ler o Misterioso caso de Styles, da Ágata Cristhie, e depois talvez veja um filmezito. Assim passo o fim-de-semana… se fosse em França ou Espanha teria sempre companhia de portugueses, aqui estou alone with my PC and my Virgulino….
Bye Bye que sem dar por ela já escrevi duas páginas…
Forte Abraço meus caros