Nas amplas ruas da cidade que se move
faz a sua casa,
em cada canto uma divisão
é o Zé do Povo
não se sabe o verdadeiro nome,
ninguém lhe conhece família
come restos que vasculha no caixote imundo
é o seu pão, as gotas de vinho
O seu cabelo é bem longo
mas não tanto como a idade
dorme no telheiro da paragem
cria nele a cama de rotina
não se aquece com cobertores de lã
aconchega-se com um gasto papelão
Adormece e esquece o mundo
não aquece mas por momentos esquece
é doloroso combater o frio com solidão
só as lágrimas são quentes
até que se apaga
cerrando os olhos
com o ultimo gole de vinho
e o sopro no borrão
que sem lume morre com a exalação
O Zé vive o dia em liberdade
sem amarras e sem leis
toda a gente o conhece
é o Zé do Povo
nem se sabe quem foi seu pai e mãe
é um filho de ninguém
Lá vai ele deambulando
cantando uma triste canção
seguindo sempre o mesmo caminho
há quem o chame louco
Lá vais ele
esperando pela noite
toda a gente o conhece
e sempre a mesma solidão
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