quarta-feira, 2 de abril de 2008

Desta vez calhou-me assim um pouco p`ró esquisito

No momento em que escrevo estas palavras – 29-03-08- estou sozinho para passar o fim-de-semana (único português) numa pequena área de serviço alemã, porque aqui, apesar do país apresentar umas dimensões consideráveis, as áreas de serviço foram feitas para meia dúzia de camiões, ou seja, os alemães apesar de toda a sua reconhecida eficiência e metodologia, quando as projectaram não pensaram no crescimento exponencial que se verifica de dia para dia no ramo dos transportes pesados de mercadorias. Mas, se reflectirmos bem, não há área de serviço que dê vazão a tanta procura, senão lembramos o caso de França, onde a partir das 18 h é quase irrealizável encontrar um lugar para aparcar em qualquer área de serviço. Somos, com efeito, obrigados a dormir nas vias de entrada e aceleração das áreas de serviço e quando a policia se lembra incha camionista que não podes estacionar aqui. Pois não, isso sabemos nós mas não há outro remédio. Ninguém gosta de dormir a ser abanado pelo deslocar dos veículos que passam. Pelo menos eu só gostava de ser abanado para dormir quando era bebé e não podia haver o mínimo ruído, hehehhehehe.
Como dizem os franceses les polices sont comme chiens e sabem perfeitamente que a culpa não é nossa e se não há lugares não vamos ficar no meio da estrada.
Pronto já despejei um desabafo, vou passar a relatar-vos como tenho andado. Na semana antes da Páscoa fui carregar pneus ao Porto para Saragoça. Tudo correu bem até ao momento em que na fábrica onde descarreguei me baterem à porta para me darem a alegre notícia que era proibido dormir no parque da fábrica. Bem, levantei-me em cuecas e só não dei com o ferro de abrir a lona na cabeça do homem porque não o tinha á mão. Mandou-me ir falar com o encarregado e eu fui naturalmente com os olhos todos encovados de 3h de sono. Esse começou a mandar papaias da boca para fora mas eu logo lhe disse que não ia mexer o camião, porque não avisaram antes de eu ir dormir? Os camionistas são humanos disse-lhe eu meio passado e não saio façam o que fizerem….Ainda lá foram bater à porta de outros mas a mim não disseram mais nada. E acima de tudo só pode ser um acto de má vontade visto que lugares não faltavam lá, contradizendo a teoria deles que o tráfego era muito elevado durante o dia no recinto; dada por terminada esta tragédia pedi carga às duas da tarde se possível para Portugal, ao que me mandaram esperar. Esperei até ao outro dia e só no final do dia, porque eu tornei a ligar me mandaram ir para Portugal à boleia, o que era totalmente previsível porque em Espanha a Páscoa começa cedo e ninguém trabalha por esses dias, ao que conclui que não havia cargas nem para subir nem para descer.
Lá vim eu todo contente passar a Páscoa em casa. Sabem que em regra os camionistas que passam os fins-de-semana fora do lar doce lar são portugueses e espanhóis. Os portugueses pagam o preço da periferia.
A minha mãe quase chorou quando me viu, porque eu fiz-lhe a surpresa só lhe dando a boa nova quando estava em Portugal. Tanto rezei para estares connosco neste dia - disse ela jubilada com a notícia. Sei que ela e a minha avó, além de alguns de vocês rezam muito por mim.
Eu não acreditava, mas as mães têm um sexto sentido. È verdade, no outro dia a minha mãe telefonou-me à noite e falou-me assim: - estás bem, não aconteceu nada?, num tom um pouco aflitivo. E não é verdade que tinha avariado o Virgulino, deixando-me envergonhado na Auto-estrada A 31 em França, este desgraçado. Como é que a minha mãe adivinhou que tinha acontecido algo? Nem eu sei…são as tais coisas que não tem explicação.
Lá ando eu perdido novamente…ia na parte de passar a Páscoa em casa, sim senhor, é uma época tão importante como o Natal para mim, embora para a maioria não seja, uma vez que não há prendas. Acho, ou melhor tenho a certeza, que o Natal hoje se confunde com prendas e pouco se lembra o verdadeiro espírito desta época de alegria cristã.
No domingo de Páscoa tive que arrancar à meia-noite à boleia com outro colega para recomeçar a trabalhar na terça em Araia, uma vez que na segunda não se pode andar em Espanha devido aos festejos desta efeméride. Passei a segunda a contemplar a neve que tinha vestido de alba toda a região de Araia. Sem medir posso apontar para cerca de 30 cm de neve que não erro por muito. Mesmo assim, ainda fui beber uma canhas para aquecer o corpo e revitalizar a alma.
Na terça-feira fui carregar pneus a Basauri, localidade fronteiriça de Bilbao para a Alemanha. Devia ter descarregado na quinta, mas quando tudo ia bem encaminhado o raio do Virgulino decidiu deixar-me mal e perdi umas boas horas entre a espera pela assistência e posto isto, esperando e desesperando que me arranjassem o camião. Tanta coisa e o gajo continua a embebedar-se desmesuradamente em água, ai o meu Virgulino! Lá está, era para carregar na sexta e desta forma olhem estou aqui desde ontem quando descarreguei para carregar na segunda a 50 Km daqui…ainda não sei se para Espanha se para Portugal, sendo esta última hipótese a mais improvável.
Mas como vim eu aqui parar? Pois estava eu na pequena localidade onde descarreguei, Herxhheim, típica vila Alemã com paisagem verdejante e moçoilas giras, quando decidi ir perguntar a um alemão que tinha acabado de estacionar o seu camião na empresa ao lado onde podia passar o fim-de-semana, uma vez que não havia por aqui local para tal. Olhem, não é que ele perguntou-me se eu era inglês, heheheh, pois, é que o Inglês dele era bem mais mastigado que o meu, hehehehhe. Mas atenção, quando me dirigia para o local de descarga enganei-me e um senhor já de idade parou o carro e cortou o trânsito para eu dar marcha atrás…à frente estava um sinal de proibição a mais de 3,5T, hehehehh…
E lá vim eu para aqui, entretanto é sábado, cozi umas batatas com bacalhau e ovo, bebi uma cervejola, bati uma soneca valente e decidi escrever-vos.
Agora vou continuar a ler o Misterioso caso de Styles, da Ágata Cristhie, e depois talvez veja um filmezito. Assim passo o fim-de-semana… se fosse em França ou Espanha teria sempre companhia de portugueses, aqui estou alone with my PC and my Virgulino….
Bye Bye que sem dar por ela já escrevi duas páginas…
Forte Abraço meus caros

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