quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Hoje fui inundado por palavras….

Estou agora submerso, depois de uma hora e meia mergulhado num mar de palavras delirantemente tocantes. Pois bem, acabo de me libertar das amarras ternurentas de uma palestra sobre literatura portuguesa na modernidade.
Estou efusivo e siderado com a profusão de palavras que voaram como borboletas espelhadas por todos os cantos e recantos da sala até ao meu ouvido.
A escritora, todos conhecem, Lídia Jorge. Confesso que possuo desde há longo tempo um livro da autora, contudo não havia ainda conseguido ultrapassar o muro da primeira página. Acho, porém, que com o empurrão que levei conseguirei saltá-lo bem mais alto, quase a tocar no limiar das palavras mais soltas.
A verdade é que hoje, e apesar dos dolorosos insultos dos últimos tempos, vi, mais uma vez, quão bonito e desafiante é ser professor. Mas, de igual forma, comprovei que, foi a lucidez dos meus conhecimentos que me impediu de ficar de quedo e me levou pelos caminhos da Europa para ver o que há muito me tirava tempo de sono. Sim, no lugar de ficar à sombra do desemprego larguei a própria sombra e escondi-me para não me apanhar. Fui sorrateiro.
De facto, ou nos deixamos formatar pelas vicissitudes ou somos audazes na busca do que não queremos deixar por fazer.
E podem perguntar o porquê dos camiões. Pois, na verdade, desde pequeno que escorria em mim essa paixão, pelo que passava horas incontáveis a ver e ouvir as majestosas scanias a assobiar ferozmente em direcção a um mundo além, maior que o da minha aldeia. Consumia-me a direcção incerta daquele roncar: Espanha, França, Itália.
Mas o que mais saboreei foi entrar dentro daquele mundo e desmistificá-lo, porque aos comandos de um camião não vão grunhos nem brutamontes, vão pessoas corajosas, vivendo perigos e desejando matar o tempo para rapidamente voltar aos seus, aos que amam.
Nunca mais me esquece de uma temperada conversa que ouvi ao longo de um regresso de Itália. Ouvia, a viva e toante voz dois companheiros a falar de actores de cinema e ficara espantado como pareciam ser donos de um conhecimento que a mim me ultrapassava. No final parei, já perto de Salamanca, para jantar e vi descer das cabines dois senhores com ar de sessenta anos! Com o correr do tempo conheci companheiros com a quarta classe ou pouco mais classe verdadeiros poliglotas, donos e senhores de uma cultura geral de fazer inveja a pessoas com mais tempo de estudos.
Foi isto que aprendi, a colocar-me no lugar do outro e viver as suas dificuldades, os maus momentos, as alegrias, porque só assim compreende e respeita o mundo.
Termino com uma expressão da escritora: “fiquei com mais teclas no meu piano”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo blog!

Fifth_wheel

Joni disse...

Bem-haja :)

A Contemplação da Árvore disse...

Algo para relembrar. =)