quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Infelicidades...


Só acontece a quem anda na estrada, e sou muito sincero a admitir que a única coisa que me afligia o coração era a forte possibilidade de ter um acidente nesta profissão. Temia por mim, mas principalmente receava pela responsabilidade de poder contribuir para a morte de outro semelhante.
Infelizmente as últimas semanas não foram animadoras para os camionistas, pois relataram-se alguns acidentes ocorridos com motoristas portugueses nas estradas europeias. E mais uma vez, como é hábito intrínseco de alguns basbaques faz-se uma generalização, empolgando-se ainda mais o aparato.
Senti-me triste aquando daquele compatriota que teve a fatalidade de se ver envolvido num acidente que segundo tudo indica não foi sequer provocado por ele, sendo no entanto induzido a um embate por um acidente que tinha ocorrido uma hora antes. Se um local acidentado não está devidamente sinalizado torna-se um perigo mortífero para os outros condutores, facto que parece ter ocorrido uma vez que um veículo pesado não circula a mais de 90 Km/h, no entanto também não trava…vai travando. O problema é que o motorista é português e só por isso já é culpado, uma vez que em Inglaterra o culposo é sempre o visitante. Só tenho pena que o governo português não consiga afrontar o sistema inglês, como eles nos fizeram aquando do vergonhoso caso Maddie.
Hoje foi mais um colega a ver-se envolvido em Espanha num embate com uma carrinha que transportava seis patrícios para mais um regresso junto aos seus. Não chegaram porque o destino foi cruel. Paz às suas almas.
Porém, invariavelmente, a tendência foi injuriar logo o motorista do pesado que seguia descansado o seu rumo quando uma carrinha entrou em despiste, galgou o separador central embatendo violentamente no pesado de mercadorias que seguia calmamente na sua via de circulação. Trata-se mais uma vez de uma questão de iliteracia, há muitos portugueses que não sabem interpretar informação, dado que os camionistas são humanos e por isso também têm pontos fracos, estão sujeitos a erros. Neste caso, todavia, foi uma vítima. Atenção, os acidentes acontecem a todos e os que mais falam provavelmente não conhecem nada, nunca saíram de Portugal, porque asneiras todos fazem e por toda a Europa. Apenas temos conhecimento de casos envolvendo malfadados portugueses, daí que assim se opine.
Lembro-me uma ocasião que vinha em direcção a Portugal, nesta mesma estrada, e espantadamente via passar uma carrinha que me ultrapassava e aos outros numa velocidade quase furiosa. Achava eu estranho, todavia, que mais à frente essa carrinha estivesse parada num parque. A cena repetiu-se vezes sem conta até perto de Fuentes de Onoro onde deparei com a carrinha despistada numa recta aparentemente sem qualquer perigo. Provavelmente se tivesse vindo um camião de frente já se arranjava um culpado automático. Infelizmente quem culpa outrem sem conhecimento de causa – normalmente são tipos Chico espertos que vão deitar as mãos à cabeça quando perceberem que também lhes acontece e afinal não são tão exímios na condução como se julgavam – são muitas vezes os stressados que me apitavam em Lisboa ainda o sinal estava vermelho, que não facilitam a inserção nas vias rápidas, que vêem a dois Km e batem luzes para passar/ultrapassar a alta velocidade, que buzinam atrás quando está difícil de progredir num cruzamento.
Enfim, o que falta mesmo é civismo.

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