sexta-feira, 13 de março de 2009

Música Viajante

Rompo o tempo e os testes para vos falar de música, especialmente aqueles sons que beligeravam arduamente com o rocar de vida do Virgolino. Dificilmente o abafava.
A música é, para mim, uma arte divina, um hino de magnificiência. Tanta música inundava os meus ouvidos e se despenhava na alma durante as longas viagens.
Por vezes – muitas que foram – conseguiam transportar-me para um mundo além, um mundo que me fazia esquecer o grande volante, a linha contínua e descontínua, o assobiar das ultrapassagens, os horários rígidos, os minutos a mais, a ausência, a estrada, a policia.
Um mundo enorme de libertinagem do espirito no seu estado mais límpido e sensivel.
Tratava sempre de destinar um artista ou grupo para me fazerem companhia durante os doze dias que deambulava nas curvas do asfalto europeu.
Zeca Afonso, o mestre da intervensão portuguesa, que fez da música uma arma mordaz, espalhava liberdade por cada bafo de ar da cabine do meu camião. Cantigas de Maio, Maria Faia, Vampiros… e eu acompanhava, pese embora por muita pena minha não ter voz para a música. Sou daqueles que estrago.
Numa viagem que fiz à Alemanha destinei os dozes dias, doze horas de ABBA por dia. Aquelas músicas simples mas melodiosas que repelem o mau estar e atraiem como um potente íman a alegria de viver uma vida nem sempre fácil. Música após música e volvia ao início dos albuns durante doze dias, doze horas por dia. Uma incessante repetição que não cansava.
Cantava ao infinito do horizonte, dos montes e vales dos rios e ria-me sozinho. Uma altura dei comigo a rir-me tontamente e não sabia a razão. Também não tinha dado nenhuma passa nas ervas de folha redundantemente triangular que fazem rir. Estarei louco – pensei cá para os meus botões. Não estava, apercebi-me sensatamente. Era tão só o efeito dissolvente da tristeza presente na música. Melodias que me elevavam e sideraram ao um estado de satisfação ilimitado.
Quando não ouvia música falava para o GPS e berrava como um louco com os outros passantes das estradas. Falava abundamente julgando-me um Deus a corrigir todas as manobras desses outros que mais não eram senão outros cavaleiros do asfalto, uns maiores outros mais pequenos, mas todos membros da mesma tribo. Lançava todas as pragas mais maliciosas e espezinhava a língua desfazendo-me em palavras à Norte.
Outra semana seria Bob Dylan, aquele que a partida não tem voz de cantor compensando essa pecha com letras únicas e de grande fundo afectuoso e crítico.
A terna e pausada voz do Caetano transbordava-me do meu mundo para um outro mundo que existe a par meu, que se esquece porque é triste, tardando a sua solução, caso algum dia chegue.
Liderando o meu Top os velhinhos Pink Floyd, aquilo que eu considero, como uma certa vez ouvi a alguém – que me perdou-e pois já não sei quem foi – muito mais que um estado excelso da música: a tranfiguração da música num estado de alma.
A descer os Pireneus calhava sempre bem um cheirinho de adrenalina dos Xutos, os dinossauros do Rock nacional, que nunca me canso de ouvir, simplesmente porque não cansa e prontos.
A Amália, a eterna e imortal vóz de Portugal, a alma lusa da música. Adoro a voz que é a vos de todos nós porque todos nós temos a Amália na voz.
Não raras vezes interronpia os cds para ouvir as rádios portuguesas lá Fora, em Orleans e Paris ouve-se a nossa língua, assim falada tal e qual como no nosso pequeno Portugal. Tão bem que sabia até ouvir o folclore nacional em terras alheias. Sentia-me mais próximo de casa.
Foi entao que compreendi o que é ser emigrante e ter a lágrima no canto do olho quando ouvimos a nossa língua fora do nosso país e temos orgulho nas nossas raízes, sempre a contar os dias, as longas horas e segundos para ver de novo a placa Vilar Formoso….o cheiro de Portugal.

2 comentários:

AmSilva® disse...

Revejo-me em muitos aspectos deste post
Grande excepção á parte dos emigrantes com a lágrima no canto do olho, isto porque ao final de 10 anos nestas estradas a encontrar de tudo, mas mesmo de tudo, posso contar pelos dedos, e acho que os das mãos chegam as vezes que se encontram emigrantes com esse sentimento, ainda vai havendo alguns que sim, nutrem por Portugal não um carinho mas sim um amor, mas a grande parte, a maioria esconde a raiz das suas origens, infelizmente devo dizer, mas é assim que tenho observado estes anos todos os emigrantes e descendentes também, apesar de que há nos descentes , nesta última geração algo que os chama a Portugal, conheço alguns pessoalmente, nasceram fora, vivem fora, mas vibram com as férias que com os avós podem ter em Portugal, quando questiono a minha sobrinha por exemplo acerca disso ela apenas diz: Portugal é lindo, identifico-me como portuguesa apesar de nascer fora, aprendi o português, não apenas pelas férias mas por algo que me faz sentir bem lá, espero os 18 anos para ir para Portugal, apesar de saber que não está com muitas condições de vida!

E esta, hein?
Abraço

Anônimo disse...

Joca online...por agora. Ontem vim cá ler mais este fantástico post teu mas achei que não teria a minima capacidade para deixar um comentário porque há coisas que não necessitam de ser adornadas ou complementadas com algum tipo de comentário...por isso aqui coloco um em que assumo que o meu camiãoprecisa tanto de musica como de gasoleo para rolar...e o resto é treta. è sangue que nos corre nas veias.

Cao k Fuma