domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sinais do Tempo - Intempérie na Madeira


Sinais do tempo - trata-se de um documentário televisivo que durante muito tempo segui fanaticamente na RTP2. Comia e digeria todos os assuntos ao sabor de um cremoso e delicioso chocolate Suiço. À uns tempos atrás descobri, enquanto pressionava os minúsculos botões do comando da caixa mágica, que tornava a passar, agora na RTP Memória.
Falava da mudança, da diáspora, das migrações, da explosão demográfica - nos ultimos sessenta anos a população cresceu a um ritmo alucinante, tanto que se assemelha a uma explosão em que cada partícula é mais um ser humano que germina -, do expansionismo capitalista, da suburbanização e rurbanização, do desenvolvimento e do subdesenvolvimento.
Punha a nú a face visível e invisivel do nosso mundo, o fosso entre os que sobem na hierarquia da riqueza e os que perecem de fome,perante a indiferença de todos.
São sinais do tempo, da evolução do bicho Homem.
A terra tem neste momento 4,6 milhões de anos. Para entendermos a acção humana, basta pensarmos que se a Terra tivesse hoje 46 anos, o homem iniciaria a sua saga neste planeta à cerca de 4 horas, a Revolução indústrial teria acontecido à 1 minuto, nos últimos segundos o Homem multiplicou-se como formigas dizimando os recursos naturais que equilibram o sistema natural do único planeta onde existe uma componente denominada biosfera.
Hoje, o tempo, não o tempo cronológico mas o estado do tempo da atmosfera, também dá sinais de rupturas e mudanças, invertendo com o equilibrio natural.
A Terra aquece, as calotes de gelo polar degelam, as cheias são cada vez mais aterradoras - em parte devido à implantação de povoamentos em regiões ribeirinhas, em leitos de inundação, nos domínios do mar revolto - pequenas ilhas e ilhotas vão desaparecendo, as secas são anómalas, são comuns as vagas de calor, as vagas de frio semeiam morte, ciclones afligem a Europa e já nem se distinguem bem as épocas tradicionais das quatro estações.
Já vimos escoadas lamacentas levarem na frente da sua fúria favelas inteiras na América do Sul e até em Ribeira de Pena, cá no nosso rectângulo, ou, mais recentemente em Itália, com as pesoas a verem as suas casas e o seus haveres desmoronando-se como um velho castelo a cair perante os arietes inimigos.
Desta vez foi a nossa pérola verde do Atlântico que se debateu com a firme severidade das fortes e intensas chuvadas que engrossoram os caudais fluviais,que, por seu turno, venceram o seu leito normal, galgando as margens, desafiando todos os obstáculos naturais e humanos, impotentes perante a supremacia inelutável das forças destruidoras.
Dizem os que viveram de perto esta tragédia que parecia estarem a assistir ao fim do mundo, um apocalipse não anunciado nas professias religiosas; ninguém se lembra de ver cair tanta água em tão curto espaço de tempo. Ora, como a pluviosidade têm sido farta nos últimos meses, o solo encontra-se saturado de água e, como tal, não tem capacidade para absorver nem mais uma gota. Assim, toda a água que entra em contacto com o solo, simplesmente escorre, aumentando grandemente os caudais das linhas de água que sulcam duramente o relevo particular da ilha da Madeira.
Como não podia deixar de ser, as televisões, no lugar de fazerem um trabalho integro e respeitador, montam logo um verdadeiro espetáculo mediático, repetindo vezes a fio as mesmas reportagens, fotografias e testemunhos. Talvez a intensão seja mesmo chocar, ou será mais que isso, machocar.
Dá vontade de chorar ao vermos tanta destruição e a consternação atinge-nos ao vermos como um esforço de uma vida de sacrifícios pode ser desfeito em escassos segundos. Agora é respeitar os mortos, levantar a cabeça, deitar mãos á obra e reconstruir novamente a idílica cidade do Funchal.
Fico deveras espantado pois, mesmo nas horas de pranto e aflição, há sempre quem seja vorazmente capaz de culpar a governação por estas catástrofes naturais, como se o Homem alguma vez tivesse tido força para as enfrentar de igual para igual. É claro que tudo deve ser planeado, pensando na prevenção, porém, situações destas são anormais e para as evitar seria preciso aceitar um novo paradigma no planemanento urbano, que negaria contrucções em grande parte das áreas actualmente urbanizadas: vertentes fortemente declivosas, todas as zonas ribeirinhas, territórios litorais. Porém, a orografia das ilhas obriga a que as contruções sejam implantadas em vertentes de elevada inclinação e quiçá a sua beleza, o belo panorama do seu património construído esteja nessa morfologia agreste, onde o homem foi cimentando as suas habitações e os seus sucalcos de cultivo.
Enfim, à que criar formas de prevenção, mas as anomalias não são previsiveis nem tão simplesmente se lhe pode medir a força.
É este o mundo de mudança onde vivemos, são os sinais de um tempo com estados de tempo de baralhados.

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