José morreu calado
Culpado pelas palavras que dizia
Não usava coldre nem facas
Mas falava em tom afiado
Morreu
E ninguém quis saber
Sozinho, indefeso dos carrascos
Só a pedra lapidada,
Espirrada de palavras
Triste fim testemunhou
Quem desce a calçada
Já não a vê rubra
Está lavada das palavras
Mas não esquece o saudoso Zé
Perseguido até aos cimos da serra
Quis o destino que sucumbisse tão longe
Além do mar
Longe dos seus, da sua terra
Disse sarcasmos aos agarrados do poder
Não pensava mal quando o fez
Era a verdade que queria narrar
Mas a uns quantos tocou na ferida aberta
E para isso não há remédio
Tamanho intento fez doer
Mesmo quem não quis saber
Não consegue esquecer
Das palavras fortes que dizia
Há-de um dia agradecer
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