domingo, 3 de janeiro de 2010

Balanço do meu ano...

Se me pedissem descrever o ano que se findou em duas ou três palavras, diria, sem qualquer espinha a picar a garganta ou papas quentes na língua, tratar-se de um ano “cheio de vida”.
Tinha eu acabado, de forma pouco esperada, de largar uma vida vivida pelos quilómetros das estradas do velho continente – amuralhado entre os cimos dos montes Urais e a vastidão do oceano Atlântico – para me dedicar novamente ao ensino, nos reinos abafados pelo clima quente das baixas terras algarvias. Durante toda a minha vida restringira-me às terras cimeiras da Beira Alta e à romântica cidade de Coimbra, que vestida pelas negras capas dos estudantes me deu guarida no seu ventre por uns eternos cinco anos. Falo de anos de amizades e camaradagem inesquecíveis, que aliados aos camiões, me ofereceram amigos, um pouco por cada canto e recanto de Portugal. Das aulas da faculdade, tenho saudade de uma meia dúzia, que não se afunilavam em leituras dormentes de sebentas amarelas, quiçá pelo papel envelhecido, dando conta do tempo em que foram escritas. Provavelmente já lá iam longos anos.
Após tantos anos, quis o destino dar-me este novo paradeiro. Senti-me pela primeira vez realizado enquanto professor nas aulas de Geografia do 10º ano, onde a relação que se estabelece com os alunos é mais a meu jeito. Ouviam e retribuíam em sinal lícito dos bons ensinamentos.
Quis o meu fado que este ano voltasse ao terceiro ciclo. As burocracias são mais e os alunos sobremaneira complicados. Penso que o grande mal é a falta de educação e o facilitismo que vingou na nossa sociedade. Mais tarde vamos pagar a factura desta nova ordem mundial, em que os papeis se inverteram. Os alunos estão ao nível dos professores, dedica-se mais tempo aos alunos que não querem aprender – porque para os que tem dificuldades há ajudas específicas – e os bons alunos acabam por ver reduzido o seu potencial. Agora a moda é ser mau e ter notas reles. Caso contrário a malta não é fixe.
Talvez os mais iluminados pensem que tudo se aprende nos computadores e na internet e a escola serve para entreter os alunos; é cada vez mais o papel de um professor, ser animador.
Pagam-me para isso, e, contudo, sinto-me um felizardo no meio de tantos portugueses que não tem como comprar o pão para alimentar as bocas da família.
Nos entretantos decidi iniciar uma formação de instrutor de condução automóvel – que me roubou muitas horas pós laborais de Abril até Outubro – da qual ainda espero o resultado do primeiro exame, que, por sua vez, me dá acesso a um segundo exame de cariz prático.
Socialmente vivemos um ano conturbado, no qual a crise atingiu o seu máximo crítico, segundo os mais entendidos na matéria. Seja como for, a crise só existe para alguns, como é do conhecimento de todos.
Continuamos a ter uma justiça injusta e protectora dos gatunos, assassinos e corruptos. Este é o nosso Portugal: um polvo de corruptos com tentáculos longos e aniquiladores.
Para último deixo o melhor que me aconteceu pelas planícies quentes do Algarve. Aqui conheci a minha cara-metade, a quem agradeço muito pelo aguentar do meu mau feitio.
Daí, foi um ano cheio de Vida.

4 comentários:

AmSilva® disse...

Bem isso não é apenas um ano cheio de vida, mas sim uma vida cheia de vida!!
Confesso que nos meus tempos de aluno fiz a vida dificil a alguns professores, mas acho que valeu a pena... o tempo que os aturei !!!
De Portugal não se precisa de repetir o que já foi escrito... estamos cada vez pior!
No resumo:
Bom Ano 2010 e se não igual que seja melhor!!
Abraço

A Contemplação da Árvore disse...

Se eu descrevesse este ano que passou em três palavras diria que foi um ano "cheio de surpresas".
Acho que não foi por acaso que abandonaste a roda para voltares ao ensino. Fizeste amigos e conheceste a tua cara metade Hehe e isso já faz valer a pena.
Foi um ano cheio de surpresas, porque não estava nada á espera do que foi acontecendo...conheci pessoas extraordinárias que me mudaram, em parte, a forma de pensar. Fiz amigos, e penso que, verdadeiros amigos. Fazes parte da lista, mas não o vou dizer mais, pois ficas muito vaidoso. Hehe
Fui a um sítio extraordinário que nunca irei esquecer e que mudou muito a minha forma de olhar para o meu dia a dia.
Por fim, se não me esqueço de algo mais, consegui o que nunca pensei que algum dia iria ter...não fazia parte dos planos. O livro...O que também posso agradecer a ti que me foste e vais sempre apoiando.
E olha, com o teu post, já consegui fazer algo que nunca tinha conseguido...um balanço do ano que passou e vi que não foi nada mau, do que é que me posso queixar?
Beijos e obrigada. =)
Ahhh...e que este que vem ainda seja melhor que o que passou. Hehe

Anônimo disse...

Nem sei muito bem o que diga!Em relacao ao ensino estou num pais em que os professores levam porrada dos alunos e ate vao presos pelas difamacoes que os alunos inventam,acreditem que Portugal nao e assim tao mau!Pelo que tenho lido de si a uns meses a esta parte o meu "juizo "em relacao a si...e que voce e um homem lutador e que nao baixa os bracos para coisa nenhuma...crise qual crise?...voce nao deixa que isso aconteca porque o que importa e nunca parar para nao morrer,isto faz-me lembrar um refrao de uma cantiga de um amigo pessoal"quem canta sempre se levanta,calados e que podemos cair"!!!!Abraco apartir do Reino Unido!!

Joni disse...

Amsilva: estive a ver um video da GT ronconoite, que espetáculo.
Bom ano e muitos Km.

Susana: Se este ano qua passou foi bom desejo que o próximo seja ainda melhor.
Boa sorte pelos caminhos da escrita.

Caro anónimo:
Realmente na Inglaterra o ensino está pior que em Portugal, mas pelo menos a corrupção não é tão grassa como cá pelo nosso canto à beira mar plantado.
Sei bem o que é ser emigrante, ou melhor comprrendo o espírito.
Lembro-me que quando chegava a Orleans na França e começava a ouvir a rádio portuguesa até a mim me fazia lembrar da minha aldeia e das gentes que deixamos lá. Imagino quem está um ano fora.
Boa continuação e bom ano.