sábado, 18 de outubro de 2008

Não é fácil...ainda me arrepio

É verdade, por vezes torna-se doloroso mudar de vida. Não é deveras fácil. Ainda sofro arrepios cortantes na espinha quando passo a roçar as grandes rodas de um camião.
Fico nostálgico pelos momentos passados. Mas enfim, agora resta-me olhar em frente e seguir o coração guiando-me também pela frieza do raciocínio.
Nunca vos disse que tenho um problema de saúde que me afecta desde petiz e que se aguçou ainda mais com o tempo. Ouve uma altura que mal conseguia respirar e sentia-me afogado da garganta. Afectou-me de tal forma que era frequente afastar-me dos lugares mais sociais porque pensava que o incomodo também se transmitiria a outros uma vez que não parava de tossir e fazer força na garganta para tentar libertar uma espécie de massa altamente pegajosa que me afogava e tentava desesperadamente expelir sem êxito.
E sabem uma coisa, a doença é crónica e apesar de já ter sido operado fiquei na mesma, mas, sem explicação, pouco me afectou nas minhas longas viagens, pelo menos da forma como me afligia antes. Não sei se dos ares se por alguma força mental e pela fé que me guiava por aí fora (nunca tinha tido tanta fé),…, de facto algo mudou em mim; talvez tenha sido a adrenalina de muitos momentos, a forma como tanta vez vi que a vida é tão cruel e efémera e que apesar de tudo à gente com piores enfermidades e destinos.
Uma vez deu-me vontade de chorar quando vi um colega francês esmagado pelo diametralmente grande volante do seu camião num embate com outro camião. A expressão daquela cara não me esquecerá enquanto viver. Foi a sua ultima expressão, um estímulo de agonia e de desespero. Aprendi a dar mais valor e apreciar a vida.
Como foi ele poderia ter sido eu, mas não fui e continuo aqui feliz por continuar a viver. Posso andar engasgado mas continuo a viver profundamente.
É tão bom sentir o ar a entrar pelas narinas e inundar os pulmões de vida!

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