sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Valensole - France



Aos meus caros amigos que se lembram de quando com elevada emoção falei da minha viagem aos Alpes franceses aqui fica uma imagem, que, na aparência, copia toda a descrição sublime que vos pincelei com simples palavras.
Pena minha que na altura não me fazia acompanhar de um instrumento capaz de vos reproduzir tudo o que tenramente vos disse em imagens. De qualquer maneira deliciem-se aqui com o que estes lindos olhos contemplaram e tanto dispersaram para a lua a solidão de camionista.
Será um sítio idílico que um dia visitarei com tempo. Se por ventura na velhice alcançar a reforma passá-la-ei com aventurança dentro de um auto caravana Europa dentro.
Voltando a Valensole – nome que deve a sua génese a Vale do Sol – tão cedo não me esquecerei do que vi por lá. A estrada chegou a pontos de se enfezar num retalho estreito de alcatrão, donde o Virgolino se acanhava para deixar passar os ligeiros em sentido contrário.
As gentes são como ainda não havia tido prazer de conhecer em França, sempre com um sorriso largo e sincero.
Já o Virgolino suava as águas do radiador parei para perguntar a uma senhora se estava no caminho correcto. Era uma pequena e rústica casa comercial onde se vendiam produtos naturais, donde o aroma que afluia se parecia intimamente com alfazema. Pequenos panos e retalhos de rendas coloridas, ervas aromáticas, jarras, cheirosos sabonetes naturais, presenteavam quem chegava. A senhora viu logo que eu era português e com muita calma e simpatia disse-me – num francês meio espanholado – que ia bem, acrescentando ainda algo o que eu não fazia penca de ideia: o destino era um armazém e laboratório de mel. Despedi-me sorridente porque sorridente fui acolhido, o que nem sempre aconteceu em França.
A dois quilómetros adiante cruzei-me com a placa Valensole e como não vi nenhuma proibição a pesados decidi insinuar-me de sorrateiro até ao meio da vila na ideia de me informarem do cliente. Pois bem, as ruas começaram a adelgaçarem-se e logo que os labirintos se fundiram num largo à medida transversal do Virgolino parei a marcha. Em frente ficava uma farmácia; desci, juntaram-se as gentes mais idosas para contemplar o espectáculo gratuito e a senhora farmacêutica, que pelo que percebi era gente muito respeitada por nestes termos, veio cá fora para dizer o que eu ansiava. O cliente que procura é lá atrás já passou por ele – disse afavelmente. Por seu turno, o espaço era tacanho e todos, farmacêutica, clientes, passantes, automobilistas e crianças davam palpites para onde deveria deitar a direcção do Virgolino.
Depois de quase me acoplar à farmácia – edifício de pedra restaurado e de bom gosto adornado - dei a volta à ré e quinhentos metros atrás avistei o cliente. Veio receber-me um jovem erguendo no pequeno empilhador uma camisola do Marselha. Depois de um diálogo falhado chamou uma rapariga que me apareceu a falar português. Fiquei a saber que se casara com um português genuíno. Foi a minha salvação.
Só ninguém me conseguiu salvar de tirar o Virgolino dum sítio onde entrou à justa entre os carros e as paredes do edifício. Agora tentem imaginar tirá-lo para trás à esquerda, sem conseguir enxergar chavo pelo espelho.
Depois de trinta minutos e pingos de suor pirei-me para Viviez, descendo abruptamente para ligeiro voltar a subir vigorosas vertentes alcandoradas nas serranias que sinuosamente me conduziram até ao Viaduto de Millau. Era proibido que os pesados ali parassem mas eu, que me perdoem lá os genros da Maria (Gendarmerie) não consegui resistir ao acto criminoso e por ali parei.
Assim conheci parte dos celestiais Alpes de França.

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