sábado, 1 de março de 2008

E tudo e de tudo me aconteceu…

Não há dúvida: tudo e de tudo me aconteceu. Vamos lá então a isto, começando a desenovelar a história pelo início.
Esperando à dias pelos malfadados documentos dos camiões, eis que chegaram numa quinta à noite, dia 14 de Fevereiro, e logo nos mandaram arrancar com uma carga de rolos de eucalipto que bem poderia ter ido na segunda e dessa forma evitar passar logo um fim de semana fora por um mísero dia. Enfim, mas eles é que mandam…
Nem tudo é mau visto que o fim-de-semana até acabou por ser cheio de momentos pincelados de graciosidade. Seja como for tenho-vos a dizer que quando sai pela fronteira de Vilar Formoso me pareceu colocarem-me uma venda nos olhos, tal foi a forma como me afectou uma cegueira mental fruto dos fervorosos nervos. Só para entenderem parece que nunca tinha passado naqueles sítios nem algum dia ter visto com os meus olhos tais sítios e estradas. E mais deu-me vontade de chorar, não por tristeza mas um soluçar de quem parte sem saber se volta, como tudo vai ser e se vai passar. Contudo enchi o peito de ar e vamos a volver caminho. Dormi em Valladolid e de manhã pelas nove horas está a andar que se faz tarde. Tudo corria bem até entrar em Zaragoça pela parte mais difícil, o meio da cidade. Não imaginam o frenesim de trânsito e o desgovernado turbilhão de pessoas. Acho que andei por ruas onde em nenhuma altura teria circulado um camião. As pessoas ficavam estupefactas a ver passar aquele comboio sem linha férrea mas com rota traçada no alcatrão. Foi terrivelmente terrível o momento em que pensei que já só um helicóptero me salvaria daquele inferno. Tudo acabou por se passar bem e lá cheguei ao cliente, na periferia da cidade, neste caso uma grande indústria de papel. Não queiram é imaginar o trabalho que deu a descarga, porra não foi tarefa nada mimosa abrir as lonas todas o tecto e depois varrer o interior da galera. A sorte foi estar lá um colega da empresa que me ajudou e explicou como tudo funcionava. Querem saber a melhor: segunda vou outra vez para lá, hehehheeh. Desta vez levo fato de macaco, para não tornar a ficar com o meu pólo azul bebe e calças clarinhas pretas como carvão, loolo.
Mas atenção, nem tudo foi mau. O fim-de-semana acabou por ser muito fixe na companhia do meu amigo Verdinho (João Paulo) que me acompanhou no seu camião até este cliente e do senhor Fernando, o típico castiço com TV cabo na sua casa ambulante. Posto isto comemos, tomamos um merecido banho e fomos ver as miúdas que chegavam em excursões e viagem de finalistas ao restaurante e hotel. Ficámos num ponto de passagem do trânsito para a zona de Barcelona, estão bem a ver não é, hehehheh. Ainda conheci um companheiro da Armiela (cisternas espanholas) que depois voltamos a ver em Barbezieux no Centre Routier a quem divulguei este blog. Se leres estas palavras que por aqui escrevo deixa cá um comentário! E mais uma vez vos digo que os camionistas, grande parte, são tudo menos incultos, ao invés, são sobremaneira ágeis de raciocínio e ricos em conhecimento. Infelizmente alguns não tem é o seu sentido cívico apurado tal é o estado lastimoso em que se encontram as áreas de serviço, cobertas por um manto pouco esparso de lixo.
Passámos uma hora a beber umas cervejas e comentar o estado do país e concluímos que se tem de fazer de tudo para ganhar a vida, pelo menos quem quer levar uma vida sã sem cair nos meandros do facilitismo e compadrio enraizado que infesta o nosso país. Até nos lembramos daqueles colegas de liceu que eram zero e hoje vemos em lugares de destaque e diversos organismos públicos e aí vem mais uma vez à ideia que enquanto assim for não vamos a lado nenhum. Prefiro ser camionista e ter mérito que andar a lamber os sapatos vítreos de alguém ou a dar cabritos e borregos para trabalhar e andar de gravata com a toda a gente a dizer ó Sr. Dr. Para aqui e para ali. Quando isso acontecer há-de ser por mérito e pelo imenso valor que tenho… e dispenso a parte do Dr., hehehheeh. E cá ando eu em divagações outra vez…
Continuando…de Zaragoça fui carregar a Vitória para Gent (Gand) na Bélgica. Para passar Paris foi preciso uma tarefa hercúlea de agilidade e forte paciência. Depois em já na Bélgica passei por cima de uma rotunda numa pequena localidade e vi-me à tabela para conseguir virar. Porém cheguei a tempo ao cliente. Ao outro dia carreguei no mesmo local e aqui sim surgiram os problemas: o tecto da galera não subia certo, ficava arqueado ao meio, e por isso não me queriam carregar, andando por ali a engonhar. Os Belgas não admitem um erro mas também não tentaram ajudar apesar da imensa gente que por ali circulava e apreciava o panorama. Vi-me e desejei-me até que num ápice subiu-me uma gana pelas entranhas a cima agarrei numa régua e com uma força que ainda agora não sei donde surgiu levantei o tecto na sua parte central e uma rapariga fez o que o colega de turno não tinha conseguido fazer. Mas sabem o que me ficou gravado deste local, não foi estes momentos de caca que ali passei - e foi a única altura em que me senti desamparado – foi uma menina que andava com um camião a recolher paletes estragadas e que me lançava um sincero sorriso cada vez que passava por mim. Eu retribuía e naqueles momentos esquecia-me do inferno em que estava metido por hora, lolololololo.
E da Bélgica voltei para a Espanha, desta vez com destino a Burgos. Passei mais um fim-de-semana louco e depois foi esperar carga para Portugal, coisa que aconteceu na quarta. E para que as coisas dessem tive que desobedecer a ordens de um controlador, pois se fizesse como ele queria, fazia mal e nunca estaria a horas no cliente, mas eles é que sabem…
Entretanto, estou em casa desde quinta à noite e abalo segunda de manha.
Fico por aqui que já me aclamam por mim para preencher o IRS.
Adeus

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